quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

AUTORALLIA << Metropolitanos / por Bertold Brown



 METROPOLITANOS 
A cidade, é nada menos do que um grandioso e bestial condomínio. Vizinhos de todos os tipos, em almas de todos os credos, algumas inclusive sem fé. Corpos de todos os jeitos, em organismos de todos os gostos, alguns inclusive sem vida. Estes e tantos outros perambulam diuturnamente entremeio a obras de engenharia. As ruas são corredores que permeiam-se pelos bairros blocos. Um síndico qualquer foi eleito pela maioria ignorantemente despolitizada para administrar o impossível. Uma infinidade de cinza para quase nenhum verde dá o tom matriz do ambiente urbano. Gente produzindo lixo inorgânico e abandonando-o pelos prédios portarias. Habitantes moradores respirando fumaça invisível pensando ser oxigênio. Banham-se de chuva ácida se sentindo refrescados. Partes comuns são nada ideais, não dando espaço para o tempo. E o mau cheiro que predomina nas escadarias, pelo soterramento de rios poluídos de correnteza morta através de enormes máquinas cor de ouro e prata. Já não se veem mais crianças nas praças pátios, por existirem todos os tipos de vizinhos e seus respectivos perigos revelados pela notícia nos aparelhos murais. A cidade, que poderia ser muito mais do que um bestial e grandioso edilício, ora imponente removendo o azul do céu da contemplação por parte dos habitantes moradores, ora tombado pela vontade pontual do plano diretor, sempre expondo a cor predominantemente pálida do presente. Todos se deslocam entre duas manhãs, no mais previsível cotidiano que se transformou passivamente em rotina satisfatória. Pergunto-me se, para saber qual seria o futuro da cidade, alguém teria de ficar aqui... 


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