segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Henry Dernier




Estranho, andar por aí assim. Mas o costume não tardou a boa sensação. Cruzar com alguém num caminho. Um olhar de lado, uma pergunta de endereço ou que horas são, por favor. Uma apresentação através de um amigo, um parente, um colega, um vizinho, um desconhecido. Algumas coisas do ofício. Na fila, no bar, no espetáculo. No parque, no calçadão, no ônibus. Objeto que cai no chão da moça, cavalheirismo. O quase nada, só por educação, senão seria nada mesmo. Aquilo que as pessoas veem como forma de aproximação, chance, destino, eu indefiro antes do mérito: minha rejeição. Começo a sentir o sabor inigualável de ser só. Não significa se resumir em estar sozinho, mas sim abraçar a escolha de viver sem qualquer companhia, amorosa. Uma certeza que deixa qualquer dúvida relacional na lona, como é a diária luta dos que se amam ou fingem isso, respeito aqueles que acreditam, eles também precisam existir. Mas tão tamanha é essa minha certeza, que é incontestável, meu axioma. A liberdade de jamais se aborrecer e principalmente, de nunca mais causar desprazer a alguém, mínimo que seja. Até mesmo um prazer ou vários, uma alegria ou tantas, outras convenções, tudo é mesmo tão relativo. Zero grau de afeto, a consciência da solidão atinge sua maturidade. Não vejo, em todas que eu vejo, qualquer perspectiva de relacionamento, posto que isso não há em mim. E não é somente com aquelas que eu vejo, a questão é que eu não sinto, envolve todas as que ainda não vi ou não verei, inclusive. Olhar a mulher com isenção, destituído de qualquer forma de interesse, é o nível mais alto que um homem pode alcançar na escala de convívio humano, social ou algo semelhante. Elas foram e são de imediato transformadas em pessoas, sei dos seus corações, mas não os conheço. Não os recepciono, sequer convido, tampouco imagino serem afetivos, conterem desejos ou nutrirem esperanças. Tornei-me outra espécie. Um religioso sem Deus, um animal sem floresta, um ser vivo sem coração. A opção de morrer sozinho, foi a mais bela estrada que já peguei. Porque só assim, é que me permiti viver sozinho. Caminho por uma angular que chega aos trezentos e sessenta graus de horizonte. Os que estão por perto, estão nas ruas e avenidas. A minha estrada, corta o meu deserto. As ruas e as avenidas, cortam as cidades. Como é bom poder olhar para o lado, e contemplar apenas paisagens e natureza. Não há obstáculos, não tenho amor. Não amarei, não terei obstáculos. A minha cegueira, não tem anteparos, justificativas, declarações de colo ou presentinhos nas datas especiais. Um verdadeiro estado de conhecimento, merece este registro e se basta por si só. Índigo é a cor do céu. Anil é a cor do mar. A minha cegueira, é azul... 

                                                                                                                                                                

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