segunda-feira, 11 de julho de 2016

Sem Música




Uma ligeira aversão ao público desenhou-se em minha paisagem. Seja quem for, de onde vier. Mais de dois, já é multidão. Coitados, eles não têm culpa: é minha a intenção. Começo a querer ficar longe das gentes e seus mundos. Não tenho mais estômago para conviver assim socialmente. Já fiz a minha parte, foram décadas de doação, ouvidoria, conselhos e auxílios. Parei num bairro da cidade onde eu ainda insisto, displicentemente, até reconhecer isso. Não há mais nada para escutar, saber nem sugerir. Comunicar, deixou de ser a questão. Um descaso integral pela notícia, de qualquer natureza, é o que me vem à boca da razão. Fui tomado pela indiferença generalizada, preciso deixar o povo aos seus próprios cuidados. Minha força residual, será empregada em meu favor, na direção contrária deles, todos os outros. Secou minha fonte lacrimal, das alegrias já não sorrio. Não preciso continuar aqui, se já não mais oscilo entre emoções, afetos, sonhos e desejos. Já não construo mais passado, alijei-me do tempo. Talvez eu leve algumas frutas, no caminho a pé para onde eu não tenho mais que chegar. Enquanto Zaratustra desce o monte, eu parto para sua transposição. Não nos cruzamos na estrada; a minha estrada era um rio...não havia barca sobre este rio. As pessoas interferem em nossos cursos de navegação. Restamos em círculos, voltamos ou até mesmo mudamos de sentido, inventando deltas, múltiplos ou plurais. Infelizmente, nós só vamos adiante, quando sozinhos. O estuário, é um destino particular... 



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