segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Contos do Alto Tietê




Enquanto Dure 
O pires no centro da mesa de centro no meio da sala. Uma vela, inicia a queima do pavio. Forma-se uma chama pontiaguda, indicando uma espécie de ascensão, mais que isso, uma necessidade de. A noite aquietou-se por completo, e por respeito. Um tampão no espaço, nada se ouvia, nem mesmo o silêncio. Foco, rumo à determinação de um ser deveras indefinível, mas bastante conceitual. Momento lúdico, escolheu dois pontos, um de cada vez, a compor aquela figura geométrica disposta no breu do ambiente, sem coordenadas nem abscissas. À medida em que ele foi cerrando os olhos, concentrando o líquido ocular, a luz refletia no meio aquoso da ótica, como se fosse diante de um microscópio em bioquímica celular, figuras entre lâminas. Movimentos, formas, iam se modificando artisticamente, que faltava música para aquela dança quase lisérgica. Dois objetivos preencheram o pensamento, a ponto de seguir a direção da chama tal qual uma carona às 22 horas e dez minutos daquela segunda-feira, quaresma para os crentes. Infiel, ele limitou-se à liberdade dos fora da lei, ou da religião. A primeira vez de um novo hábito, é sempre tomada de mistérios. Algo oculto esteve por ali, sem fazer alarde, apenas ajudando mais um tanto aquele homem em sua jornada. Um pouquinho antes, ouvira que não existem caminhos, eles se fazem ao andar. Disso, imaginou que a inércia é um almoxarifado de ideias, não servindo para nada, o que vale está à vista, às mãos, ao sereno talvez. Vinte minutos o distanciaram do seu passado, e ele pôde reiterar que a poesia é a sua verdadeira companheira. Se ele a apresenta para alguém, perde-se o encanto, deixa de ser poesia para virar um texto qualquer aos olhos do terceiro. Por exemplo, uma leitora que possui os seus próprios objetivos, o seu foco individualizado de acordo com seu livre arbítrio. Poesias são mesmo flores: seus perfumes, são particulares, agradáveis a poucos, insensíveis para muitos. Ele sabia que a poesia morreria, caso revelada. Ela não entrou na casa dela, não foi recebida na sala, passou despercebida, feito moça fugidia. Imediatamente, ele retirou-a da calçada, estava molhada de chuva, a chuva da indiferença. De volta à sua casa, deu-lhe uma página como abrigo fraterno para repousar, o seu lugar certo. Não é fácil ser escritor num mundo onde o firmamento tem valores cadentes. A partir de amanhã, não haverá mais ninguém solta pelo espaço sideral. As primeiras vezes, também são capazes de decretar o aprendizado formal. Tarde da noite, um gato passeou mansamente sobre o muro da quietude: é hora de calar as mãos. E fazer daquela bela impressão, uma flama discretamente olvidada... 


Nenhum comentário:

Postar um comentário