O MEDO e o VENTO
Num lugar nem tão
distante, mora o meu medo. Medo que eu chamo de indiferença, para que eu não sofra
aquela temerosa sensação. Às vezes digo que é insignificância, alhures devaneios,
passado. Não perco tempo em procurar outras palavras que adjetivem esse eventual
momento, pois me habituei instantaneamente a defini-lo, sempre com desprezo,
lonjura e tais. Todavia, quase nunca preciso fazer isso, porque são raras na
minha lembrança essas deselegantes situações do meu alinhado ego retilíneo. É
que o vento, de vez em quando, me leva sem saber onde. E nalgumas vezes passo
perto de lá. Um muro alto, feito de pedras, sem portões nem entradas,
praticamente intransponível. Na volta, a tranquilidade toma conta de mim, um
alívio refrescante por me afastar daquilo. Mas quando eu estou mais perto de
casa, da minha casa, eu redireciono o pensamento evitando me aproximar das
verdades, que já são plurais. Sei, por exemplo, que o muro foi construído por
mim. Como justificativa para que eu não possa reconhecer o que existe do lado
de lá. Ou seja, cada vez que eu chegar
perto, sou obrigada a retornar, diante do obstáculo, não importando se ele está
dentro de mim mesma. Mas muito me ajuda o desafio de lutar contra o vento, por me reencontrar
ciente da solidez de minhas convicções, que me permitem ir aonde for, sem pestanejar.
Assim, posso compulsoriamente, combater aquele lugar distante onde mora o meu
medo. É o meu medo de amar, amar a pessoa que está do outro lado do muro. Esse alguém
determinado, conduz o seu amor por mim em inimagináveis candura, intensidade e leveza. Alguém que eu
guardei dentro de mim, na clausura do quarto das minhas convicções, onde não há janelas através
da quais eu pudesse conhecê-lo. Ele está inerte em mim. Verdadeiramente, o grande amor em minha vida.
Estranho, porque mesmo assim, ele me faz abstrata e surreal companhia. Não quero nem pensar se não
existissem muros, convicções ou coragem, principalmente para procurar saber sobre
a origem ou o sentido do vento...
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