quarta-feira, 6 de julho de 2016

Contos 3/4




Ponta do Félix 

Quando as coisas pararam de morrer em sua vida, iniciou uma fase distinta. Um tempo em que não havia mais nada para morrer. A neutralidade sobre o que sobrou ao redor, tornou-se a marca do que não se foi. Tudo, a partir dali, poderia ir-se embora, sem um mínimo de lamento. Sem que ele precisasse velar, orar ou coisa parecida para aquilo tudo que desapareceu ou o pouco que permaneceu. Este espaço, post mortem, é um nirvana terrestre com ares divinais, fazendo com que a gente se sinta imortal. Melhor, e até corrigindo, fazendo com que a gente se sinta igual aquilo tudo que tanto faz morrer ou não. Um vice-versa de sensações alheias, nivelamento baixo de indiferenças. Um equilíbrio nunca antes visto ou respirado, ouvido falar ou tateado. Jamais saboreado. Sentir-se como as pedras, como as folhas secas, como a chuva no chão, como as cinzas. Um intruso leu e disse que ele era tão frio quanto o inverno, tão cruel quanto o fogo em relação ao que ainda há. Então explicou que isto, já tinha findado por conta própria, escolha que não foi dele. Hoje só, se ele se perder no mar, não se debaterá. Seguirá o curso das águas, até onde for. Já percorreu o caminho sobre a terra, não deu muito certo. Seus sonhos foram levados pelo vento, seus amores incinerados pelas chamas. Já interagiu com todos os elementos. Por isso, o mar. Nadar ou não, eis a questão... 




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