sexta-feira, 15 de julho de 2016

PHilosofia de PHadaria




 Pitacos, mas de Smoking 
Um alemão com biotipo de polaco lá do ‘pampassul’ trouxe há mais de vinte anos uma frase dentro de uma canção que pegou como se fosse mandamento: “você precisa de alguém que te dê segurança”. Musiquinha descartável, deixou este suco amargo na ‘bocamente’ dos caros ouvintes paladares. Gosto evidenciado principalmente no fundo, ou seja, no terço posterior da língua, não muito distante do cérebro. Então, as pessoas acabaram não engolindo direito esse mantra camponês, aplicando-o nas mais diversas situações. Aí apareceu um metido aqui do planalto, cheio de pinhão no fígado, e resolveu interpretar essa relação entre a frase de efeito e a vida prática. Primeiro, ele disse que o “você...” mencionado no começo da frase e juntado com o que se segue, já trata o espectador como alguém que precisa de conselhos, ajuda, orientação, um perdido, abandonado, frustrado ou coisa assim, partindo da sapiência de um improvável mestre na arte do conviver. Depois, o diagnóstico 'pseudomedicinal' manda através do “precisa de alguém” uma ordem ‘sinequanon’ em se tratando de sua sobrevivência: caso não cumprida, você está fadado à morte de toda natureza. O “que te dê” indica que os relacionamentos existem para haver um escambo de sensações, materiais e imateriais, sugerindo que os indivíduos mais devam doar do que receber. ‘Pracabar’, vem o “segurança”, como se isso fosse um quesito fundamental para a própria segurança da relação. Isto é: a “segurança” segurando a pilastra do amor. A que tipo de segurança ele se refere, o 'alemãopolaco'? Um sentimento...proteção física...guarda...suporte financeiro...ou seria cumplicidade, reciprocidade, confiabilidade e outras 'dades'? Subentende-se que é algo que o sujeito passivo da relação não tenha, então ele disso faz necessidade. Tal palavrinha mágica substitui toda e qualquer modalidade de carência, inclusive a própria carência. É o remédio milagroso, serve para a cura de todo mal, isto é, toda falta de bem. Segurança em lugar de atenção, em lugar de diálogo, de carinho, de sexo & grana. Quer dizer, tudo isso precisa haver, desde que com segurança. E o que é este diabo de coisa senão a ausência de insegurança? E se alguém precisa de segurança, é porque está tomado de insegurança, ora bolas! É assim? É esse o tratamento? Ouviu, já tomou? Ou há de ser comprado numa botica de bairro, sem receita, só no gogó do suplicante afetado? Aonde se busca segurança? E quando se acha, emprestamos ou compramos ou até mesmo roubamos? Quanto tempo ela fica conosco? Existe dose de manutenção? De ataque, tipo tomada dupla na inicial? Enfim, um troço tão relativo quanto divagar sobre. O que interessa é que tais professores da razão emocional não saem de cena. E vivem colocando muita gente instável em cena. No fundo, eles sabem pouco sobre a vida e o vai e vem das coisas, das aproximações, das chegadas a partidas nas relações. Tudo, deve existir na espontaneidade do próximo: não precisa sugerir, pedir, clamar nem suplicar. Tem, tem. Não tem, não terá. E se não terá, o que aparecer será artificial. O cidadão planaltino não é músico, para escrever uma ‘fraseantídoto’ entre tantas outras palavras inexistentes deste texto. Mas ele arrisca: “você precisa é de você mesmo, conseguindo tudo aquilo que mereça”. Acabou o texto e o açúcar refinado. Não preciso de alguém que me traga o açúcar refinado. Eu tenho o demerara... 


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