domingo, 14 de fevereiro de 2016

Poema das Horas Gastas


 O prazer solúvel do cacau na boca insípida 
 A alegria morta do ancião pela visita improvável 
 O medo gritante da ciumenta ao telefonema calado 
 A tristeza nova da criança com a saída do pai 
 O cuidado vadio da puta com o beijo doente 
 A saudade velha da viúva no consolo sexual 
 O suspiro tímido da tia frente à nudez do sobrinho 
 A cor pálida do amanhã daquele amor que rejeitava 
 O brilho opaco do professor que não indicava livros 
 A mente nublada dos cidadãos de gozo incompleto 
 O óvulo fresco no ventre da moça enganada 
 A parte retangular da última morada fixa 
 O uivo solitário da poeta sobre os dias que não virão.. 
     tanta coisa pelas esquinas dos quintos por aí 
     e eu sem um feixe de luz no hotel que me disseram.. 





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