terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Contos de Pineville




A Casa da Bruxa 

Onde está a bruxa? Será que ela nos persegue pelo tempo em nossa jornada ou já a abandonamos na tenra infância? Perguntas tolas...o tempo não existe para as bruxas. O que muda, é a sua presença no espaço, absoluta para nós – metidos a crer somente em tudo aquilo que vemos – mas relativa para elas, pois vão aonde querem e sem depender de ninguém. Dos livros e estórias da carochinha, foi somente agora depois de décadas, que eu conheci uma bruxa. Estilo Maga Patalógica, ela mora sozinha numa casinha na região metropolitana. Uma porção mulher de mistério ambulante, criatura fazedora de poções mágicas com fundo científico. Não se sabe bem de onde ela veio (diz que é de Vassouras, acho que é de Düsseldorf), tampouco a razão de permanecer por aqui, muito menos para onde vai amanhã, depois de hoje. Digamos que ela está, por enquanto, já que o tempo é nossa convenção, e não dela. Voz baixa, agitada, falante como uma cigarra em canto iniciado. Seguir seu raciocínio é para poucos. Onde mora, o cachorro manda lá fora e o gato, dentro; dois animais domésticos com biotipo de ajudantes. A bruxa gosta de desenhos, alguma ligação com a criançada, tal qual as coisas que estão em princípios, começos, possíveis e passíveis de transformações. Mas ela odeia doces, açúcares e méis, por achar que isso é uma forma de compensação para as carências humanas. Ela conhece os livros, os homens, os alimentos. Ela domina os chacras, os pensamentos e as previsões. Reconhece os gurus, os semideuses e os mestres. Responda-a, só por praxe, porque ela já sabe de tudo, muito mais do que você mesmo, e sobre você mesmo. O que sair de sua boca, fica fora do caldeirão, ela não precisa de palavras. Você é quem necessita bastante dela, dos seus ensinamentos. Dos seus chás, suas ervas, pós, extratos, essências, florais e redirecionamentos. Mas não faça de sua visita uma tese para guardar na prateleira de suas omissões: ou você põe em prática, ou você volta ao seu próprio mundo como passageiro, coadjuvante, e não como condutor, protagonista. Após a consulta de horas, um Reiki pra transcender um pouco. Thau e até mais. Na saída, ela se despede e volta imediatamente pra deixar um abraço. Nenhuma pessoa humana repete esse tipo de saudação, a não ser por brincadeira; o ato dela é protocolo terapêutico. Pronto, ela fez a sua parte. Agora, é contigo, resolver os problemas que adquiriu mesmo que involuntariamente. Dizem que ela pede por um namorado. Ainda não conheci, em décadas, um Mago para poder apresentar a ela. O papel da bruxa é apontar caminhos para os cegos com visão. Meu limitado olhar, não enxergava que ela não precisa de ninguém. Em uma parte distante do passado recente, já neste meu novo caminho que ela sugeriu, bem mais próximo de minha casa, reconheci que eu também não. Não preciso de ninguém. Já tomei muitos goles de minha própria poção. Eu e as bruxas, podemos seguir sozinhos. Não porque queremos, mas por ser coisa do destino. Os que seguem acompanhados, que reconheçam e valorizem suas companhias, desprezando os que não lhes prezam. Ela, a Bruxa, não cura ninguém: apenas mostra a você, uma luz em vela que simboliza sua vida...você é o olhar, você é a sua própria cura. Ê, Bruxa...a inquisição contemporânea realmente guardou a fogueira para aqueles cegos hesitarem... 


Nenhum comentário:

Postar um comentário