Você foi até lá. Não mediu nada,
seguiu a corrente de não sei onde. Aquele impulso que você teve para ir, não
precisa de nome, sobrenome. A vida está cheia de coisas assim, inominadas, e
que passarão o tempo todo sem um vocábulo de identificação. Tentar nomear,
morre nessa locução verbal, não cairá no papel, jamais. Sem pretensão, sem
desejo, sem lenço nem caneta, você foi. Se foi por elevação, embrenhada,
ventania, não importa. Lá, você chegou e viveu. Não ficou apenas imaginando,
elucubrando, ‘caraminholando’ (como diz o dito popular) em casa ou na fazenda.
- como este texto é assexuado, não
interessando se você quem lê é homem ou mulher, o personagem que você encontra
na sua estória se chamará Dione, um nome unissex (a meu ver, deveria ser
plurissex, mas tá valendo), o (a) qual terá pronome ora masculino, ora feminino, se precisar.
E estava tão bom. Dione lhe fez
alegre, falante, vocês se divertiram à beça. Trocaram histórias, hobbyes, preferências
de toda ordem. Músicas e alimentos, escritores e pensamentos, vocês jogaram na
mesa. Não havia cartas sobre a mesa, vocês foram aos poucos, preenchendo a
superfície dela. E ficou bom demais, quando um dos dois disse algo engraçado,
riram sem parar, mesmo que timidamente, coisas de primeira vez. E vieram as
outras vezes, só porque vocês se sentiam bem na presença do outro. Aquilo que
estava nascendo, também não precisava ter nome, um destes modelos que a
sociedade cobra da gente. Todo mundo quer saber o que nos tornamos, qual o tipo
de relação que estabelecemos quando conhecemos alguém. Freud explica, mecanismos de
transferência, a insegurança deles salivando sobre nós. Mas Paulinha disse uma
vez que “os outros são os outros e só.” É mesmo. Só que às vezes, eles fazem
mais do que apenas perguntar. Há outros, que vêm para destruir. Eu dividiria a
humanidade entre construtores e destruidores. Estes, têm má-fé. Vez em quando,
conseguem ludibriar a pessoa que está conhecendo outra. Assim, vai depender da
relação desta pessoa com o seu próprio passado: se não está resolvido, as
sombras são dirigidas para a nova relação; as nuvens, empurradas por aqueles
outros de má-fé, os destruidores. Então, Dione sentiu a mudança de interpretação
feita por você, com auxílio de outrem. Aquilo que era doce, se acabou. Mais
popular: morreu na casca, na praia, na areia. O universo fez a parte dele,
tentou aproximar vocês. Mas o seu passado ainda estava presente em sua bagagem.
As frustrações, os medos, as inseguranças, os desentendimentos, todos mal administrados. Ou em
parte, ora no subconsciente, ora nas fotos dos álbuns dos quais você ainda não
se livrou. Um elo terrível, reforçado por Darci, a pessoa destruidora dessa
estorinha. Mas então, depois do fim, você pensa: “Mas não foram bons momentos”?
Claro que foram. “Era felicidade, então?” Não, não era felicidade, mas era
caminho. Felicidade não é lugar como distrito, não é capital, litoral, horizonte nem
paraíso. É apenas o caminhar, no compasso de viver bons momentos. “Mas como explicar que havia
felicidade se era vidro e se quebrou? Se era chama e se apagou? Acho que não
passou de ilusão...” Aí é que está o engano. Os bons momentos, ficam no
presente (tempo em que estão ocorrendo) e nos álbuns imaginários. A ilusão, jamais esteve por lá, pois eram
bons os momentos. Caso contrário, não teriam sido assim. Não se fotografa a ilusão, em nenhum sentido. A ilusão, é uma coisa
que a gente traz no tempo, ou melhor, no intervalo de tempo, entre os bons
momentos e hoje. A ilusão, é uma espécie de compensação para aliviar a
frustração daquilo que não deu certo temporalmente, ou seja, o que se acabou. Não
há como mudar os bons momentos. Nada do que venha depois vai alterá-los,
transformá-los em qualquer outra coisa. Outra compensação, é o tal de
arrependimento. Como alguém - em função de um revés posterior - pode se arrepender de ter vivido bons momentos? Isso
não existe, as pessoas fazem das mentiras seus argumentos, falsos, tão falsos
quanto os sujeitos destruidores. Influência, submissão, fraqueza diante do ser ‘ingerente’ (meu lado criacionista se limita à morfologia da língua...ou não),
intruso, metido e covarde. Isto é, sucumbência ao lado negativo do mundo, junto com seus derivados formais como inveja, ciúme, pessimismo, futurismo barato, etc. A ilusão,
não tem base, alicerce, é suspensa no ar, no mundo das ideias, seja por especulação ou inverdade. Os bons
momentos, estavam fincados no chão. Não confunda, eles são inclusive,
imiscíveis. Você viveu bons momentos com Dione, já nem mais importa por que
razão não deu certo. Não diga hoje que ontem era ilusão. Respeite o que você bem
viveu. Ilusão é acreditar nos Darcis da vida. Iludir-se, é guardar escombros de tijolos no quintal. Ilusão é uma péssima desculpa. Bons
momentos, são uma deliciosa argumentação. Não se arrependa dos fatos. Nem se
você tiver um ou dois Darcis em sua lista. Pois quem tem um(a) Darci, não precisa
de nenhum(a) Dione. Não merece. Não merece novos caminhos. Não merece bons momentos.
Melhor é que fique suspenso da Terra, em seus cúmulos de ilusões...eu seus
nimbos de temores...naquela vidinha estratificada demais para uma solidez
relacional, harmônica, independente e, quem sabe, duradoura...
"Bons Momentos" - Tim Maia / por Luiz Camilo
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