sábado, 26 de agosto de 2017

Crônica Cotidiana 51




Acidente ou Probabilidade? 

Sábado típico na cidade imprevisível das pessoas atávicas. Direito de ir e vir. Ausência de ementa, conflitos sobre o asfalto parecem gametas em inseminação artificial, poucos desembocam na justiça para reprodução. O ligeirinho atravessado no cruzamento do 1º DP sem um pedaço da lataria, imaginar o que sobrou da estrutura da vítima, já não mais ali entre os curiosos, a turba hematófila. Um ônibus da J. Araújo trancando o caminho na curva da Dr. Faivre – aquela que ninguém sabe pronunciar ainda. Mas era porque outro ônibus da mesma empresa não ficou bem colocado em sua pista lá na frente. Dois Jotas A. é demais para uma corrida só. Alguém da Chácara Strapasson abriu repentinamente a porta do utilitário estacionado assustando o carro da frente. Na calçada, uma franguinha usando roupas como em Floripa 35º. As gordinhas adoram esse invernico, desfilando com suas calorias somatizadas no frio recente ocorrido no outonico. Um old-magia dentro de sua BMW queimando combustível fóssil sem prever o futuro próximo da humanidade, ele pode, ele acontece, ele é gente que faz, não importa o quê. Solano avisou o casalzinho de um Celta que a porta de traz estava aberta, o motorista assustou-se, estava bolinando a moça no sinal: Jesus guiava o carro, no próximo culto alguns trocados pagariam a penitência pelo pecado cometido. Solano, que recém comemorara cinquentenário, ia buscar alguém no centro, de carro. Quarta-feira passada, uma mocinha ofereceu-lhe lugar no ônibus: dez anos em uma frase, o tempo não para nem voa, ele assola. Pedestres ainda andam na via, motoristas ainda ocupam calçadas. Os motoqueiros daqui não chutam espelhos, preferem seguir menos errantes. Soraia, a irmã de Solano aguardava a carona enquanto terminava de fumar o primeiro maço do dia, antes do almoço, na justificativa de abrir seu apetite. Ela entrou no carro, ele quase vomitou com o dor da fumaça, impregnada nos cabelos, bela e ineficazmente tingidos de louro. Pense num cinzeiro embaixo de uma almofada ambulante, era ela, a irmã de Solano, que aguardava sem saber, o dia de ser a sua vez no SAMU. As ruas não mais têm cheiro de gasolina, elas têm uma textura reptiliana, cujo atrito desanima sair de casa. Vivêssemos então na beira-mar, onde não existem sapateiros. Aluízio, o pretendente para o qual Soraia se preparou, tentava naquela manhã em sua casa, remover de seu púbis uma feridinha teimosa que adquirira com a vizinha no condomínio onde morava, há meros três meses pensava ele, negando-se a reconhecer que seria oriunda de uma noitada com prostitutas a cinco anos atrás, sem preservativos. Acidentes ou probabilidades? O comportamento das pessoas em trânsito, a saúde de um jovem casal e de outro iminente, mais que adulto, como tudo isso se desenvolve? Está escrito, aonde? Vai se adaptando, como? Tem um tempo certo para se conhecer alguém, quando? O destino paira realmente sobre todos, por quê? Sinal vermelho para as perguntas, que circulam irregularmente pela cidade sem habilitação. É preciso muito mais que habilitação para se conduzir as coisas. Solano, também não sabe o que é..                                                                                                                                                                          


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