Diametralmente oposta a qualquer ordenamento jurídico, DESUNIÃO ESTÁVEL é uma imaginária relação multiafetiva ousada entre a Poesia e a Música. Como esses valores estão em declínio nos dias pós-modernos, decidi promover impulsos de acasalamento sentimental entre ambas, com a substancialidade e a emoção que brota dessas duas formas de expressividade dos sujeitos na sociedade civil, ou seja, nascentes da natureza humana. Aos amantes, as cortesias da Casa.
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
Contos sob a copa das Araucárias
OS ESQUIMÓS TROPICAIS
Ela disse que não tinha sonhos.
Perguntaram-lhe de novo, ouviu-se a mesma resposta, mas com um pequeno disfarce,
uma ligeira fuga, humilde maquiagem dizendo que seu sonho era apenas viver. E eu
ainda não compreendi o que ela tinha dito. Como poderia uma pessoa ser
destituída de sonhos...provavelmente, alguém os roubou. Então há mais alguém
além da própria vida, que rouba sonhos por aí. Porque os sonhos dela, não foram
roubados pela vida, já que ela afirmou querer apenas viver. Pois ela achava
que aquilo ali era a vida, portanto a reconheceria quando deparou-se com ela,
se fosse a mesma que tivesse roubado seus sonhos. Para ela tudo estava normal e
satisfatório, apesar de tudo ser claudicante. Então eu penso que para aquele
que não sonha, é inimaginável o futuro. Este, deve ser somente o dia seguinte.
O depois de amanhã, já não existe. Porque não existe futuro, pela mesma razão de
não existirem os sonhos, ambos roubados. Seria preciso identificar o ladrão dos
sonhos entretanto...mas...e o produto do roubo, para onde teria ido? O receptador de sonhos! Sim, mais um
criminoso na história. E mais outro, o comprador de sonhos roubados...características de uma quadrilha, com clareza. Então, são muitos os bandidos dos sonhos alheios. O
grande problema, é que não é crime roubar sonhos. Por isso os governantes não
vão presos. Assim, compreende-se mais facilmente sobre aqueles que não têm sonhos...
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
AUTORALLIA << A Operária / por Vodkovski
Ela é mesmo cheia de si. Que os outros
não cabem ao seu redor. Vigente, seu autoengano lhe concebia como felina, afastando-a
de sua espécie mansamente originária. No estilo holisticamente clássico, remexia-se sem o menor dever de cuidado na dança do acasalamento, algo impróprio aos humanos, em vãs tentativas de chamamento
e domesticação de outros seres da natureza selvagem. Quando não, predominava o desvario
alheio, comentando-se aleatória e infundadamente sobre aquilo que devia permanecer
contido por civilidade vicinal. Sua estratégia alardava na selva edilícia, ao rugir alto
na demarcação de sua área, urinando às escondidas sobre as relações subitamente desperdiçadas. Seu
instinto animalesco veio à tona, ao avançar sobre alguém que jamais se apresentou
como presa. Após a fuga, sua cova artificiosa silenciou-se, e o apelo a outro exemplar
a fim de consolidar aquele abate por influência externa no caso perdido, também
morreu rasteiro, em razão da ausência de predicados minimamente sociais. O
pior, é a falta de assunção de culpa no voluntário e dantesco desviar dos seus destinos, limitando-se ao culto de sua personalidade, concluindo-se avessa à construção plural pelos resultados. Bilhões de anos para que a humanidade evolua, e ainda encontramos alguém com essa conduta, gerando esse tipo de comportamento, causando
essas variantes de conflitos, ao sobrepor seus desejos acima do humanamente necessário
à boa convivência. Não impressionou até porque não precisaria, não cativou pois
revelou-se integralmente, e partiu por falsear os sentidos. Coitada da mulher que
pensava ser predadora, acreditando no poder dominante de sua própria sombra, desconhecendo que tal luz não era natural, pois advinha de ilusão. Coitada, sobretudo porque suas companhias não
reconhecem-na a tempo de salvá-la de si mesma...
Quadrophenia - "Time After Time""
[Dei adeus aos corpos, aos copos e
também aos corvos. Coisas que permaneciam ao meu redor, interferindo em minha
trajetória de circular por aí. Que assim, minha vida vá muito além das
tentativas, fazendo com que eu verdadeiramente encontre espiritualidade, água e
muita paz..]
"Time After Time"
CYNDI LAUPER
ULLI BOEGERSHAUSEN
ayooo10
TUCK & PATTI
CYNDI LAUPER
Seção Parental
- SONHOS -
__________
Serenata
"Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permita que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio, e a dor é de origem divina.
Permita que eu volte o meu rosto
"Permita que eu feche os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.
Permita que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio, e a dor é de origem divina.
Permita que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho como as estrelas no seu rumo"
e aprenda a ser dócil no sonho como as estrelas no seu rumo"
(Cecília
Meirelles)
____
“O experiente, sobrevive ao sonho que
morreu.
O sábio, tem a ciência de que sonhos
não são vida.
Para ele os sonhos não nascem e nem
morrem.
Apenas se transformam..”
(B. Azeredo)
domingo, 23 de fevereiro de 2014
hERMENÊUTICA <> gO wITH hAPPINESS / gLEN hANSARD & mARKETA iRGLOVA
SINOPSE
Esta suave canção de “The Swell
Season”, criada por Liam O. Maonlai, fala sobre um breve recorte do cotidiano, situação
em que dois corações se cruzam, mas percebem-se estranhos, então deixam algo ir
embora, desejando mutuamente felicidades na continuidade dos caminhos, divergentes
mas racionalmente retilíneos...
"gO wITH hAPPINESS"
lIAM O mAONLAI
by mARKETA iRGLOVA & gLEN hANSARD
by mARKETA iRGLOVA & gLEN hANSARD
SOSTENUTO
Teus
olhos desviaram dos meus, sufocando um bastardo sorriso que eu trouxe por indicação à
sala de estar, aquele cômodo sob a noite sem estrelas. Lá onde eu fiquei sem
dúvida alguma a respeito da impossibilidade de aproximação, pois me trouxeste
todas as respostas que sequer questionei. Bastou observá-la, muito mais que
percebeste, para concluir um desencontro marcado. Algo que permite juntar
palavras do teu autônomo vocabulário, sem relacioná-las com minhas frases
imodestas. Tens a arte em ti, por isso sabes manusear as criações com habilidade,
até mesmo antes delas se tornarem simples possibilidades. Uma névoa encobre tua
imagem, defesa antinatural que escolheste para te afastar, daquilo que precises considerar eventual, corriqueiro ou descartável. Talvez seja muito pouca
liberdade para quem tem um aprazível mundo, não digo a ser mostrado, mas minimamente
contemplado em narrativa, ou seja, a tua história. Conduta, louvável que eu
sei, caso desconsidere-se que se está frente a determinado tipo de beleza,
inacessível de compartilhar. Digo-te que foste exímia em comportamento,
arredio mas não fugitivo, consciente mas não desejoso. Teus segredos
permanecerão mistérios, enquanto levares a vida olhando para o chão ou para as
paredes. Mas tenho a certeza de que, as tuas lágrimas, são conduzidas ao sereno do
vento noturno pelo som proveniente do instrumento maior. Sorte tua, é que eu
não te vi ao piano, o que significaria saber-te além das cordialidades, da boa
educação e das etiquetas. Como é bom limitar-se às futilidades das opiniões
rasteiras, comentando apenas sobre teu corpo sedutoramente presencial. Como é
bom ratificar a minha desnecessidade de ter uma companhia e quase covardemente ver alguém assim indo embora pela madrugada adentro. Como é bom não conhecer alguém
que poderia com harmonia bem nos conduzir pela vida. Assim, proíbo-me de imaginar-te,
do sorriso, dos abraços, enfim, da tua sonoridade que aquele vento levou embora, por causa da serenidade das noites precocemente amanhecidas...
sábado, 22 de fevereiro de 2014
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
CINE Cátedra - "Forrest Gump" (O Contador de Histórias)
Enquanto o atribulado cotidiano desvia nossa atenção,
a sábia vida nos
apresenta respostas quase a todo momento.
Num recorte dessa verdade, à frente do
veículo em movimento,
o pássaro voou por quase meia quadra, acompanhando-o como
se estivesse lhe falando.
Em perfeita sincronia, no rádio tocava o piano de abertura
de “O Contador de Histórias”.
Bastou um breve raciocínio para que ele concluísse
sobre os caminhos de seu grande amor,
lembrando o que aconteceu com o personagem
central.
O som do instrumento conduz o sentimento através do tempo,
até chegar ao
epílogo, quando Gump guarda a pena e fecha o livro,
espalhando-o pela eternidade.
Sim, o seu grande amor é apenas para ser contado numa história,
mesmo que ninguém
vá senti-la...
FORREST GUMP SOUNDTRACK
Alan Silvestri / by Javier Gil
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
Tribuna Inestoica
A DEGRADAÇÃO DAS PÉTALAS
O mundo subjetivo de cada um de nós, vem paulatinamente
sendo invadido pelo pragmatismo da notícia, fragmentada de propósito e sem quaisquer indícios de reflexividade. Somatizamos a contemporânea
violência social externa, transformando-a em medo permanentemente incubado nas
lacunas do nosso vulnerável organismo, criando um mecanismo imuno-tecnológico de defesa visceral, sempre alerta, acionado
contra tudo e todos que aparecem em nossa frente. Lacunas que se formaram pelo
abandono dos valores fundamentais, princípios e virtudes. Perdemos o
discernimento, pois tudo é igual, imoral ou enjoa. Depois de criada nossa bondosa e analítica cartilha, todo e qualquer superveniente é o mal em suas mais variadas formas de
existência. Interesses, desejos, vantagens e coisas do gênero, são o gatilho imediato
e conclusivo até para respostas que não foram perguntadas. Se são flores, têm
espinhos. Se é um copo d’água, é impura. Se for um agradecimento é mentira, se
é elogio há intenção ou se for apenas nada, deve ser alguma coisa. Uma batalha
invisível de um só guerreiro, cuja defensiva é potencialmente cruel também diante de ataques que não acontecem. Aculturação da pós-modernidade tardia, pelo importado estilo
norte-americano de levar as relações civis em tons bélicos. Inventamos inimigos
num front imaginário que montamos sobre as barreiras de nossa vida hermética e
resolvidamente pronta. Sim, os relacionamentos entre os indivíduos são
conflitos de natureza possessória, como são as guerras no equivalente
macrocosmo supranacional. Toda menção será castigada, a partir de sua má
interpretação, tergiversar sobre e diagnosticar mesmo que sem elementos,
argumentos, sinais nem sintomas. O isolamento fronteiriço diante do perigo eminente
das esquinas imposto pela (des)comunicação, caracteriza os lares como casamatas, em que todo peregrino ao
redor ou até léguas distante é inimigo, mesmo se ele lançar apenas um olhar
para o nosso mundo prontificado de coisas, gente e ofícios. Não há mais espaço
para a sensibilidade, para a alteridade muito menos para a fraternidade, coisas geometricamente incabíveis em nossa estante de figuras admissíveis e ornamentais, considerando lixo antiestético não reciclável até as latas dos poetas, fatalmente passíveis de banimento, como aconteceu com aquele que um dia, ouvia-se da janela entreaberta. Somos
infantaria, armados de desconfiança, objetivismo e vigilância. Cuidado, não se
aproxime, podem acabar contigo, é o lema social em vigência, pauta pseudo-pedagógica da (des)informação. Pois corre no ar e nos espaços algorítmicos o alto risco de contaminarem o seu intocável status quo, turbando suas estruturas ou burlando sua paz adquirida não importando se natural ou artificiosamente, tampouco forma ou conteudo da mesma. Foi assim que o
novo envelheceu, amordaçaram a palavra e torturaram o sentimento. Mundo abstrato das escolhas, nós queremos é confrontar. Não nos interessa se o processo
não é devido ou legal, tampouco justo, temos competência para acusar, julgar e sentenciar. As novas amizades,
prestes a virar tipificação, elencadas portanto no rol das loucuras e ameaças, como crime
nos códigos que ressuscitamos do medievo passado que condena todos que não os nossos ao estigma de estranhos.
Tudo isso e eu aqui na praça, com uma flor nas mãos e apenas iria embora...então,
depois do susto que eu não criei, levantei-me, fui até a fonte central e coloquei
a flor na água...ela acompanhou a corrente, passando a girar em círculos, até desaparecer
no espaço...porque a complexa vida urbana nos tempos de hoje não comporta mais gestos,
pensamentos ou atitudes que se assemelhem ao simples ofertar de uma flor. As
pétalas e os valores humanos, dissolvendo-se na correnteza dos descaminhos racionais
pela inversão dos seus sentidos, eu aprendi. Não se releva, porque amanhã tem sol,
dias melhores de felicidade e eu, lamentavelmente mas por educação, esquecerei daquela praça...
domingo, 16 de fevereiro de 2014
Contos sob a copa das Araucárias
O MEDO e o VENTO
Num lugar nem tão
distante, mora o meu medo. Medo que eu chamo de indiferença, para que eu não sofra
aquela temerosa sensação. Às vezes digo que é insignificância, alhures devaneios,
passado. Não perco tempo em procurar outras palavras que adjetivem esse eventual
momento, pois me habituei instantaneamente a defini-lo, sempre com desprezo,
lonjura e tais. Todavia, quase nunca preciso fazer isso, porque são raras na
minha lembrança essas deselegantes situações do meu alinhado ego retilíneo. É
que o vento, de vez em quando, me leva sem saber onde. E nalgumas vezes passo
perto de lá. Um muro alto, feito de pedras, sem portões nem entradas,
praticamente intransponível. Na volta, a tranquilidade toma conta de mim, um
alívio refrescante por me afastar daquilo. Mas quando eu estou mais perto de
casa, da minha casa, eu redireciono o pensamento evitando me aproximar das
verdades, que já são plurais. Sei, por exemplo, que o muro foi construído por
mim. Como justificativa para que eu não possa reconhecer o que existe do lado
de lá. Ou seja, cada vez que eu chegar
perto, sou obrigada a retornar, diante do obstáculo, não importando se ele está
dentro de mim mesma. Mas muito me ajuda o desafio de lutar contra o vento, por me reencontrar
ciente da solidez de minhas convicções, que me permitem ir aonde for, sem pestanejar.
Assim, posso compulsoriamente, combater aquele lugar distante onde mora o meu
medo. É o meu medo de amar, amar a pessoa que está do outro lado do muro. Esse alguém
determinado, conduz o seu amor por mim em inimagináveis candura, intensidade e leveza. Alguém que eu
guardei dentro de mim, na clausura do quarto das minhas convicções, onde não há janelas através
da quais eu pudesse conhecê-lo. Ele está inerte em mim. Verdadeiramente, o grande amor em minha vida.
Estranho, porque mesmo assim, ele me faz abstrata e surreal companhia. Não quero nem pensar se não
existissem muros, convicções ou coragem, principalmente para procurar saber sobre
a origem ou o sentido do vento...
sábado, 15 de fevereiro de 2014
Flagrantes da I-n-t-e-r-s-u-b-j-e-t-i-v-i-d-a-d-e
-“Mas por que tu não queres mais ninguém?”
-“Ah
não...se fosse para querer, provavelmente eu mudaria tudo. Então, seria uma
mulher genuinamente intelectual. Que me ensinasse sobre literatura, orientasse-me
sobre ciência política e me lembrasse da história do Brasil. Que fizéssemos uso
racional do tempo, indo juntos ao teatro, às livrarias e aos bares com música
ao vivo. Que me trouxesse a emoção do abraço, do carinho e dos cafunés. Que
partilhássemos do álcool moderado, de um pouco de futebol e das relações sexuais
com frequências inteligentes. Que transformássemos as viagens, os amigos e os
diálogos numa habitualidade. Que praticássemos a alteridade, a solidariedade e
a espiritualidade pela natureza. Que respeitássemos equilibradamente o trabalho, os espaços, as
individualidades e a paz privativa de cada um. Que morássemos num lugar de
portas e janelas abertas, com alguns cães correndo pelo jardim e às vezes descansando
à sombra das árvores. Que não temesse o sol, a chuva, as noites sem luar e a
verdade. Que tivesse consciência de que reciprocidade e respeito são condições
essenciais para a manutenção e justificação de um relacionamento mútuo. Que não
tivesse vergonha de chorar em minha frente e de que eu fizesse o mesmo em seus
braços. Que não tivesse vergonha de sorrir ao meu lado e de que eu fizesse o
mesmo distante dela, e tudo sempre vice-versa...”
-“Mas tu
não estás sendo muito exigente com tudo isso?”
-“Não são
exigências, são somente consequências das coisas que aconteceriam se ela apenas
acreditasse em mim, e eu nela. Se ela vivesse por ela, eu por mim e sonhássemos
por nós dois. Mais nada.”
-“Mas pra isso seria necessário anos de convivência...”
-“Nem
tanto...penso que é mais uma questão de lugar, aonde as pessoas estão vivendo,
longe ou perto. Por isso eu não quero mais ninguém. Bastaram-me as portas da imaginação, elas não têm chaves..."
"ONE OF US" / Joan Osborne / by Gabriella Quevedo
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
AUTORALLIA << Metropolitanos / por Bertold Brown
METROPOLITANOS
A cidade, é nada menos do que um grandioso e bestial
condomínio. Vizinhos de todos os tipos, em almas de todos os credos, algumas
inclusive sem fé. Corpos de todos os jeitos, em organismos de todos os gostos,
alguns inclusive sem vida. Estes e tantos outros perambulam diuturnamente entremeio
a obras de engenharia. As ruas são corredores que permeiam-se pelos bairros
blocos. Um síndico qualquer foi eleito pela maioria ignorantemente
despolitizada para administrar o impossível. Uma infinidade de cinza para quase
nenhum verde dá o tom matriz do ambiente urbano. Gente produzindo lixo
inorgânico e abandonando-o pelos prédios portarias. Habitantes moradores
respirando fumaça invisível pensando ser oxigênio. Banham-se de chuva ácida se
sentindo refrescados. Partes comuns são nada ideais, não dando espaço para o tempo.
E o mau cheiro que predomina nas escadarias, pelo soterramento de rios poluídos
de correnteza morta através de enormes máquinas cor de ouro e prata. Já não se veem
mais crianças nas praças pátios, por existirem todos os tipos de vizinhos e seus
respectivos perigos revelados pela notícia nos aparelhos murais. A cidade, que poderia
ser muito mais do que um bestial e grandioso edilício, ora imponente removendo o
azul do céu da contemplação por parte dos habitantes moradores, ora tombado pela
vontade pontual do plano diretor, sempre expondo a cor predominantemente pálida do
presente. Todos se deslocam entre duas manhãs, no mais previsível cotidiano que
se transformou passivamente em rotina satisfatória. Pergunto-me se, para saber qual seria o futuro
da cidade, alguém teria de ficar aqui...
Contos sob a copa das Araucárias
O BAILE
Quando
ouvir alguém, dizendo que você não conseguirá passar o resto de sua vida
sozinho, não é preciso indignar-se. Pois a totalidade das pessoas que pensam
assim, é incapaz de se imaginar vivendo sem alguém ao lado. Elas
necessitam de outra pessoa para chamar de sua, de certa forma justificando-se
socialmente, deixando por onde passam, rastros de aparente felicidade. Continue
assim, acreditando que a vida é muito mais do que uma imagem a dois. Sabendo que
mais do que ter alguém ao lado, é sentir que existe outro alguém por dentro. Um
outro alguém que não aparece, mas sempre
acompanha. Que nunca volta, porque nunca vai. Isso sim, a gente pode chamar de amor.
E sentir um amor assim, é viver em absoluta companhia,
sem qualquer risco de acharem que você está só quando não estiver com alguém ao
seu lado. É ir por onde for, sem precisar chamar, convidar ou esperar por alguém.
Porque aquele alguém por dentro, espalha-se ao redor, ocupa todos os espaços, todas
as vontades e todos os sonhos. O orgulho de seguir, sozinho para os outros, mas
plenamente acompanhado por aquele alguém certo, determinado, singular. Também por essa companhia ser um
segredo, um doce mistério, um verdadeiro e cativo sentimento, o que torna o resto de sua vida muito mais aconchegante, repleta de sentidos.
Reconhecer que você é a única pessoa no mundo que sabe o que você sente, o que você
quer e o que você sonha. Por isso, você estava sorrindo naquele baile, sentado na
mesa vazia. Aqueles, disseram que você precisava arrumar alguém. Outros, queriam
que você fosse dançar. Ninguém arriscou dizer que você estava amando. Porque ninguém
escutou a sua música, ninguém viu o seu amor. E porque vazia, era só a mesa...
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
domingo, 9 de fevereiro de 2014
ACADEMIAs
E se eu te abraçasse amanhã? Descerias do céu antes ou depois deste amplexo? Nota que as dúvidas estão todas contigo, disfarçadas de uma única certeza. Trabalha melhor esta, posto que é equívoco, indução a que foste levada por tradição, razão de tua busca sempre tangencial. Incrível é que vives no mundo celeste da grande angular, e mesmo assim não avistaste ainda com os olhos certos o teu amor maior. Passou por tantos outros, elevou com muito esforço a ti, os coitados de âmago despojado, todos passageiros itinerantes, quedaram-se em vão. Encerra logo essa tua trôpega marcha alheia, porque sabes muito bem onde deve ser cadente. Basta afastar-te das nuvens inventadas e voltar tuas mãos na direção daquele meu abraço. Quem sabe - e dependerá apenas onde deitares teu colo - terás o carinho que mereces, bem conduzindo esse teu coração trajado a rigor que vejo nu por reconhecer que eu te amo...
"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece
como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer
entendimento."
- CLARICE LISPECTOR
-
sábado, 8 de fevereiro de 2014
Asas & Ícaros - James Blunt
"SAME MISTAKE"
James Blunt
Mesmo
Erro
Então, passo o tempo me
revirando nos lençóis / E mais uma vez, não
consigo dormir
Saio pela porta e subo a
rua / Olho as estrelas debaixo
dos meus pés
Lembro de coisas certas
que fiz erradas / Então, aqui vou eu / Olá, olá
Não há lugar que eu não
possa ir / Minha mente está
confusa, mas
Meu coração é pesado,
ele se mostra? / Eu perco o caminho, que
me perde / Então aqui vou eu
E então mandei alguns
homens à luta / E um deles voltou na
calada da noite
Eu disse: "Você viu
meu inimigo?" / Ele disse: "Se
parecia com você"
Então eu saí para cortar
meus pulsos / E aqui vou eu
Eu não estou pedindo uma
segunda chance / Eu estou gritando com
toda a minha voz
Me dê razão, mas não me
dê escolha / Porque eu apenas
cometeria o mesmo erro, de novo
E talvez um dia nós nos
encontremos / E talvez possamos
conversar e não apenas falar
Não cobre as promessas,
porque / Não há promessas que eu
cumpra
E minhas reflexões me
incomodam / Então aqui vou eu
Eu não estou pedindo uma
segunda chance / Eu estou gritando com
toda a minha voz
Me dê razão, mas não me
dê escolha / Porque eu apenas
cometeria o mesmo erro, de novo
Eu não estou pedindo uma
segunda chance / Eu estou gritando com
toda a minha voz
Me dê razão, mas não me
dê escolha / Porque eu apenas
cometeria o mesmo erro, de novo
Então, passo o tempo me
revirando em meus lençóis / E mais uma vez, eu não
consigo dormir
Saio pela porta e subo a
rua / Olho para as estrelas
Olhe para as estrelas,
estão a cair / E eu me pergunto
Onde foi que eu errei?
[A Sinceridade] - segundo James JOYCE, em 2 tempos
1
Ninguém
presta à sua geração maior serviço do que aquele que, seja pela sua arte, seja
pela sua existência, lhe proporciona a dádiva de uma certeza.
>> "O Que você Quer Saber de Verdade" / Marisa Monte
2
Fizeste
que eu confessasse os pavores que tenho. Mas vou te dizer também o que não me
apavora. Não tenho medo de estar sozinho, de ser desdenhado por quem quer que
seja, nem de deixar seja lá o que for que eu tenha que deixar. E não tenho
medo, tampouco, de cometer um erro, um erro que dure toda a vida e talvez tanto
quanto a própria eternidade mesma.
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
hERMENÊUTICA <> cORRENTEZA / bOCA lIVRE
SINOPSE
Esta bela música de Tom Jobim & Luiz Bonfá, fala sobre um amor determinado,
mas renegado por alguém que não o reconhece. Enquanto a natureza se move, sugerindo
acompanhar a correnteza da vida, para aquilo tudo que é maduro, os dias de chuva
chegam e afastam as possibilidades do encontro pessoal. Porém, mesmo com as intempéries
do mau tempo, este encontro sempre seguirá marcado no sonho de quem está amando..
"cORRENTEZA"
pOR bOCA lIVRE
DANDÁ
Vem.
Destrói teus muros, desfaz teu véu, desnudando tua alma branca que eu sei.
Abandona tuas convenções, rasga teus acordos, guarda tua fantasia para outras
horas que não de mim, porque agora é a nossa vez. Isso, completamente nua,
avança em minha direção como se eu fosse presa, quebra minha defesa de ti e
arranca-me o tempo que guardei para nós dentro desse meu coração fidelizado.
Ato perfeito, pela importância em nossas vidas, longe de qualquer aparente
violência mundana figurada na distância. Mais do que simbolicamente, toma-me
nos braços e sorve a água que alimenta tua sedenta companhia tão imaginária.
Sim, faz tudo isso que será tua libertação, por enfim matares o teu medo de nós,
no sentido de que os poetas devem respeitar o que está escrito. Podem
tergiversar sobre os descaminhos, o que lhes é aprazível, mas não se pode
evitar o lugar para onde são conduzidos por suas palavras. Porque também foram elas que me levaram a ti,
mas foste tu que entraste em minha vida afetiva. Fizeste isso na forma de
emoção, que eu não consigo imaginar como seria a vida ao teu lado. Não consigo
imaginar como é a felicidade. Então vem. De braços abertos, sorriso contido e
de olhos cerrados, na vã tentativa de esconder o imensurável sentimento que mantenho
por ti, estarei te aguardando na esquina de nosso futuro. Se escorrer uma lágrima
em tuas mãos, não ligue, é nada mais do que o meu amor, vertendo em tua vida natural
de correnteza...
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
AUTORALLIA << Pelas tuas mãos / por Cecília Faroll
PELAS TUAS MÃOS
É preciso sair de algum lugar e conceituar o indefinível, em razão dos
sentidos. Então, já no caminho, a subsunção da realidade nos conta que
realmente há uma distância entre eles, mas que não pode ser medida. Talvez,
descobrir o que lhes separa, encontrando o elo fundamental que os une. Este,
provavelmente situa-se num portal a ser atravessado, além de um prisma a ser
transposto, ou simplesmente sobre o mesmo ponto na linha de junção dos dois planos
de existência. Lá, ou simplesmente ali, provocando-se o gesto por um
entreolhar, o toque das mãos, a timidez dos sorrisos, o enrubescer no abraço. Aqueles inocentes atos, os
quais nunca deixarão de ser importantes vias de acesso, fundamentais para a
transcendência do destino, ou seja, o seu acontecer. Tudo é normal e belo,
quando se tem um vitral delimitador, que é ao mesmo tempo convidativo à nova vida. A sina da mais bela entre as descobertas, a ser realizada pelos sujeitos
semelhantemente fractais. Tamanha identidade, são paralelas precisando se tocar,
assumindo o desafio à ciência em desobediência ao seno cartesiano, mas sobretudo
em consideração ao destino complementar. Fossem românticos, diriam que seria a
temporada das flores. Mas como são humanamente renitentes, ainda necessitam se
aproximar...
sábado, 1 de fevereiro de 2014
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