quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Crônica da Réplica Muda



 Bem Antes do Depois... 

 O aprendizado. 
 Um texto descoordenado, porque vem da vida. Esse turbilhão que tentamos controlar, meio que em vão. A verdade relacional. A cada relação, um ensino ofertado a quem esteja disposto a aprender. 
 Então aqui está, aquela verdade que não vem à tona facilmente, mas não deixa de esconder a direção das correntes que damos à nossa navegação, em função da tábua das marés, as aulas. Atenção, reflexão e um pouco de perspicácia são materiais necessários para mergulhar fundo neste mar de humanidade; abaixo os escafandros, os cilindros, as máscaras e até os snorkels. A imersão há de ser nua, livre e por isso adequada para todo discente. 
 Fosse o vento, procuraríamos nos posicionar em terra em favor de seu sentido, muito além da direção. Acompanhar céus, observando estrelas e tantos outros sóis em tempo suficiente para poder compreender as coisas do jeito que são e, principalmente, como não serão. É...a maneira pela qual lançamos nossa voz ao vento...para onde ela vai, aonde fica, propagação e alcance, seu significado. 
 Mas também poderia ser a terra, esse emaranhado de espaços que ora são metrópoles, ora desertos, presenteando-nos com o livre-arbítrio de escolher caminhos a cada amanhecer, lanternas à noite. Uma bússola no peito, o norte cravado na consciência. A habilidade em lidar com a viagem, esse dom latente na maioria das pessoas, tal qual a potência para a transformação, para a emancipação e mais o que for. 
 Quiçá o fogo, a misteriosa arte de combinar valores, identidades, e aquele requisito fundamental de todo e qualquer relacionamento sem importar sua natureza: a reciprocidade. Aquilo que me faz prolixo, pleonástico, de tanto apontar pelos meus cadernos, u’a condição existencial que beira a utopia, sem queimar. Chama que, uma vez acesa, desafia tempo e espaço, quando é soberanamente livre para irradiar sem raio, avermelhar sem cor, arder sem dor. 
 Quatro elementos, representando cada um deles, um sentido. Respectivamente: visão (água), audição (vento), tato (terra), paladar (fogo). Não me perguntem sobre olfato, posto que é exercício em comum, presencial a dois, particularidade a qual estou impossibilitado de descrever no momento. Faltou um sentido, acabaram-se os elementos. 
 Uma analogia barata, na tentativa de discorrer sobre a solidão. O que tem dentro da solidão? Como alguém pode ser só, se traz consigo elementos de seu passado? Coisas que não evaporaram nem afundaram, nem se dispersaram tampouco ressecaram, nem viraram pó ou se desintegraram, ainda não restaram em cinzas...ou seja, aquilo tudo ou aquele pouco que não conseguimos transformar das relações pretéritas, fazendo do passado um livro em nossa estante. Acessível a todo momento. Às mãos, aos braços, ao colo, ao peito. Memória, um antídoto para a ausência. 
 Não. Enquanto alguém trouxer em sua bagagem algo que ainda persiste, isto será muito mais do que história. Ouso até, dizer que não há solidão nestes casos. As pessoas optam por carregar o balaio conhecido, mesmo que sem frutos, ao invés do enfrentamento às novas sementes, outras culturas, novas possibilidades, outras colheitas. 
 Escrevemos o passado com a maestria de um regente, sem saber senti-lo como um professor, instruindo-nos para o próprio presente. Nossa imperfeição evolucional quanto à espécie, impede de discernirmos questões temporais, estabelecendo limites, dando certezas, criando chances. Minimizamos (a falta de) perspectivas, preferindo o mais do mesmo, a contemporânea zona de conforto. Por isso as lembranças...a saudade...as reminiscências...e inevitavelmente: os bloqueios. 
 Esse tipo de solidão – que eu chamo de incompleta por não ser livre – é um traje típico que se veste para dançar a vida atual, não sem desenhar sobre o salão, os passos do que já se foi. 
 Por isso eu não acredito no amor. Não tenho comigo a ilusão de manter esperança em encontrar alguém completamente livre para poder e, sobretudo, saber amar. 
 Sim, existe amor por aí. Até aquele no qual eu não acredito. Mas a grande maioria, é de estereótipos convencionais para trânsito no meio social. Algo como supressão de carências, soma de frustrações, divisão de bens e multiplicação de favores. Portanto, existem vários tipos de amores. 
 Também existem várias formas de solidão. A pior delas, é aquela que não é tão só assim, por não ter transformado em definitivo seus antigos elementos, não ter obedecido à lei maior da natureza. Uma intermediária, é a que não tem necessidade de perguntar. 
 Mas a melhor das solidões, a legítima, é aquela que não precisa da chave de nossa casa... 

 - baseado no texto de Cibele. 

 Moral da estória: “se o amor fosse uma grandeza atemporal, as ampulhetas seriam horizontais...” 



música incidental >>>>



Nenhum comentário:

Postar um comentário