quinta-feira, 24 de março de 2016

Das coisas que não dissemos ##


No estacionamento da faculdade, ela disse pra ele: 
- “O negócio, é que eu gosto de homens com pegada, sabe como?” 
Mas ele não disse pra ela: 
- (Que pena. Pois pra mim quem tem pegada é bicho. Animal, que vive na selva. Predador, ataca aqui e acolá. Não diferencia presas: não deu certo aqui nesse carro, pula pro outro. Muda de estacionamento, de cantina, de faculdade, de esquina, feito roleta russa, atirando a esmo até que um dia acaba acertando. Claro, que este “acertar” é extremamente questionável, à medida do seu propósito enquanto fêmea. Não há nada a perder, pra ele todas são iguais. Todas as noites são iguais, não há mulheres diferentes, apenas mudam os corpos. É um jogo de riscos incessante e vulgar, desconsidera pessoas, sentimentos e nexos causais. Jamais eu arriscaria te dar um beijo à força, mesmo que de leve e sem resistência: eu não arriscaria perder alguém como você. Prefiro não ter, do que poder transformar meu valor em poeira. Enquanto a turma da pegada tem motivos para te pegar, eu sigo com minha emoção de te sentir. Posso não deixar rastros na história, é porque a minha essência tem uma só estrada. Ela não corta a selva, mas cruza os campos na direção da tua essência...) 





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