Dois antônimos no mesmo texto: o
conservador e o poeta.
Enquanto os primeiros gostam de compotas, os outros preferem
plantar, digo, escrever.
Todos podem, se quiserem, tentar resgatar
amores perdidos. Mesmo que não saibam que por terem sido perdidos, não eram ou
nem foram amores. Muitos, voltam atrás por este descaminho. Grande parte por
conhecer a estrada, suas curvas e atalhos e paradas e tais. Preferem recuperar
e conservar o velho trajeto, do que arriscar a novidade, ou ainda, do que
levantar coragem para abraçar a paz da solidão. Deixam de lado seus escrúpulos,
sua honra e até sua dignidade, para se submeterem aos caprichos do passado, não
obstante, infeliz. Abdicam da felicidade, em nome de uma pseudocompanhia, o que
vale é parecer bem, ao lado de alguém. Mas acontece que as virtudes deixadas de
lado, são fundamentais para o porvir. Todos, irão precisar delas amanhã. Não
hoje, pois já fizeram do presente, a perpetuação do passado. Lembro-me do
passista com a dançarina de pano grudada em suas mãos e pés. Do ventríloquo do
circo que se foi para o sul. Quase espetáculos. Mas também me lembro dos
poetas, estes seres imprescindíveis que não voltam ao passado. Tudo o que o
poeta faz, é escrever sobre o tempo. Mas sem recorrer física nem sentimentalmente
às pessoas, ou às relações acabadas. São os que têm o maior domínio sobre o
tempo. Por isso, seu espaço é crítico. Ninguém pode dominar duas dimensões
assim, juntamente. Por isso, o refúgio do poeta. Procura lugares afastados,
ermos, silenciosos. Somente lá, é onde ele pode ouvir o seu amanhã. Que é só
dele, e não dividido com alguém. O poeta mente, que apenas lhe preocupa ou
interessa o presente. Esta mentira, é só para esconder que a sua mão está com
os dedos no amanhã. Revolucionário, ele muda tudo ao redor através do ato da
escrita. Em geral, não é só poesia. Essa revolução, permite compreender que
poesia é gênero; poema, prosa, conto, crônicas, são todos espécies, filhos da
poesia. Assim é também com a música, pois Caetano é poeta antes de músico. E o
melhor poeta do país. Pois poesia, é o ato de deitar-se sobre o papel, e não o
que cabe nele. É a forma de sentir o mundo e não apenas vê-lo. Eles não querem
a alcunha de poetas. Mas repudiam indignadamente se chamados de conservadores. Portanto,
o tempo esta nas mãos dos poetas. Sua única angústia, é deslocar-se no espaço. Precisam,
a todo tempo, de um canto para refletir, digo, escrever. Então eles fogem do
mundo dentro do mundo, atrás daquele canto. Aos conservadores, nada é preciso
perguntar, já sabemos do mesmo. E se perguntassem ao poeta qual seria o
mistério da vida, ele levaria para casa a resposta. Sua veia de observador, só
drena quando em seu canto. Canto que pode ser uma estrada, uma praia, um céu.
Poetas não fazem confissões, porque sua verdade é nua. Ela pode chocar os
espectadores, os perguntadores, os conservadores. Acostumados, eles sempre estão
partindo. Seres antagônicos, necessitam manter distância entre si, para o
equilíbrio do planeta. O mistério de Dalton, é uma visão externa que fazem
dele, de seu ostracismo voluntário e particular. Ele, não tem mistério algum. Ele
tem angústia. De permanecer ali onde ele mora e todo mundo sabe. Só não sabem,
que ele não fica ali: ele escreve, e vai. O que seria então o amor, para um
escritor? É uma resposta que ele, esteja onde estiver, está levando para o seu
canto...