DEZ MÃEDAMENTOS DE UMA PSEUDO-OCULTA MATERIALISTA
Diametralmente oposta a qualquer ordenamento jurídico, DESUNIÃO ESTÁVEL é uma imaginária relação multiafetiva ousada entre a Poesia e a Música. Como esses valores estão em declínio nos dias pós-modernos, decidi promover impulsos de acasalamento sentimental entre ambas, com a substancialidade e a emoção que brota dessas duas formas de expressividade dos sujeitos na sociedade civil, ou seja, nascentes da natureza humana. Aos amantes, as cortesias da Casa.
quinta-feira, 31 de março de 2016
Desperado. Um Malfeitor da Vida.
O
violão silenciou
Também
não vem mais música lá de fora
As
palavras diminuem seus encontros
Há
mais sossego aqui dentro
Enfim,
um clima lúgubre
Anunciando
em pensamento
Aquilo
que não precisa ser ouvido,
dito,
talvez nem presenciado...
Meu
estilo
Um
louvor de ideias
Saídas
da carne para a vitrine
Algumas
pessoas passaram
E
ninguém comeu..
Nos
fundos de minha casa imaginária
Um
terreno que se estende até as minhas origens
Covas
preenchidas
tantas
que
já não dá mais
para
plantar ninguém
o
solo é de decomposição
frutos,
somente
em outros imóveis.
Jamais
Eu
questionaria meus pais
Nos
tempos de hoje
Até
a paternidade
de tão ocidental,
banalizou-se patrimonial..
de tão ocidental,
banalizou-se patrimonial..
Se
alguém lhe oferecer ajuda
Desembrulhe-a
E
veja se não contém,
no fundo do pacote
um pedaço de humilhação..
Contar
essa história
Em
outro lugar
Bem
longe daqui
Talvez
eu possa rir
Pois
ninguém acreditará
Outras
pessoas,
Mesmo ceticismo...
Talvez
eu precise mesmo
De
um colo para deitar
Par de ombros para chorar..
Mas
eu não me rendo
Seguirei
firme e impávido
Na
luta pela solidão..
Não sou egoísta
Penso em mim também.
Se Estela
Tão
linda e tão bela
Sai
alegre pelo mundo
Mantendo
fechada sua janela
Por
que razão
Eu
não seria solitário como ela?
Nunca
obrigue ninguém a gostar de você
Também
não pense que alguém lhe gosta,
por isso ou por aquilo
por isso ou por aquilo
O
gostar,
Não
admite imposição nem raciocínio
Ele
é espontâneo
Ele
se manifesta..
O
resto,
É botica.
Na
pirâmide social
Quem
só olha para o vértice
Não
sabe que pisa...
A
vontade de ir embora
Desanima
o permanecer
Tão
óbvio
Que
as dimensões se fundem
Se
repetem
E
gritam juntas por um amanhã..
Os
pássaros foram embora
Permanece
a árvore
E
sua sombra
Para
ouvir passados...
Eu,
aqui de novo
Desenhando
dores
Nesse
papel sem cores
Guardando
uma aquarela em mim
Talvez um dia,
pintar lá fora
pintar lá fora
Uma
vida feliz assim.
.
quarta-feira, 30 de março de 2016
Seção Amor Livre
Homenagem
a Black KONG Ilhas Negras
Amigo
cão
Tão
amigo
Que
eu não consigo
Reconhecer
perigo
"BLACK
DOG" - LED ZEPPELIN
PLANT/PAGE
pellekofficial
steave n seagulls
ed motta, rui veloso & andreas kisser
ELES
segunda-feira, 28 de março de 2016
APPROACH: Perguntas que não escondem outras coisas...
-Quanto
você tem de altura?
-Tem quantos
filhos?
-Com
quem você mora?
-Que
idade têm os teus pais?
-Acredita em Deus?
-É machista?
-Acredita em Deus?
-É machista?
-Costuma
viajar pra fora?
-Você
tem empregados?
-Teu
carro é econômico?
-Em que bairro você mora?
-Adora pescaria?
-Adora pescaria?
-Ama
os pets?
-Sabe cozinhar o quê?
-Põe o lixo, troca a lâmpada e corta a grama?
-Você ronca muito?
-É organizado em casa?
-Quem lava suas cuecas?
-Sabe cozinhar o quê?
-Põe o lixo, troca a lâmpada e corta a grama?
-Você ronca muito?
-É organizado em casa?
-Quem lava suas cuecas?
-Votou
em quem?
-Tem
algum processo?
-O
que você acha da crise no país?
-É contra a corrupção?
-O que pensa do Moro?
-Quem é o Lula pra você?
-O que pensa do Moro?
-Quem é o Lula pra você?
-Possui algum tipo de preconceito?
-O
que significa beleza interior?
-Torce pra que time?
-Assiste novelas?
-Praia, cidade ou campo?
-Já operou alguma coisa?
-Você e muito brabo?
-Gosta de Fernando Pessoa?
-Axé, pagode ou universitário?
-Conhece Jorge Vercillo?
-Torce pra que time?
-Assiste novelas?
-Praia, cidade ou campo?
-Já operou alguma coisa?
-Você e muito brabo?
-Gosta de Fernando Pessoa?
-Axé, pagode ou universitário?
-Conhece Jorge Vercillo?
-O
que você curte comer?
-Quantos amigos você tem?
-Qual a tua cor preferida?
- Seus ternos têm friso?
-Usa crocs?
-Que tipo de cueca você compra?
-Você usa sunga?
-Qual a tua cor preferida?
- Seus ternos têm friso?
-Usa crocs?
-Que tipo de cueca você compra?
-Você usa sunga?
-Usa
protetor solar na praia?
-Gosta
de sexo convencional?
-Você
é peludo?
-Você
não é anão, né?
-Usa
dentadura?
-Corre
de vez em quando?
-Onde faz
academia?
-Pé chato, orelha de abano ou calvície?
-Toma muita cerveja?
-Pé chato, orelha de abano ou calvície?
-Toma muita cerveja?
-Manda
emoticons?
-Quantos
amigos tem no Face?
-Funciona
tua webcam?
-Já fez
sexo virtual?
-Se
eu fosse do mesmo sexo, o que você faria?
-Toma algum remédio?
-Você não é ciumento, né?
-Você não é ciumento, né?
ATEMPORAIS - "Teach Your Children" (Crosby, Stills & Nash) by Playing For Change
Ensine bem suas
crianças
Você que está
na estrada
Deve viver sob
um código
Para então se
tornar você
Porque o
passado é só uma despedida
Ensine bem suas
crianças,
Porque o
inferno dos pais delas vai passando devagar
E alimente o
sonho delas
O que elas
escolherem, aquele que você ficará sabendo
Nunca pergunte
a elas porque, se elas dissessem, você choraria
Então só olhe
pra elas e acene e fique sabendo que elas te amam
E você, na sua
juventude,
Não pode saber
os medos que cresceram nos mais velhos
Então ajude
eles com a sua juventude,
Eles procuram a
verdade antes de morrerem.
Ensine bem seus
pais,
O inferno das
crianças deles vai passando devagar,
E alimente o
sonho deles
O que eles
escolherem, aquele que você ficará sabendo.
Nunca pergunte
a eles porque, se você soubesse, você choraria,
Só olhe para
eles e acene e fique sabendo que eles amam você.
Contos da Inversão
O Ovo
de Tróia
“As
religiões não catequizam”, disse o falecido sociólogo. Referiu-se também a
outras instituições sociais que não alcançam os fins a que se propõem. O que
então, esperar de uma Páscoa? Chocolates, bombons, colombas, doces, gostosuras
ou travessuras. Um presente, dinheiro talvez. Independentemente do significado
do feriado, se esqueceram do momento. Um chamamento para uma união, familiar ou
não. Mas as pessoas aproveitam a ocasião e desagregam, desconstroem, destroem
ao invés de reforçar estruturas, laços. Sob o pretexto do conselho, da fórmula
ideal ou da maestria condutora do destino certo e único, revelam-se portadoras da verdade segundo elas, não
segundo a própria verdade. Interpretar os fatos - mesmo sem elementos suficientes, apenas com aquilo que é aparente - passou a ser o fiel da balança,
o critério que determinará o valor sobre alguém, o desprezo e a perspectiva ou
a falta dela. Ignore-se o fato em si, a pessoa, o passado, o que ela fez ou
representa: o que vale é o seu 'julgamento', cientificamente conhecido como 'juízo', 'opinião formada' no popular. Há uma síndrome no ar, afetando os
operadores do Direito que processam tudo em sua única instância sem recursos. E
também os não operadores, que fazem o mesmo sem diploma em Ciências Jurídicas. Assumem, ambos, a
condição de desembargadores da moral, juízes do moral, magistrados da razão.
Passam por cima de qualquer coisa que for necessário afastar para chegar lá, na
decisão final. Não se reúnem provas, não se colhem depoimentos nem oitivas, não precisa, o
procedimento é assim mesmo: a humilhação disfarçada de ajuda. O não reconhecimento, é um moderno costume que virou lei. Adeus sentidos, dos feriados, das uniões, de todas
as coisas que pudessem agregar. No avesso do odioso mundo contemporâneo, havia uma confissão dentro do ovo:
“eu tenho a sua verdade comigo”. Isto posto, não teve paladar, pois o formato
do presente quebrou o elo. As pessoas perderam a noção da forma, maneira, jeito
de discutir a vida sem ofensas e com respeito, consideração. As convicções,
surgem para matar a relatividade da própria realidade. O que era para ser uma cesta de alegrias, transformou-se num balaio de personalismos. A comunicação social se
perde no ego. Parece não haver caminhos mais adequados para nortear a ótica.
Parece não haver mais amor para orientar a ética...
domingo, 27 de março de 2016
Contos do Livre-arbítrio
A
vida. Este incessante transformar das coisas. E tudo são coisas. Seja material
ou não, coisa é uma palavra empregada para designar sinteticamente qualquer outra coisa. Um objeto, um fato, um sentimento, até a ausência deste. E as coisas
nascem a partir das transformações da natureza. Em curso, são modificadas pelo
homem. O homem gera, cria, desenvolve, mantém e também acaba, encerra, mata. Tudo, todas as
coisas. Assim é a humanidade, um acompanhar de mudanças ao longo do binômio
tempo/espaço. O tempo e o espaço são instrumentos fornecidos ao homem para que
ele escolha as suas coisas e o que fazer com elas, bem como o que não escolher,
e ainda o que quiser deixar para trás depois de ter escolhido. Claro que isso
envolve uma complexidade sem fim de circunstâncias, de quem são as pessoas e,
principalmente, de seus valores. Nada de novo foi dito até agora. Todo mundo
sabe disso; mas nem todo mundo tem consciência da realidade. Da verdade e
também daquelas circunstâncias, o tal fenômeno humano. Dentre essas coisas mutantes, estão as relações
humanas. As pessoas conduzem suas relações – de qualquer natureza – com indeterminado
livre arbítrio. Indeterminado porque às vezes ele não é tão livre assim. Formar
opiniões, juízos e estabelecer conclusões é algo demasiadamente sério, não
obstante aqueles valores individuais. É muito difícil hoje em dia ter
independência para se definir certezas sobre as coisas, quiçá as coisas alheias. Geralmente, há
influência de terceiros, seja na política, na economia, no social, em qualquer
campo recebemos informações que nos levam a formar nossas opiniões. O segredo,
é o discernimento. Para filtrar, refletir e contextualizar o que a gente recebe
como verdadeiro. Afastar o orgulho do desconhecimento, da fórmula equivocada
para o cálculo, da distância, da ausência de diálogo, da passionalidade. Isto é, tendências que nos levam a algum
lugar racional. Quase sempre, quando se chega lá, dispensa-se a emoção. Emoção,
por sua vez remete a sentimento. Este, um dos valores em declínio na sociedade
contemporânea, sobretudo quando se trata de afeto, muito por causa da
transformação das coisas. E já que tudo se transforma, e o afeto é desvalorizado,
um salve para – e este é o motivo desse texto – o presente. Sim, o momento
presente: que seja aproveitado, valorizado, curtido, regozijado ao extremo, sem
limites. Porque ninguém sabe o dia de amanhã. Muito menos se conseguiremos
desenvolver e manter aquilo que geramos e criamos. De repente, a explosão. Uma transformação
latente veio à tona e fez do ensolarado dia uma madrugada, nublada, sombria,
morta. Depois da reflexão, perguntei a mim mesmo por que razão eu não aproveitei
mais o presente, digo, aquele passado. Será que assim as coisas teriam se
transformado de uma outra maneira? Para melhor, digamos? Não se sabe. O que se
sabe é do livre arbítrio. Para escolher ou não, manter ou descartar. Nem importa
se é livre. Nem importa se a razão superou o afeto. Uma madrugada longa pela
frente. Fria, deserta, muda, árida, estéril. No fundo, nem tão inesperada assim. Mas quando a
gente tem uma revelação oposta ao que era inestimável, faz sangrar. É tempo de contenção,
fazer cicatrizar esta coisa. Ferida peculiar, essa em que a lâmina do juízo sentencia e condena sem contraditório nem defesa, pois já fez seu gume em punhal. Sim, o poder monetário e sua capacidade de corte social. Ó vida, bela chance que temos para desenvolver e
emancipar espíritos, desprezada como se o mundo fosse apenas racional. Dá nada
não, que prevaleça a liberdade. Livres para sentir o que quisermos, não
obstante o vínculo afetivo. Vínculos, são coisas altamente passíveis de
transformações: respeitemo-los...acatemo-las. Pois vínculos e transformações são coisas, frutos de
escolhas. Sementes? Nem todas se desenvolvem como gostaríamos num tempo de cóleras, inversão de valores e superficialidades. Penso ter cumprido minha missão: foi apenas semear, o tropismo escapou das minhas mãos...
sábado, 26 de março de 2016
Circunstâncias METROPOLITANAS.
Taxis
que passam ocupados.
Três
pistas que se transformam em duas.
Veículos
de firmas se sentindo em autódromos.
Carrões
importados trafegando como em ruas privadas.
Ignorância
perigosa ao trânsito compartilhado de bicicletas.
Buracos
resistentes ao peso mas suscetíveis às chuvas.
Pedestres
andando no meio da rua ao lado da calçada.
Povo espremido nos ônibus-modelo.
Gente
que se cruza e se olha mas não se cumprimenta.
Estabelecimentos particulares que invadem calçadas públicas.
Cheiros
esquisitos semelhantes ao esgoto de economia mista.
Trabalhadores
circulando com crachá na hora do almoço.
Pessoas
com jalecos fora do ambiente clínico.
Matos
que ninguém corta.
Caçambas
de resíduos com lixo vegetal.
Árvores enormes fazendo aniversário de morte.
Asfaltos
com obsolescência não programada.
Mulheres
a pé depois das aulas da noite.
Parques
com sol insuficiente.
Céus poluídos com menos azuis e mais nuvens cinzas.
Céus poluídos com menos azuis e mais nuvens cinzas.
Legiões
de dependentes psíquicos dos smartphones.
Servidores
públicos evanescentes.
Quarenta tons de pombas.
Quarenta tons de pombas.
Cães eternamente
viralatas.
Profissionais do sexo amanhecendo neons.
Mendigos
covardemente esquecidos.
Menores
cruelmente abandonados.
Músicos
refugiados nos canto dos bares;
Poetas
escondidos no breu dos becos..
e a solidão das pessoas disfarçadas pelo vestuário...
FRASES FRITAS - O ponto de ebulição dos diálogos...
- Com
certeza!
- Não é
isso!
- Ah, se
fosse comigo...
- Você não
viu na televisão?
- Mas como
não sabe?
- Nossa, eu
jamais faria uma coisa dessas...
- Por que
você não consegue entender?
- Para com isso...tô
com dor de cabeça.
- Hoje
não...não tô a fim.
- Sábado não dá: vou pescar.
- Não sei que horas volto, vou pro salão...
- Sábado não dá: vou pescar.
- Não sei que horas volto, vou pro salão...
- Você ainda
não fez aquilo?
- Olha...não
é por aí...
- Porra,
cara! Que merda você fez!
- Mas que
babaquice tua...
- Isso não é
nada! O pior foi comigo...
- O meu é muito melhor!
- Você não
sabe comprar direito...
- Espera aí
(interrompendo)!
- Não se
mete! Eu sei o que eu tô fazendo!
- Vire
nessa! Eu garanto que é aqui.
- Não vai
dar certo...
- Se eu fosse você, caía fora...
- Se eu fosse você, caía fora...
- Nem se
arrisque, fique aí mesmo!
- Pare...pra quê mais?.
- Por que
você não faz como eu digo?
- Assim não
dá! Você não aprende!
- Você é um
bobo. É claro que ela tá a fim...
- Os homens
são todos iguais.
Contos do Cajuru
O Cartorário Velho
Se herdou da
família, não importa mais. Quando ele largará o osso, é que interessa ao
Estado. Enquanto isso, o velho segue a sina da sobrevivência na luta contra o
tempo, ignorando qualquer espaço. Décadas de diferença etária, não são capazes
de afastar tal comportamento daquela sua funcionária. Moça nova, talvez uns 60 anos
a menos, ela entrou no jogo tangente do emprego, aquelas coisas torpes que
sustentam vencimentos mensais, em todos os lugares onde houver carteira de
trabalho. No aguardo da autenticação de um contrato, observei os dois fazendo
valer uma cláusula extra, primazia da realidade sobre a ética. De costas para o
povo, ele estendeu a mão como um rei, para a donzela sentada à mesa das
assinaturas. Ela pegou alguns dedos juntos e retorcidos pela idade, alisando-os como se
fosse um pênis, era a capacidade que ela queria demonstrar, habilidade plus. Fez
movimentos vai-e-venha, mas-não-demore-que-eu-quero-rosetar. Ele, babão,
entregou-se ao afago pré-pornográfico feito um marujo adolescente de primeira
sacanagem. Um minuto, quem sabe durou aquela coisa toda. Seus três conjuntos de falanges e metacarpos
garantiam a eventual virilidade do que pendurava sob a samba-canção. Ela
lhe olhava nos olhos como uma profissional do ramo, do ramo da prostituição. Um
sorriso falso, seduzindo boquiaberta ao sussurro de palavras envolventes, um
corpo deveras senil onde restava apenas a mente. O poder do dono, dispensando a
força de trabalho e ocupando a mais valia da precoce vagabunda que usava de
tais artifícios para reforçar estabilidade no local. Fazer leitura labial da
situação, seria pedir para o mundo parar, e sugerir em alto bravo retumbante
que os dois fossem logo para os fundos do cartório, num almoxarifado, nem
quartinho, num banheiro, qualquer cômodo seria mais apropriado para libidinagens do que um espaço público: as pessoas estão perdendo as noções. Ele, do ridículo.
Ela, do bizarro. Muito provavelmente ela o masturbava depois do expediente, quando
não havia mais gente no ambiente. Os grossos lábios da morena gordinha, faziam
a alegria final do esquálido pelancudo, o corcunda do Cristo-Rei. Um quadro com a foto do ancião ostentando uma
faixa do país no peito, ocupava a sala administrativa. Patriota, aguardava o
fim do dia para lamber aquela roliça xota. O balcão não esconde os podres da
repartição. A mesa não acusa a fenda prestes a se abrir para a passagem do
patrão. Uma colega, de costas para nós e ao lado do sujeito, encobria a atitude
dela: será que ela teria de sujeitar-se a isso para sobreviver? Seria esta outra iniciante nos moldes de ascensão profissional no plano de cargos e salários daquela carreira, naquela base? Amplos poderes
para quem usa do sexo para subir na vida estaiada, mas sem superfaturamento. Estrito o senso para quem perdeu o sentido da coisa pública. Acusaram-me de falso moralista. Nada contra, mas que
não fosse à nossa vista. A mulher que passou no concurso e aguardava o
passamento do tarado para assumir o serviço, nem imaginava o que ali andavam fazendo com a ordem e o progresso...
quinta-feira, 24 de março de 2016
Das coisas que não dissemos ##
No
estacionamento da faculdade, ela disse pra ele:
- “O negócio, é que eu
gosto de homens com pegada, sabe como?”
Mas ele não
disse pra ela:
- (Que pena.
Pois pra mim quem tem pegada é bicho. Animal, que vive na selva. Predador,
ataca aqui e acolá. Não diferencia presas: não deu certo aqui nesse carro, pula
pro outro. Muda de estacionamento, de cantina, de faculdade, de esquina, feito roleta russa, atirando a esmo até que um dia acaba acertando. Claro, que este “acertar” é extremamente
questionável, à medida do seu propósito enquanto fêmea. Não há nada a perder, pra ele todas são iguais. Todas as noites
são iguais, não há mulheres diferentes, apenas mudam os corpos. É um jogo de
riscos incessante e vulgar, desconsidera pessoas, sentimentos e nexos causais.
Jamais eu arriscaria te dar um beijo à força, mesmo que de leve e sem
resistência: eu não arriscaria perder alguém como você. Prefiro não ter, do que poder transformar meu valor em poeira. Enquanto a turma da pegada tem motivos para te pegar, eu sigo com minha emoção de te sentir. Posso não deixar rastros na
história, é porque a minha essência tem uma só estrada. Ela não corta a selva, mas
cruza os campos na direção da tua essência...)
Das coisas que não dissemos #
Na aula, ela
manda mensagem pra ele:
-
“Puxa...você tem mãos muito bonitas...”
Mas ele não
disse pra ela:
- (Veja bem.
Sou mais velho que você. Tenho mais praia, mais cancha, mais experimentos que
você. Não vou cair nesse seu jogo de sedução, como se fosse um adolescente. Não
me teste, eu não sirvo pra inflar seu ego, nem você pra me fazer de piá. Isso é uma
coisa. Outra coisa, é algo que eu não precisaria dizer: nunca me leve pra cama.
Pois você tem os pés mais lindos que eu já vi em minhas praias, minhas canchas,
meus experimentos. Eu me demoraria neles, muito mais do que você pudesse imaginar, coisa de carinho, algo muito além do sexo. Evito olhar
para as suas mãos, porque reconheço que elas não vêm em minha direção, você
está voltada para os seus requisitos, digo: obstáculos. Seus pés, a beleza mais
perto do chão, da verdade, daquilo que eu admiro. Não é fetiche, é algo que eu
só saberia explicar, na cama...na chuva...ou na refazenda.)
quarta-feira, 23 de março de 2016
Seção SAMBAQUI
É preciso morrer
Apenas um pouco
De tanta coisa que falece em volta
Que a tão vida aqui dentro, descombina
Não harmoniza o suficiente
Para impedir efeitos lá de fora
Inflando um balão no peito
Oprimindo o coração esquerdo
A mente que resiste
Quase vegetativa entre os animais...
Em casa de solidão
Música é multidão
Poesia, falatório
E o silêncio,
Uma prece para deus nenhum...
Alguém disse em voz baixa
Que o homem busca o seu isolamento
Sua experiência,
a estrada que leva a isso
Ou por vontade própria,
Ou por desesperança
Jamais por causa do destino
Esse implacável sentido
Que não ousamos transformar...
Não admito obituários
Se não integrei listas em vida,
Que por ética,
se permaneça a indiferença...
Um tempinho
Cerca de algumas horas
Para poder me despedir conforme
Com os recados que ainda não couberam...
Brinco com ela,
a morte
Jogando palavras em seu colo
Sob vestais aparentes
A púrpura que não beijo...
Grande irmão
Grande para os seus
Faça-me pequeno favor
Levando minhas cinzas até o mar
Sempre lembrando
De que não precisamos chorar
Por quem nunca nos deu alegria...
De inicio,
pensei em três
Mas a morte pede mais
Um infinito de poesia
Compatível à sua natureza..
Perdi a conta
De quantos velórios eu não fui
De toda aquela gente que ainda não
morreu
Mas que há muito me matou...
Um lapso mental
Resgatar um amor
Mas já vem a consciência
Instantânea
Lembrando a frieza
Dos cadáveres relacionais...
O assassino em mim
Não comete crimes
Apenas mata-me aos poucos
E ninguém tem notícia...
Cada dia
Uma sobrevida
A ser comemorada
Em notívaga avenida.
Sentado
Velho já na meia-idade
Perdeu para o tempo
Que contava ter voado..
Digo que é demorado
O intervalo que oferecem
Somos nós quem padece
Por ignorarmos a Física...
Nas redes sociais,
Centenas de amigos
Na espaçosa capela,
Somente os amigos..
Ela nem chegou perto do caixão
Seus óculos escuros,
Lentes enormes disfarçaram
Todo o reverso
Da secura que sempre manteve por ele...
Meus livros
Irão para algum lugar
Talvez uma fogueira ungida
Com este bruxo que desistiu de namorar...
- Ele morreu.
- Quem era ele?
- Alguém que te amou...
- Ele morreu.
- Quem era ele?
- Alguém que te amou...
Ei!
Vire-se!
A vida está por dentro!
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