-“Mas por que tu não queres mais ninguém?”
-“Ah
não...se fosse para querer, provavelmente eu mudaria tudo. Então, seria uma
mulher genuinamente intelectual. Que me ensinasse sobre literatura, orientasse-me
sobre ciência política e me lembrasse da história do Brasil. Que fizéssemos uso
racional do tempo, indo juntos ao teatro, às livrarias e aos bares com música
ao vivo. Que me trouxesse a emoção do abraço, do carinho e dos cafunés. Que
partilhássemos do álcool moderado, de um pouco de futebol e das relações sexuais
com frequências inteligentes. Que transformássemos as viagens, os amigos e os
diálogos numa habitualidade. Que praticássemos a alteridade, a solidariedade e
a espiritualidade pela natureza. Que respeitássemos equilibradamente o trabalho, os espaços, as
individualidades e a paz privativa de cada um. Que morássemos num lugar de
portas e janelas abertas, com alguns cães correndo pelo jardim e às vezes descansando
à sombra das árvores. Que não temesse o sol, a chuva, as noites sem luar e a
verdade. Que tivesse consciência de que reciprocidade e respeito são condições
essenciais para a manutenção e justificação de um relacionamento mútuo. Que não
tivesse vergonha de chorar em minha frente e de que eu fizesse o mesmo em seus
braços. Que não tivesse vergonha de sorrir ao meu lado e de que eu fizesse o
mesmo distante dela, e tudo sempre vice-versa...”
-“Mas tu
não estás sendo muito exigente com tudo isso?”
-“Não são
exigências, são somente consequências das coisas que aconteceriam se ela apenas
acreditasse em mim, e eu nela. Se ela vivesse por ela, eu por mim e sonhássemos
por nós dois. Mais nada.”
-“Mas pra isso seria necessário anos de convivência...”
-“Nem
tanto...penso que é mais uma questão de lugar, aonde as pessoas estão vivendo,
longe ou perto. Por isso eu não quero mais ninguém. Bastaram-me as portas da imaginação, elas não têm chaves..."
"ONE OF US" / Joan Osborne / by Gabriella Quevedo
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