Ela.
Quem é ela? Eu não sei. Não pude desvendá-la. Vi
e ouvi muito pouco, sequer a toquei. O conhecer, respeita uma gama de sentidos.
Não sou superficialista, jamais responderia tal questão sobre alguém que desconheço. E o tempo
resolve. Faz de sua tarefa principal, a transformação, uma espécie de alforria
social. Sua ação bem engendrada e gradiente, vai aos poucos nos fornecendo
instrumentos para melhor lidar com as pessoas que encontramos e as que
perdemos. É assim, simplesmente ou não, como queira enxergar. Mas essa que você
vê e me pergunta, já não é mais ninguém. Agora sim, uma ficção. Um ser
imaginário, produto de um mundo extremamente realista, paradoxo este que me
alimenta sem comida. Fosse eu roubar coisas do passado ou do nada, seria real e
perderia a graça como as biografias não autorizadas. Sou um homem, mas não por
necessidade tenho uma mulher fictícia em meus textos. Como ela não existe, eu
não sei por que razão ela vem. Não é necessário saber. Invento uma criatura, sem
corpo nem imagem, e a faço correr pelos campos dos meus textos. Geralmente está
nua. Nem eu a desejaria, posto que inexiste, já disse. Às vezes, criamos coisas impróprias na vida, só para acalmar ou agitar as nossas próprias coisas. Dar-lhes um sentido. Sem nome
nem endereço, ela passeia por aqui. Minha última companhia, a mulher que eu não
amaria. Sei disso, mas não escrevo, isso. Toda ficção, precisa de outra
personagem que não o protagonista. Do contrário, a solidão seria monótona em
demasia. Ninguém leria, a mulher que, por não existir, eu não amaria. A vida de escritor é limpa e crua, mas não é uma vida cosmética: é insípida, inodora e incolor. Não a arte da palavra, mas o
coração do autor...
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