Reuni algumas palavras neste inverno
Fiz uma fogueirinha
A fumaça de poesia
Já aquece a casa minha..
Não é poesia
Não é minha casa
Mas é só isso
Que me dá asas...
A casca do pinhão,
no chão
No escuro, parece uma barata..
Porco amor
Aquele que só é visto às claras..
O homem tira o pó da casa
Logo depois,
o pó volta à casa
Um pouco mais,
o homem ao pó...
Aquele chuveiro maldito
Que mal criava no inverno
Hoje, já nem tão cruel assim
Perto da bruta solidão em mim..
Televisor
Objeto sem cor
Enfeiava a decoração
Que foi pro porão..
A terra seca do quintal
Minha garganta e o Fluviral
Intifada particular
Contra a estação da morte..
Oh, sinusite
Ensina-me o valor do oxigênio
Que eu ainda desprezo,
Assim como faço,
com todos
os olhares..
Ceroula preta
Sem porta da gaiola
Pássaro encolhido
E a recusa de voar lá fora
Se não tem Aurora
Onde ele possa piar..
Se não tem Aurora
Onde ele possa piar..
Sonhei com ela
Vestido florido
Sobre o ventre nu..
Por alguns instantes,
uma noite quente
Mas eu não sabia
Ingênuo,
dormia...
Sol fraco
Cortinas abertas
Mas se abro as janelas
Sei que o frio sou eu...
Água potável
Mineral
Gelada fora da geladeira
E uma taça de cristal
Brindando a dispensa de luz,
um viva ao desamor..
Cobertor tão imenso
Que se ao lado houvesse um amor
Viraríamos incenso...
A xícara de café
É a mão da companhia inexistente
Um afago quente
Para este coração sem fé..
É preciso dois cobertores a mais
Para cada corpo a menos,
na vida horizontal..
na vida horizontal..
Tudo limpinho,
Para ninguém
É o que sempre tem
Além do chá de alguma coisa...
O silêncio absoluto na outra casa
Irmana a solidão que não merecemos
Apenas escolhemos,
Pelo medo fraterno da voz..
a voz que abraça
a voz que afaga
a voz que duplica
é a voz que unifica...
a voz que abraça
a voz que afaga
a voz que duplica
é a voz que unifica...
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