domingo, 30 de outubro de 2016

Crônica Cotidiana 45



Ah, Firmamentos... 
Esse papel que o destino lhe deu, está prestes a ser rasgado, sem medo dos riscos. E não fez até hoje não foi por medo, mas sim pelo respeito, nem ao destino, mas sim às pessoas. Às pessoas que lhe fazem de ouvidor. A vida inteira, ele, um ouvidor. Não chegou a oferecer ombro nem colo, mas ouviu, em demasia, com excesso. Lamentos, queixas e deixas, problemas, dúvidas e dívidas, choros, lágrimas e lástimas; essa foi a sua pauta social por décadas. Soube de histórias, fatos, coisas, ações e omissões dignas de coleção literária, sobre as frustrações do desiderato humano. E só lhe trouxeram os podres, porque o que havia de bom, mantiveram longe. Guru? Profeta, terapeuta? O que terá sido ele para toda essa gente que foi até lá nada buscar e somente despejar? Será que ele ainda vai morar na Caximba? Será que Caximba não é com ch? “Lá sei” do aterro, como dizia Kellen (a menor com experiência sexual de máster). Aconselhamento não foi, pois o que ele indicava, boa parte das vezes fizeram o contrário. Sim, as pessoas abusam da nossa boa-fé, desse nosso jeito nem baiano nem mineiro de ser, mas com uma paciência fora dos eixos. Foi vampirizado energeticamente por todo o tempo, ainda o é. Tenta soprar tal energia para fora quando fecha a porta e dá thau para mais um queixoso de Hanna-Barbera, outro/a Hardy Har Har. Não tarda, tudo de novo. Precisa haver mudança. Diz ele que vai abandonar a educação nas horas de ‘pidança’. Será seco, quieto e dissimulado. Pois se ele não se abre com ninguém, chega de escancarar a palavra para todo mundo. Noutra encarnação, deve ter sido uma tribuna, uma pedra num muro das lamentações, mata-borrão, esponja de aço, Diabo Verde, qualquer troço assim. Ou um padre, uma benzedeira, uma entidade. Da sua dor, ninguém sabe, ele administra com autonomia. Nele, só chega o drama dos outros e o silêncio. O silêncio das coisas que ele não divide com ninguém. Edmundo não aguenta mais tanta lamúria alheia. Já cumpriu o seu papel, que voltem os lenços de tecido, que se multipliquem os terapeutas ou então que as pessoas se resolvam independentemente. Basta! Começou a não atender telefonemas. Saiu de algumas redes sociais. Evitou gente pingente, aqueles que você puxa e abrem tudo. Afastou-se um pouco da sociedade ao redor. Mais atento a si, ficou com vontade de procurar Mariana e conversar um pouco como nos bons tempos. Então lembrou que ela se mudou antes e agora faz parte do silêncio. Aquele silêncio que separou a manhã da tarde, com o evento da hora do almoço. O mesmo que juntou a noite com a madrugada, sem divisão que as separasse, principalmente do céu. Ele não a procurará: ele vai se libertar, contemplando o silêncio das estrelas... 




Nenhum comentário:

Postar um comentário