Ponta do Félix
Quando as coisas pararam de morrer em sua vida, iniciou uma fase distinta. Um tempo em que não havia mais nada
para morrer. A neutralidade sobre o que sobrou ao redor, tornou-se a marca do
que não se foi. Tudo, a partir dali, poderia ir-se embora, sem um mínimo de
lamento. Sem que ele precisasse velar, orar ou coisa parecida para aquilo tudo
que desapareceu ou o pouco que permaneceu. Este espaço, post mortem, é um nirvana terrestre com ares
divinais, fazendo com que a gente se sinta imortal. Melhor, e até corrigindo,
fazendo com que a gente se sinta igual aquilo tudo que tanto faz morrer ou não. Um vice-versa de sensações alheias, nivelamento baixo de indiferenças. Um equilíbrio nunca antes visto ou respirado, ouvido falar ou tateado. Jamais saboreado.
Sentir-se como as pedras, como as folhas secas, como a chuva no chão, como as
cinzas. Um intruso leu e disse que ele era tão frio quanto o inverno, tão cruel
quanto o fogo em relação ao que ainda há. Então explicou que isto, já tinha
findado por conta própria, escolha que não foi dele. Hoje só, se ele se perder
no mar, não se debaterá. Seguirá o curso das águas, até onde for. Já percorreu o caminho sobre a terra, não deu muito certo. Seus sonhos foram levados pelo
vento, seus amores incinerados pelas chamas. Já interagiu com todos os elementos. Por
isso, o mar. Nadar ou não, eis a questão...
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