Ah, Firmamentos...
Esse papel que o destino lhe
deu, está prestes a ser rasgado, sem medo dos riscos. E não fez até hoje não foi
por medo, mas sim pelo respeito, nem ao destino, mas sim às pessoas. Às pessoas
que lhe fazem de ouvidor. A vida inteira, ele, um ouvidor. Não chegou a
oferecer ombro nem colo, mas ouviu, em demasia, com excesso. Lamentos, queixas e deixas,
problemas, dúvidas e dívidas, choros, lágrimas e lástimas; essa foi a sua pauta social por décadas.
Soube de histórias, fatos, coisas, ações e omissões dignas de coleção literária, sobre as frustrações
do desiderato humano. E só lhe trouxeram os podres, porque o que havia de bom,
mantiveram longe. Guru? Profeta, terapeuta? O que terá sido ele para toda essa
gente que foi até lá nada buscar e somente despejar? Será que ele ainda vai morar
na Caximba? Será que Caximba não é com ch? “Lá sei” do aterro, como dizia
Kellen (a menor com experiência sexual de máster). Aconselhamento não foi, pois o que
ele indicava, boa parte das vezes fizeram o contrário. Sim, as pessoas abusam
da nossa boa-fé, desse nosso jeito nem baiano nem mineiro de ser, mas com uma
paciência fora dos eixos. Foi vampirizado energeticamente por todo o tempo,
ainda o é. Tenta soprar tal energia para fora quando fecha a porta e dá thau para mais um queixoso de Hanna-Barbera, outro/a Hardy Har Har. Não
tarda, tudo de novo. Precisa haver mudança. Diz ele que vai abandonar a
educação nas horas de ‘pidança’. Será seco, quieto e dissimulado. Pois se ele
não se abre com ninguém, chega de escancarar a palavra para todo mundo. Noutra encarnação, deve ter sido uma tribuna, uma pedra num muro das lamentações, mata-borrão, esponja de aço, Diabo Verde, qualquer troço assim. Ou um padre, uma benzedeira, uma entidade. Da sua dor,
ninguém sabe, ele administra com autonomia. Nele, só chega o drama dos outros e
o silêncio. O silêncio das coisas que ele não divide com ninguém. Edmundo não
aguenta mais tanta lamúria alheia. Já cumpriu o seu papel, que voltem os lenços
de tecido, que se multipliquem os terapeutas ou então que as pessoas se
resolvam independentemente. Basta! Começou a não atender telefonemas. Saiu de
algumas redes sociais. Evitou gente pingente, aqueles que você puxa e abrem
tudo. Afastou-se um pouco da sociedade ao redor. Mais atento a si, ficou com
vontade de procurar Mariana e conversar um pouco como nos bons tempos. Então lembrou
que ela se mudou antes e agora faz parte do silêncio. Aquele silêncio que separou a manhã da tarde,
com o evento da hora do almoço. O mesmo que juntou a noite com a madrugada, sem
divisão que as separasse, principalmente do céu. Ele não a procurará: ele vai
se libertar, contemplando o silêncio das estrelas...
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