É preciso morrer
Apenas um pouco
De tanta coisa que falece em volta
Que a tão vida aqui dentro, descombina
Não harmoniza o suficiente
Para impedir efeitos lá de fora
Inflando um balão no peito
Oprimindo o coração esquerdo
A mente que resiste
Quase vegetativa entre os animais...
Em casa de solidão
Música é multidão
Poesia, falatório
E o silêncio,
Uma prece para deus nenhum...
Alguém disse em voz baixa
Que o homem busca o seu isolamento
Sua experiência,
a estrada que leva a isso
Ou por vontade própria,
Ou por desesperança
Jamais por causa do destino
Esse implacável sentido
Que não ousamos transformar...
Não admito obituários
Se não integrei listas em vida,
Que por ética,
se permaneça a indiferença...
Um tempinho
Cerca de algumas horas
Para poder me despedir conforme
Com os recados que ainda não couberam...
Brinco com ela,
a morte
Jogando palavras em seu colo
Sob vestais aparentes
A púrpura que não beijo...
Grande irmão
Grande para os seus
Faça-me pequeno favor
Levando minhas cinzas até o mar
Sempre lembrando
De que não precisamos chorar
Por quem nunca nos deu alegria...
De inicio,
pensei em três
Mas a morte pede mais
Um infinito de poesia
Compatível à sua natureza..
Perdi a conta
De quantos velórios eu não fui
De toda aquela gente que ainda não
morreu
Mas que há muito me matou...
Um lapso mental
Resgatar um amor
Mas já vem a consciência
Instantânea
Lembrando a frieza
Dos cadáveres relacionais...
O assassino em mim
Não comete crimes
Apenas mata-me aos poucos
E ninguém tem notícia...
Cada dia
Uma sobrevida
A ser comemorada
Em notívaga avenida.
Sentado
Velho já na meia-idade
Perdeu para o tempo
Que contava ter voado..
Digo que é demorado
O intervalo que oferecem
Somos nós quem padece
Por ignorarmos a Física...
Nas redes sociais,
Centenas de amigos
Na espaçosa capela,
Somente os amigos..
Ela nem chegou perto do caixão
Seus óculos escuros,
Lentes enormes disfarçaram
Todo o reverso
Da secura que sempre manteve por ele...
Meus livros
Irão para algum lugar
Talvez uma fogueira ungida
Com este bruxo que desistiu de namorar...
- Ele morreu.
- Quem era ele?
- Alguém que te amou...
- Ele morreu.
- Quem era ele?
- Alguém que te amou...
Ei!
Vire-se!
A vida está por dentro!
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