Ela achava que ele devia correr atrás
dela. Uma, duas, muitas vezes. O que ele havia feito, era pouco. Pena, ela não
sabia que ele detestava amores beneficiados...
Brigavam a todo instante. O casamento
era a esperança de paz na relação. Talvez enfim sós e separados do mundo, fossem
capazes de tranquilizar a união. No futuro, a possibilidade da felicidade impossível no presente. Por isso buscavam o divã na tentativa de mudar realidade, do terapeuta fizeram um deus. A fé, é mesmo um colírio para a cegueira...
Não havia amor, mas uma forte
necessidade de somar fracassos relacionais. Bastava para
o enlace. Foi-se o sexo, mas veio estabilidade, prosperidade e aposentadoria. Um
festival de compensações que jamais deveriam ser compreendidas como
compensações. Aquilo que falta desde cedo, não virá. Não quando se tratar de essência...
Dois, em um modelo único. De longe,
exemplares. Um pouco mais próximo, sinais de desgaste. Bem perto, eram duas
frustrações. O casal vintenário, resistia bravamente ao tempo sobre um espaço
que se reduzia a cada dia. Mas lá fora tinha sol. Ali dentro, mesmo de manhã,
uma infinita e acovardada madrugada...
Quando são os orgasmos que juntam, é
preciso manter permanentemente a saúde do corpo, custe o que custar. Qualquer
coisa que interfira negativamente ou que não se relacione ao sexo, desconstrói
o castelo de areia. Uma onda do mar, por exemplo. Ou seja, coisas de outra
natureza, humana por exemplo...
De tanto oprimir, mandar e dirigir,
enviuvou. Mas seu companheiro já havia morrido bem antes da morte. Ele decidiu
suicidar-se brancamente, isto é, continuando naquela relação, como se não fosse
assim. Há mortes, inevitáveis, quando não se quer mais viver...
Mas nem tudo são espinhos. Aqueles lá,
desde cedo se amaram, abrindo mão das outras experiências da vida. Abdicação,
renúncia, chamem do que quiser. Olhar para eles hoje, é o mesmo que se via
ontem, trinta anos depois. Raros, especialíssimos. Sem que cada metade
completasse o outro, já que eram os dois, inteiros. Talvez este seja o segredo
do grande amor: apresentar-se por completo, sem vácuos nem espaços rasgados,
arrancados ou deformados, seja por terceiros, por si próprio ou por qualquer outra coisa. Assim,
cada qual preserva sua integridade, evidenciada no triunfo sobre o tempo. Sérgio e Rosiane, meus parabéns. A
humanidade agradece.
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