Vai, Dinorá!!
“- Agora vai!”. Assim gritava no teclado a turba
de amigos e parentes de Dinorá, naquela rede social que mais parece uma comprida
passarela reta de curtos egos tortos. Ano após ano, surgia um novo pretendente
numa postagem decorada com flores e esperança, que a conduziria merecidamente por
reputação ilibada e notório saber ao castelo dos sonhos. Lembrei-me da história
do espermatozoide manco, que nunca havia conseguido vazar da bolsa escrotal para
realizar ou ao menos tentar o seu sonho de fecundar um óvulo: de vez em quando,
os outros sptz faziam uma corrente-pra-frente, abraçando-o, e partiam em
retirada... até que o primeiro lá da frente gritava “para! volta tudo que é punheta!”.
Uma piada, representava com excelência as relações da moceta quarentinha em corpo de vinte,
mas com exagerados seios turbinados de sessenta. Alternava a duração das
relações, só para não ficar tudo sempre igual, afinal toda rotina merece um
impulso em forma de mudança, mesmo que ridícula. Ah, Dinorá...gabava-se de sua
performance sexual, em qualidade e quantidade. Mas havia uma pedra filosofal em sua história: o grande amor de sua vida, Lobão era
casado. Um grande covarde que se tornou um grande amor por fazê-la gozar
dezoito vezes numa noite de São João. Covarde por fazer juras de amor com o pau
na mão. Depois que ele ejaculava, era “thau que minha esposa me espera...um dia
nós vamos casar...”. Um imperfeito político em campanha, e ela acreditava. E chorava. E quando copulava com um novo
namorado das redes sociais, fechava os olhos verdes e pensava em Lobão, o covarde, para
poder chegar ao clímax ao menos uma vez. O rodízio era variado, tinha de tudo. De
auxiliar de padaria até médico, de gerente de concessionária de veículos até sócio
de lava-car. Tais relacionamentos não duravam, cada qual por sua gota d’água, mas o líquido do copo era o mesmo, ela fingia que não sabia: o amor frustrado por
Lobão, porque não era amor. Ainda esperava ele chegando num cavalo branco na noite de Natal. Pegava um
vinho e contava as badaladas da meia-noite em solidão e silêncio, tentando
escutar no portão ou no celular o chamado do covarde que nunca veio, jamais viria. Mas foi
opção dela, conduzir sine die o sujeito em seu pódio, ao mesmo tempo em que anunciava
outro voluntário. Trabalhadora, a mulher. Mas as pessoas não podem ser apenas
trabalhadoras: há de se louvar o ganha-pão, entretanto, outras qualidades
precisam estar presentes quando se trata de relações afetivas. Até porque,
ninguém fica no trabalho o tempo todo pensando e desenhando seu amor num papel
qualquer. Mas será que era mulher mesmo? Uma mulher pode ser considerada uma Mulher se ela for
falsa, inventando amores que não passam de uma farsa e ainda sendo fraca na
condução da coisa? Um homem pode ser Homem se for covarde? Até onde o gênero sexual determina o caráter de uma pessoa humana? Três efes, o filme que falta, já tem
roteiro por aí, lá no bairro de cima. Dinorá tentou inovar uma vez, afinal
aqueles sites de relacionamento estavam praticamente gastos feito as camisinhas
que ela dizia que usava com os moços da hora, #sqn. Falando nisso, a dupla-penetração
com amigos foi uma estória fantástica, teve um "namo" que quase quebrou o queixo
quando ouviu tal narrativa numa tarde de ninar. Jamais deveria ser condenada por isso,
a moral é algo tão relativo quanto o clima das estações em planalto de
pinheirais. Voltando, largou um pouco dos sites e foi se envolver com um
sujeito dez anos mais velho, conhecido de passagem do passado. Encantou o cara, o qual por isso demorou demais para sacar a jogada, o jogo, a cilada. Desta feita,
ela fez juras, mas sem dizer que eram de amor. Pudera, Covarde nunca sairá do
primeiro lugar. Feita a descoberta, Marcão a aconselhou sobre relacionamentos,
sugeriu amizade. Mas ela sempre precisava mostrar na rede para o dito cujo do Lobão,
que estava feliz, mesmo sendo mentira. Coitada, queria fazer ciúme, como se
Lobão quisesse outras coisas com ela além de soprar sua vagina já reformada em motéis da
floresta. Dinorá sentia ciume da mulher de Lobão, por vezes se achava a primeira, recusava a alcunha de amante. Qual o que. Lobão era fodão, mas não era Homem. Mesmo assim, era o "homem" que ela elegeu, o cara que ela quis, que ela construiu para ela. Toda mulher constrói seu
príncipe. Do jeito que findava as relações, Lobão era rei. Mas a eternamente súdita sempre com
insegurança e medo, mentiras e omissões, dando ouvidos à velha mãe, um tipo
Madame Min da selva; e também ao filhinho Bambi, um adolescente muy delicado, caprichoso gostava de opinar sobre os machos da mami. Dina, quarenta
e poucos anos de frustrações e fofocas, e ainda com um covarde no alto do
coração. Sem chance pra ninguém. Nem rico, nem pobre. Ela apenas montava um
barraco no final fazendo valer seu lema “homem é tudo igual, só muda o tamanho
do pau”. Era por isso que começava, dava, não andava e acabava: sentia em cada fim de relação, uma porta abrindo para a entrada de
Lobão. Mas este, só entrava nos motéis. Coitada de Dinorá, coitada dela. Mais um caso
de submissão feminina ao machismo tipicamente bolsonarista de opressão e
controle. Ela tinha um vibrador bem pequenininho. Jamais mudaria seu critério
referencial de valorização de uma pessoa humana. Quem sabe o pinto de Lobão
fosse diretamente proporcional à sua paixão; quem sabe, sua pomba com
perineoplastia fosse inversamente proporcional a um amor verdadeiro: tolices! Escrevo
isso para lembrar que o sexo, não sustenta sentimento. O sexo, quando
alimentado com ilusão, é uma ponte para a infelicidade. Março. Lá estava ela se
recadastrando nos sites de companhia. Lá estava ela apelando para encontrar
alguém que fizesse Lobão sair definitivamente da toca. Ninguém mandou ela se entregar a um
animal, foi voluntário. Suas condutas, tornaram-se animalescas. Pinto, pomba, lobo, galinha. É outra que não vive na cidade,
sobrevive numa selva. Dingobel, mais um Natal sem ninguém. Dá nada não, todo
ano tem vestibular, campeonato de futebol e cadastro em site de relacionamento. O pessoal, na pior repete: “Agora vai”...
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