sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

phOTOCALIGRAfIA




phOTOCALIGRAfIA




phOTOCALIGRAfIA




phOTOCALIGRAfIA




Contos sob a copa das Araucárias


 OS ESQUIMÓS TROPICAIS 



Ela disse que não tinha sonhos. Perguntaram-lhe de novo, ouviu-se a mesma resposta, mas com um pequeno disfarce, uma ligeira fuga, humilde maquiagem dizendo que seu sonho era apenas viver. E eu ainda não compreendi o que ela tinha dito. Como poderia uma pessoa ser destituída de sonhos...provavelmente, alguém os roubou. Então há mais alguém além da própria vida, que rouba sonhos por aí. Porque os sonhos dela, não foram roubados pela vida, já que ela afirmou querer apenas viver. Pois ela achava que aquilo ali era a vida, portanto a reconheceria quando deparou-se com ela, se fosse a mesma que tivesse roubado seus sonhos. Para ela tudo estava normal e satisfatório, apesar de tudo ser claudicante. Então eu penso que para aquele que não sonha, é inimaginável o futuro. Este, deve ser somente o dia seguinte. O depois de amanhã, já não existe. Porque não existe futuro, pela mesma razão de não existirem os sonhos, ambos roubados. Seria preciso identificar o ladrão dos sonhos entretanto...mas...e o produto do roubo, para onde teria ido?  O receptador de sonhos! Sim, mais um criminoso na história. E mais outro, o comprador de sonhos roubados...características de uma quadrilha, com clareza. Então, são muitos os bandidos dos sonhos alheios. O grande problema, é que não é crime roubar sonhos. Por isso os governantes não vão presos. Assim, compreende-se mais facilmente sobre aqueles que não têm sonhos... 


segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

AUTORALLIA << A Operária / por Vodkovski




A OPERÁRIA 
Ela é mesmo cheia de si. Que os outros não cabem ao seu redor. Vigente, seu autoengano lhe concebia como felina, afastando-a de sua espécie mansamente originária. No estilo holisticamente clássico, remexia-se sem o menor dever de cuidado na dança do acasalamento, algo impróprio aos humanos, em vãs tentativas de chamamento e domesticação de outros seres da natureza selvagem. Quando não, predominava o desvario alheio, comentando-se aleatória e infundadamente sobre aquilo que devia permanecer contido por civilidade vicinal. Sua estratégia alardava na selva edilícia, ao rugir alto na demarcação de sua área, urinando às escondidas sobre as relações subitamente desperdiçadas. Seu instinto animalesco veio à tona, ao avançar sobre alguém que jamais se apresentou como presa. Após a fuga, sua cova artificiosa silenciou-se, e o apelo a outro exemplar a fim de consolidar aquele abate por influência externa no caso perdido, também morreu rasteiro, em razão da ausência de predicados minimamente sociais. O pior, é a falta de assunção de culpa no voluntário e dantesco desviar dos seus destinos, limitando-se ao culto de sua personalidade, concluindo-se avessa à construção plural pelos resultados. Bilhões de anos para que a humanidade evolua, e ainda encontramos alguém com essa conduta, gerando esse tipo de comportamento, causando essas variantes de conflitos, ao sobrepor seus desejos acima do humanamente necessário à boa convivência. Não impressionou até porque não precisaria, não cativou pois revelou-se integralmente, e partiu por falsear os sentidos. Coitada da mulher que pensava ser predadora, acreditando no poder dominante de sua própria sombra, desconhecendo que tal luz não era natural, pois advinha de ilusão. Coitada, sobretudo porque suas companhias não reconhecem-na a tempo de salvá-la de si mesma... 


Quadrophenia - "Time After Time""

[Dei adeus aos corpos, aos copos e também aos corvos. Coisas que permaneciam ao meu redor, interferindo em minha trajetória de circular por aí. Que assim, minha vida vá muito além das tentativas, fazendo com que eu verdadeiramente encontre espiritualidade, água e muita paz..] 



 "Time After Time" 
 CYNDI LAUPER 


 ULLI  BOEGERSHAUSEN 


 ayooo10 


 TUCK & PATTI 


 CYNDI LAUPER 


Seção Parental

 - SONHOS - 
__________

 Serenata
 "Permita que eu feche os meus olhos,
 pois é muito longe e tão tarde!
 Pensei que era apenas demora,
 e cantando pus-me a esperar-te.
 Permita que agora emudeça:
 que me conforme em ser sozinha.
 Há uma doce luz no silencio, e a dor é de origem divina.
 Permita que eu volte o meu rosto  
 para um céu maior que este mundo,
 e aprenda a ser dócil no sonho como as estrelas no seu rumo"  
 (Cecília Meirelles)  

____

 “O experiente, sobrevive ao sonho que morreu. 
 O sábio, tem a ciência de que sonhos não são vida. 
 Para ele os sonhos não nascem e nem morrem. 
 Apenas se transformam..” 
 (B. Azeredo) 

domingo, 23 de fevereiro de 2014

hERMENÊUTICA <> gO wITH hAPPINESS / gLEN hANSARD & mARKETA iRGLOVA


SINOPSE 
Esta suave canção de “The Swell Season”, criada por Liam O. Maonlai, fala sobre um breve recorte do cotidiano, situação em que dois corações se cruzam, mas percebem-se estranhos, então deixam algo ir embora, desejando mutuamente felicidades na continuidade dos caminhos, divergentes mas racionalmente retilíneos... 


 "gO wITH hAPPINESS" 
 lIAM O mAONLAI  
by mARKETA iRGLOVA & gLEN hANSARD 


  SOSTENUTO  
Teus olhos desviaram dos meus, sufocando um bastardo sorriso que eu trouxe por indicação à sala de estar, aquele cômodo sob a noite sem estrelas. Lá onde eu fiquei sem dúvida alguma a respeito da impossibilidade de aproximação, pois me trouxeste todas as respostas que sequer questionei. Bastou observá-la, muito mais que percebeste, para concluir um desencontro marcado. Algo que permite juntar palavras do teu autônomo vocabulário, sem relacioná-las com minhas frases imodestas. Tens a arte em ti, por isso sabes manusear as criações com habilidade, até mesmo antes delas se tornarem simples possibilidades. Uma névoa encobre tua imagem, defesa antinatural que escolheste para te afastar, daquilo que precises considerar eventual, corriqueiro ou descartável. Talvez seja muito pouca liberdade para quem tem um aprazível mundo, não digo a ser mostrado, mas minimamente contemplado em narrativa, ou seja, a tua história. Conduta, louvável que eu sei, caso desconsidere-se que se está frente a determinado tipo de beleza, inacessível de compartilhar. Digo-te que foste exímia em comportamento, arredio mas não fugitivo, consciente mas não desejoso. Teus segredos permanecerão mistérios, enquanto levares a vida olhando para o chão ou para as paredes. Mas tenho a certeza de que, as tuas lágrimas, são conduzidas ao sereno do vento noturno pelo som proveniente do instrumento maior. Sorte tua, é que eu não te vi ao piano, o que significaria saber-te além das cordialidades, da boa educação e das etiquetas. Como é bom limitar-se às futilidades das opiniões rasteiras, comentando apenas sobre teu corpo sedutoramente presencial. Como é bom ratificar a minha desnecessidade de ter uma companhia e quase covardemente ver alguém assim indo embora pela madrugada adentro. Como é bom não conhecer alguém que poderia com harmonia bem nos conduzir pela vida. Assim, proíbo-me de imaginar-te, do sorriso, dos abraços, enfim, da tua sonoridade que aquele vento levou embora, por causa da serenidade das noites precocemente amanhecidas... 


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

CINE Cátedra - "Forrest Gump" (O Contador de Histórias)




 Enquanto o atribulado cotidiano desvia nossa atenção, 
 a sábia vida nos apresenta respostas quase a todo momento. 
 Num recorte dessa verdade, à frente do veículo em movimento, 
 o pássaro voou por quase meia quadra, acompanhando-o como se estivesse lhe falando. 
 Em perfeita sincronia, no rádio tocava o piano de abertura de “O Contador de Histórias”. 
 Bastou um breve raciocínio para que ele concluísse sobre os caminhos de seu grande amor, 
 lembrando o que aconteceu com o personagem central. 
 O som do instrumento conduz o sentimento através do tempo, 
 até chegar ao epílogo, quando Gump guarda a pena e fecha o livro, 
 espalhando-o pela eternidade. 
 Sim, o seu grande amor é apenas para ser contado numa história, 
 mesmo que ninguém vá senti-la... 


 FORREST GUMP SOUNDTRACK 
 Alan Silvestri / by Javier Gil 


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Tribuna Inestoica



 A DEGRADAÇÃO DAS PÉTALAS 
O mundo subjetivo de cada um de nós, vem paulatinamente sendo invadido pelo pragmatismo da notícia, fragmentada de propósito e sem quaisquer indícios de reflexividade. Somatizamos a contemporânea violência social externa, transformando-a em medo permanentemente incubado nas lacunas do nosso vulnerável organismo, criando um mecanismo imuno-tecnológico de defesa visceral, sempre alerta, acionado contra tudo e todos que aparecem em nossa frente. Lacunas que se formaram pelo abandono dos valores fundamentais, princípios e virtudes. Perdemos o discernimento, pois tudo é igual, imoral ou enjoa. Depois de criada nossa bondosa e analítica cartilha, todo e qualquer superveniente é o mal em suas mais variadas formas de existência. Interesses, desejos, vantagens e coisas do gênero, são o gatilho imediato e conclusivo até para respostas que não foram perguntadas. Se são flores, têm espinhos. Se é um copo d’água, é impura. Se for um agradecimento é mentira, se é elogio há intenção ou se for apenas nada, deve ser alguma coisa. Uma batalha invisível de um só guerreiro, cuja defensiva é potencialmente cruel também diante de ataques que não acontecem. Aculturação da pós-modernidade tardia, pelo importado estilo norte-americano de levar as relações civis em tons bélicos. Inventamos inimigos num front imaginário que montamos sobre as barreiras de nossa vida hermética e resolvidamente pronta. Sim, os relacionamentos entre os indivíduos são conflitos de natureza possessória, como são as guerras no equivalente macrocosmo supranacional. Toda menção será castigada, a partir de sua má interpretação, tergiversar sobre e diagnosticar mesmo que sem elementos, argumentos, sinais nem sintomas. O isolamento fronteiriço diante do perigo eminente das esquinas imposto pela (des)comunicação, caracteriza os lares como casamatas, em que todo peregrino ao redor ou até léguas distante é inimigo, mesmo se ele lançar apenas um olhar para o nosso mundo prontificado de coisas, gente e ofícios. Não há mais espaço para a sensibilidade, para a alteridade muito menos para a fraternidade, coisas geometricamente incabíveis em nossa estante de figuras admissíveis e ornamentais, considerando lixo antiestético não reciclável até as latas dos poetas, fatalmente passíveis de banimento, como aconteceu com aquele que um dia, ouvia-se da janela entreaberta. Somos infantaria, armados de desconfiança, objetivismo e vigilância. Cuidado, não se aproxime, podem acabar contigo, é o lema social em vigência, pauta pseudo-pedagógica da (des)informação. Pois corre no ar e nos espaços algorítmicos o alto risco de contaminarem o seu intocável status quo, turbando suas estruturas ou burlando sua paz adquirida não importando se natural ou artificiosamente, tampouco forma ou conteudo da mesma. Foi assim que o novo envelheceu, amordaçaram a palavra e torturaram o sentimento. Mundo abstrato das escolhas, nós queremos é confrontar. Não nos interessa se o processo não é devido ou legal, tampouco justo, temos competência para acusar, julgar e sentenciar. As novas amizades, prestes a virar tipificação, elencadas portanto no rol das loucuras e ameaças, como crime nos códigos que ressuscitamos do medievo passado que condena todos que não os nossos ao estigma de estranhos. Tudo isso e eu aqui na praça, com uma flor nas mãos e apenas iria embora...então, depois do susto que eu não criei, levantei-me, fui até a fonte central e coloquei a flor na água...ela acompanhou a corrente, passando a girar em círculos, até desaparecer no espaço...porque a complexa vida urbana nos tempos de hoje não comporta mais gestos, pensamentos ou atitudes que se assemelhem ao simples ofertar de uma flor. As pétalas e os valores humanos, dissolvendo-se na correnteza dos descaminhos racionais pela inversão dos seus sentidos, eu aprendi. Não se releva, porque amanhã tem sol, dias melhores de felicidade e eu, lamentavelmente mas por educação, esquecerei daquela praça...  

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Contos sob a copa das Araucárias


 O MEDO e o VENTO 



Num lugar nem tão distante, mora o meu medo. Medo que eu chamo de indiferença, para que eu não sofra aquela temerosa sensação. Às vezes digo que é insignificância, alhures devaneios, passado. Não perco tempo em procurar outras palavras que adjetivem esse eventual momento, pois me habituei instantaneamente a defini-lo, sempre com desprezo, lonjura e tais. Todavia, quase nunca preciso fazer isso, porque são raras na minha lembrança essas deselegantes situações do meu alinhado ego retilíneo. É que o vento, de vez em quando, me leva sem saber onde. E nalgumas vezes passo perto de lá. Um muro alto, feito de pedras, sem portões nem entradas, praticamente intransponível. Na volta, a tranquilidade toma conta de mim, um alívio refrescante por me afastar daquilo. Mas quando eu estou mais perto de casa, da minha casa, eu redireciono o pensamento evitando me aproximar das verdades, que já são plurais. Sei, por exemplo, que o muro foi construído por mim. Como justificativa para que eu não possa reconhecer o que existe do lado de lá. Ou seja, cada vez que eu chegar perto, sou obrigada a retornar, diante do obstáculo, não importando se ele está dentro de mim mesma. Mas muito me ajuda o desafio de lutar contra o vento, por me reencontrar ciente da solidez de minhas convicções, que me permitem ir aonde for, sem pestanejar. Assim, posso compulsoriamente, combater aquele lugar distante onde mora o meu medo. É o meu medo de amar, amar a pessoa que está do outro lado do muro. Esse alguém determinado, conduz o seu amor por mim em inimagináveis candura, intensidade e leveza. Alguém que eu guardei dentro de mim, na clausura do quarto das minhas convicções, onde não há janelas através da quais eu pudesse conhecê-lo. Ele está inerte em mim. Verdadeiramente, o grande amor em minha vida. Estranho, porque mesmo assim, ele me faz abstrata e surreal companhia. Não quero nem pensar se não existissem muros, convicções ou coragem, principalmente para procurar saber sobre a origem ou o sentido do vento...  



sábado, 15 de fevereiro de 2014

Navegando em Continentes







Flagrantes da I-n-t-e-r-s-u-b-j-e-t-i-v-i-d-a-d-e




-“Mas por que tu não queres mais ninguém?”  

-“Ah não...se fosse para querer, provavelmente eu mudaria tudo. Então, seria uma mulher genuinamente intelectual. Que me ensinasse sobre literatura, orientasse-me sobre ciência política e me lembrasse da história do Brasil. Que fizéssemos uso racional do tempo, indo juntos ao teatro, às livrarias e aos bares com música ao vivo. Que me trouxesse a emoção do abraço, do carinho e dos cafunés. Que partilhássemos do álcool moderado, de um pouco de futebol e das relações sexuais com frequências inteligentes. Que transformássemos as viagens, os amigos e os diálogos numa habitualidade. Que praticássemos a alteridade, a solidariedade e a espiritualidade pela natureza. Que respeitássemos equilibradamente o trabalho, os espaços, as individualidades e a paz privativa de cada um. Que morássemos num lugar de portas e janelas abertas, com alguns cães correndo pelo jardim e às vezes descansando à sombra das árvores. Que não temesse o sol, a chuva, as noites sem luar e a verdade. Que tivesse consciência de que reciprocidade e respeito são condições essenciais para a manutenção e justificação de um relacionamento mútuo. Que não tivesse vergonha de chorar em minha frente e de que eu fizesse o mesmo em seus braços. Que não tivesse vergonha de sorrir ao meu lado e de que eu fizesse o mesmo distante dela, e tudo sempre vice-versa...” 

-“Mas tu não estás sendo muito exigente com tudo isso?”    

-“Não são exigências, são somente consequências das coisas que aconteceriam se ela apenas acreditasse em mim, e eu nela. Se ela vivesse por ela, eu por mim e sonhássemos por nós dois. Mais nada.” 

-“Mas pra isso seria necessário anos de convivência...” 

-“Nem tanto...penso que é mais uma questão de lugar, aonde as pessoas estão vivendo, longe ou perto. Por isso eu não quero mais ninguém. Bastaram-me as portas da imaginação, elas não têm chaves..." 



  "ONE OF US"  /  Joan Osborne  / by Gabriella Quevedo  



quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

AUTORALLIA << Metropolitanos / por Bertold Brown



 METROPOLITANOS 
A cidade, é nada menos do que um grandioso e bestial condomínio. Vizinhos de todos os tipos, em almas de todos os credos, algumas inclusive sem fé. Corpos de todos os jeitos, em organismos de todos os gostos, alguns inclusive sem vida. Estes e tantos outros perambulam diuturnamente entremeio a obras de engenharia. As ruas são corredores que permeiam-se pelos bairros blocos. Um síndico qualquer foi eleito pela maioria ignorantemente despolitizada para administrar o impossível. Uma infinidade de cinza para quase nenhum verde dá o tom matriz do ambiente urbano. Gente produzindo lixo inorgânico e abandonando-o pelos prédios portarias. Habitantes moradores respirando fumaça invisível pensando ser oxigênio. Banham-se de chuva ácida se sentindo refrescados. Partes comuns são nada ideais, não dando espaço para o tempo. E o mau cheiro que predomina nas escadarias, pelo soterramento de rios poluídos de correnteza morta através de enormes máquinas cor de ouro e prata. Já não se veem mais crianças nas praças pátios, por existirem todos os tipos de vizinhos e seus respectivos perigos revelados pela notícia nos aparelhos murais. A cidade, que poderia ser muito mais do que um bestial e grandioso edilício, ora imponente removendo o azul do céu da contemplação por parte dos habitantes moradores, ora tombado pela vontade pontual do plano diretor, sempre expondo a cor predominantemente pálida do presente. Todos se deslocam entre duas manhãs, no mais previsível cotidiano que se transformou passivamente em rotina satisfatória. Pergunto-me se, para saber qual seria o futuro da cidade, alguém teria de ficar aqui... 


Contos sob a copa das Araucárias


 O BAILE 



Quando ouvir alguém, dizendo que você não conseguirá passar o resto de sua vida sozinho, não é preciso indignar-se. Pois a totalidade das pessoas que pensam assim, é incapaz de se imaginar vivendo sem alguém ao lado. Elas necessitam de outra pessoa para chamar de sua, de certa forma justificando-se socialmente, deixando por onde passam, rastros de aparente felicidade. Continue assim, acreditando que a vida é muito mais do que uma imagem a dois. Sabendo que mais do que ter alguém ao lado, é sentir que existe outro alguém por dentro. Um outro alguém que não aparece, mas sempre acompanha. Que nunca volta, porque nunca vai. Isso sim, a gente pode chamar de amor. E sentir um amor assim, é viver em absoluta companhia, sem qualquer risco de acharem que você está só quando não estiver com alguém ao seu lado. É ir por onde for, sem precisar chamar, convidar ou esperar por alguém. Porque aquele alguém por dentro, espalha-se ao redor, ocupa todos os espaços, todas as vontades e todos os sonhos. O orgulho de seguir, sozinho para os outros, mas plenamente acompanhado por aquele alguém certo, determinado, singular. Também por essa companhia ser um segredo, um doce mistério, um verdadeiro e cativo sentimento, o que torna o resto de sua vida muito mais aconchegante, repleta de sentidos. Reconhecer que você é a única pessoa no mundo que sabe o que você sente, o que você quer e o que você sonha. Por isso, você estava sorrindo naquele baile, sentado na mesa vazia. Aqueles, disseram que você precisava arrumar alguém. Outros, queriam que você fosse dançar. Ninguém arriscou dizer que você estava amando. Porque ninguém escutou a sua música, ninguém viu o seu amor. E porque vazia, era só a mesa...  


domingo, 9 de fevereiro de 2014

ACADEMIAs


E se eu te abraçasse amanhã? Descerias do céu antes ou depois deste amplexo? Nota que as dúvidas estão todas contigo, disfarçadas de uma única certeza. Trabalha melhor esta, posto que é equívoco, indução a que foste levada por tradição, razão de tua busca sempre tangencial. Incrível é que vives no mundo celeste da grande angular, e mesmo assim não avistaste ainda com os olhos certos o teu amor maior. Passou por tantos outros, elevou com muito esforço a ti, os coitados de âmago despojado, todos passageiros itinerantes, quedaram-se em vão. Encerra logo essa tua trôpega marcha alheia, porque sabes muito bem onde deve ser cadente. Basta afastar-te das nuvens inventadas e voltar tuas mãos na direção daquele meu abraço. Quem sabe - e dependerá apenas onde deitares teu colo - terás o carinho que mereces, bem conduzindo esse teu coração trajado a rigor que vejo nu por reconhecer que eu te amo... 




"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."   

 - CLARICE LISPECTOR - 


sábado, 8 de fevereiro de 2014

Asas & Ícaros - James Blunt


 "SAME MISTAKE" 
 James Blunt 


 Mesmo Erro 

 Então, passo o tempo me revirando nos lençóis  /  E mais uma vez, não consigo dormir 
 Saio pela porta e subo a rua  /  Olho as estrelas debaixo dos meus pés 
 Lembro de coisas certas que fiz erradas  /  Então, aqui vou eu  /  Olá, olá 
 Não há lugar que eu não possa ir  /  Minha mente está confusa, mas 
 Meu coração é pesado, ele se mostra?  /  Eu perco o caminho, que me perde  /  Então aqui vou eu 
 E então mandei alguns homens à luta  /  E um deles voltou na calada da noite 
 Eu disse: "Você viu meu inimigo?"  /  Ele disse: "Se parecia com você" 
 Então eu saí para cortar meus pulsos  /  E aqui vou eu 
 Eu não estou pedindo uma segunda chance  /  Eu estou gritando com toda a minha voz 
 Me dê razão, mas não me dê escolha  /  Porque eu apenas cometeria o mesmo erro, de novo 
 E talvez um dia nós nos encontremos  /  E talvez possamos conversar e não apenas falar 
 Não cobre as promessas, porque  /  Não há promessas que eu cumpra 
 E minhas reflexões me incomodam  /  Então aqui vou eu 
 Eu não estou pedindo uma segunda chance  /  Eu estou gritando com toda a minha voz 
 Me dê razão, mas não me dê escolha  /  Porque eu apenas cometeria o mesmo erro, de novo 
 Eu não estou pedindo uma segunda chance  /  Eu estou gritando com toda a minha voz 
 Me dê razão, mas não me dê escolha  /  Porque eu apenas cometeria o mesmo erro, de novo 
 Então, passo o tempo me revirando em meus lençóis  /  E mais uma vez, eu não consigo dormir 
 Saio pela porta e subo a rua  /  Olho para as estrelas 
 Olhe para as estrelas, estão a cair  /  E eu me pergunto 
 Onde foi que eu errei? 


[A Sinceridade] - segundo James JOYCE, em 2 tempos


 1 
Ninguém presta à sua geração maior serviço do que aquele que, seja pela sua arte, seja pela sua existência, lhe proporciona a dádiva de uma certeza. 


 >> "O Que você Quer Saber de Verdade"  /  Marisa Monte 

 2 
Fizeste que eu confessasse os pavores que tenho. Mas vou te dizer também o que não me apavora. Não tenho medo de estar sozinho, de ser desdenhado por quem quer que seja, nem de deixar seja lá o que for que eu tenha que deixar. E não tenho medo, tampouco, de cometer um erro, um erro que dure toda a vida e talvez tanto quanto a própria eternidade mesma. 


Declamar é Viver


 Manoel de Barros 
 "Difícil Fotografar o Silêncio" 
 por Antônio Abujamra 



Matri & Monium


 "O Vento" 
 Jota Quest 



quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

hERMENÊUTICA <> cORRENTEZA / bOCA lIVRE

SINOPSE 
Esta bela música de Tom Jobim & Luiz Bonfá, fala sobre um amor determinado, mas renegado por alguém que não o reconhece. Enquanto a natureza se move, sugerindo acompanhar a correnteza da vida, para aquilo tudo que é maduro, os dias de chuva chegam e afastam as possibilidades do encontro pessoal. Porém, mesmo com as intempéries do mau tempo, este encontro sempre seguirá marcado no sonho de quem está amando..  


 "cORRENTEZA" 
 pOR bOCA lIVRE 


 DANDÁ 
Vem. Destrói teus muros, desfaz teu véu, desnudando tua alma branca que eu sei. Abandona tuas convenções, rasga teus acordos, guarda tua fantasia para outras horas que não de mim, porque agora é a nossa vez. Isso, completamente nua, avança em minha direção como se eu fosse presa, quebra minha defesa de ti e arranca-me o tempo que guardei para nós dentro desse meu coração fidelizado. Ato perfeito, pela importância em nossas vidas, longe de qualquer aparente violência mundana figurada na distância. Mais do que simbolicamente, toma-me nos braços e sorve a água que alimenta tua sedenta companhia tão imaginária. Sim, faz tudo isso que será tua libertação, por enfim matares o teu medo de nós, no sentido de que os poetas devem respeitar o que está escrito. Podem tergiversar sobre os descaminhos, o que lhes é aprazível, mas não se pode evitar o lugar para onde são conduzidos por suas palavras.  Porque também foram elas que me levaram a ti, mas foste tu que entraste em minha vida afetiva. Fizeste isso na forma de emoção, que eu não consigo imaginar como seria a vida ao teu lado. Não consigo imaginar como é a felicidade. Então vem. De braços abertos, sorriso contido e de olhos cerrados, na vã tentativa de esconder o imensurável sentimento que mantenho por ti, estarei te aguardando na esquina de nosso futuro. Se escorrer uma lágrima em tuas mãos, não ligue, é nada mais do que o meu amor, vertendo em tua vida natural de correnteza... 

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

AUTORALLIA << Pelas tuas mãos / por Cecília Faroll




PELAS TUAS MÃOS 
É preciso sair de algum lugar e conceituar o indefinível, em razão dos sentidos. Então, já no caminho, a subsunção da realidade nos conta que realmente há uma distância entre eles, mas que não pode ser medida. Talvez, descobrir o que lhes separa, encontrando o elo fundamental que os une. Este, provavelmente situa-se num portal a ser atravessado, além de um prisma a ser transposto, ou simplesmente sobre o mesmo ponto na linha de junção dos dois planos de existência. Lá, ou simplesmente ali, provocando-se o gesto por um entreolhar, o toque das mãos, a timidez dos sorrisos, o enrubescer no abraço. Aqueles inocentes atos, os quais nunca deixarão de ser importantes vias de acesso, fundamentais para a transcendência do destino, ou seja, o seu acontecer. Tudo é normal e belo, quando se tem um vitral delimitador, que é ao mesmo tempo convidativo à nova vida. A sina da mais bela entre as descobertas, a ser realizada pelos sujeitos semelhantemente fractais. Tamanha identidade, são paralelas precisando se tocar, assumindo o desafio à ciência em desobediência ao seno cartesiano, mas sobretudo em consideração ao destino complementar. Fossem românticos, diriam que seria a temporada das flores. Mas como são humanamente renitentes, ainda necessitam se aproximar...