quarta-feira, 30 de novembro de 2016

PHotoesia


Do ente
Algo do ser,
Ou alguém enfermo?
Contraindo, dente
Mas como, se dente sorri?
Sorridentes,
Estamos desacostumados a ser assim
    indivíduo,
    um que não se divide
Na divisível cidade
Cada cidadão
Sem a concepção
De que o maior irmão
É o mundo
Plateia sem fundo
Plural, diverso
Total, diversão
E todas aquelas coisas
Sadias do coração...




Sempanhia - parte final.





segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Photoesia


Céu
Estante da Terra
Onde cada amor é uma estrela
Cada estrela, uma história
Cada história, um livro
E os livros no firmamento..
Onde a estrela que se vê
Pode ser do livro que já fechou,
Da história que se acabou,
Do amor que já viveu,  
A luz que morreu..
Olhar para a noite
É estender o braço do pensamento
E apanhar o volume na estante
Em respeito à emoção
Em louvor ao coração
Em consideração à vida
Essa diária chance que temos
De embelezar o universo
E registrar isso no papel
Na livraria do céu,
A memória do amante
Que hoje lustra a estante
Mesmo ausente de sentimento
Mas com muito discernimento
Para identificar uma rara estrela,
Polir direito um móvel,
Contar uma bela história,
Escolher um bom livro,
Ou reconhecer um grande amor...






Fuga ao Tema


 Dois antônimos no mesmo texto: o conservador e o poeta. 
 Enquanto os primeiros gostam de compotas, os outros preferem plantar, digo, escrever. 



Todos podem, se quiserem, tentar resgatar amores perdidos. Mesmo que não saibam que por terem sido perdidos, não eram ou nem foram amores. Muitos, voltam atrás por este descaminho. Grande parte por conhecer a estrada, suas curvas e atalhos e paradas e tais. Preferem recuperar e conservar o velho trajeto, do que arriscar a novidade, ou ainda, do que levantar coragem para abraçar a paz da solidão. Deixam de lado seus escrúpulos, sua honra e até sua dignidade, para se submeterem aos caprichos do passado, não obstante, infeliz. Abdicam da felicidade, em nome de uma pseudocompanhia, o que vale é parecer bem, ao lado de alguém. Mas acontece que as virtudes deixadas de lado, são fundamentais para o porvir. Todos, irão precisar delas amanhã. Não hoje, pois já fizeram do presente, a perpetuação do passado. Lembro-me do passista com a dançarina de pano grudada em suas mãos e pés. Do ventríloquo do circo que se foi para o sul. Quase espetáculos. Mas também me lembro dos poetas, estes seres imprescindíveis que não voltam ao passado. Tudo o que o poeta faz, é escrever sobre o tempo. Mas sem recorrer física nem sentimentalmente às pessoas, ou às relações acabadas. São os que têm o maior domínio sobre o tempo. Por isso, seu espaço é crítico. Ninguém pode dominar duas dimensões assim, juntamente. Por isso, o refúgio do poeta. Procura lugares afastados, ermos, silenciosos. Somente lá, é onde ele pode ouvir o seu amanhã. Que é só dele, e não dividido com alguém. O poeta mente, que apenas lhe preocupa ou interessa o presente. Esta mentira, é só para esconder que a sua mão está com os dedos no amanhã. Revolucionário, ele muda tudo ao redor através do ato da escrita. Em geral, não é só poesia. Essa revolução, permite compreender que poesia é gênero; poema, prosa, conto, crônicas, são todos espécies, filhos da poesia. Assim é também com a música, pois Caetano é poeta antes de músico. E o melhor poeta do país. Pois poesia, é o ato de deitar-se sobre o papel, e não o que cabe nele. É a forma de sentir o mundo e não apenas vê-lo. Eles não querem a alcunha de poetas. Mas repudiam indignadamente se chamados de conservadores. Portanto, o tempo esta nas mãos dos poetas. Sua única angústia, é deslocar-se no espaço. Precisam, a todo tempo, de um canto para refletir, digo, escrever. Então eles fogem do mundo dentro do mundo, atrás daquele canto. Aos conservadores, nada é preciso perguntar, já sabemos do mesmo. E se perguntassem ao poeta qual seria o mistério da vida, ele levaria para casa a resposta. Sua veia de observador, só drena quando em seu canto. Canto que pode ser uma estrada, uma praia, um céu. Poetas não fazem confissões, porque sua verdade é nua. Ela pode chocar os espectadores, os perguntadores, os conservadores. Acostumados, eles sempre estão partindo. Seres antagônicos, necessitam manter distância entre si, para o equilíbrio do planeta. O mistério de Dalton, é uma visão externa que fazem dele, de seu ostracismo voluntário e particular. Ele, não tem mistério algum. Ele tem angústia. De permanecer ali onde ele mora e todo mundo sabe. Só não sabem, que ele não fica ali: ele escreve, e vai. O que seria então o amor, para um escritor? É uma resposta que ele, esteja onde estiver, está levando para o seu canto... 



domingo, 27 de novembro de 2016

Sempanhia


A música,
É o contraponto
De tudo o que eu não tenho
Daquilo que eu não sou
Do amor que eu não sinto
Sem música,
Eu quereria ter outras coisas
Ser alguém diferente
Ou que fosse amado
Com ela,
Penso que tenho o suficiente
Encontro-me satisfeito
E me sinto bem, sozinho
Por isso ela não para
Ora toca no peito
Ora na sala
Ela,
Ora música
Ora a bela
Às vezes casa
Às vezes janela...


"This Right Here"  -  Markéta Irglová




sábado, 26 de novembro de 2016

Photoesia


Chovendo Estrelas

Eu,
Perdi o controle da noite
Passei a me encontrar de madrugada
Mente em claro na escuridão
Em corpo que só queria repousar
Descansar do breu diurno
Das pessoas obnubiladas
Cegas por omissão ou vontade..
Eu,
Morador da cidade
Tenho fogueira dentro do quarto
Que queima as minhas horas
E arde um vazio no peito
Onde eu tenho oxigênio em demasia
Língua de fogo que não fala
Labareda que atravessa o tempo
Mudo
Em louvor e rito á solidão
Essa vagabunda que se diz companhia
Falsa amiga
Que não apaga esse fogo, não
Vê, eu me consumindo
Morrendo a cada dia neste lugar
Com desejos de ir embora
Para enfim quedar longe
Num local onde não haja cinzas
Que fosse limpo
Tão limpo que pudesse ver o céu
E as estrelas caíssem
Molhando a minha fogueira
Até o último pau de madeira
Para que eu possa seguir,
Leve
Com o tórax cheio d’água
Um cantil no lugar de alguém
E quando eu pensar nela,
Tomo goles de ninguém
Sem calor que me fizesse sonhar
Sem sonho, desejar
Sem coração, amar
Apenas caminhar
Mesmo na madrugada
Mas então com o frescor do sereno
Sobre a pele ressecada,
De tanto silêncio
Sobre a carne resfriada,
De tanta indiferença
Sobre o espírito livre,
Do desamor que me ofertaram..
Aquela mulher
Lindo deserto que eu percorria
E eu não sabia
Que a cada nova chama
Em desencontro eu partia
Na direção contrária do mar
O chão era de areia,
Mas só para me enganar
Um motivo para que eu me deitasse
E dormindo, 
   tudo pudesse realizar...













sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Sessão Namorico



Teu medo, é circunstancial. 
Preso a uma condição de tempo, lugar ou modo que a envolve em determinada situação. 
E assim, torna-se relativo. 
Afastada tal condição, cessa o medo. 
Do escuro, do bicho, da sombra, do amor. 
É ele uma sensação ligada mais ao desconhecido que ao teu corpo. 
Teu corpo, é o contrário disso, pois ele é fortaleza. 
Onde podes guardar todas as armas e armadilhas para tua defesa, mesmo que não ataques, até porque não é esta a guerra. 
Identificar tua casa assim, é preciso. 
Não será noite, nem animal, nem alguém ou nenhuma emoção que te prenderá nos teus lugares. 
Tu, és quem te aprisionas, em clausura própria, a qual chamas de não sei, mas sabe que é medo que não reconheces. 
Imaginas, por um momento, que o amor fosse absoluto. 
E que por isso, ele te trouxesse toda a harmonia de uma companhia. 
Se conseguiste, imaginar, tens a prova de que o temor é circunstância. 
E de que há algo maior que o temor. 
Rima com ele, combina com ele, namora com ele, que é o teu amor... 


    Daíra canta "Pequeno Mapa do Tempo", de Belchior



Poema do Sol Acanhado


 As roupas demoradas no varal diurno 
 Flores úmidas pedindo o fim do sereno 
 Os cães em vigília sobre o piso morno 
 Faca que pouco reluz em brilho fosco 
 Caixa do correio trincada de esperanças 
 Porta-retratos novos guardados na estante 
 Olhar para o chão dentro do elevador 
 Atenção multiplicada em temporada de silêncio 
 Estagnação em frente ao endereço 
 Suor frio como lava derramada no mar 
 Vontade de que tudo fosse mais, 
     quente 
     justo 
     e sem vergonha... 




sábado, 19 de novembro de 2016

Sessão Indicadores Sociais




Os Caçadores da Razão 
E eles vão seguindo os seus descaminhos. Sentindo-se nas estradas do popularesco “rei do iê-iê-iê”, aquele fanho que deu certo na sociedade de consumo. “Compre o CD e passe o natal com RC”, diz a chamada, ignorando o viés consumista e portanto descartável da coisa. Nem olham direito à frente, praticamente fixam sua visão nos acostamentos, à cata de razões de toda natureza. Qualquer objeto serve para argumento. Este, previamente concebido, aguardando a próxima barraquinha, ou o que tiver pelo chão. Às vezes, são chamados de juízes de pequena monta, minidesembargadores, pseudo-excelências de plantão 24 horas, prontos para a clássica tríade acusar/julgar/condenar quem se atreva cruzar seu ambiente. Aquele juízo permanente sobre tudo e todos, não tarda em alcançar fundamentos, os quais não passam de outras coisas transformadas em fundamentos, claro que à sua ótica cega, injustificável perante a verdade. Mas assim está bom, o que eles querem é rosetar. Têm, tais incautos, respostas para tudo, reparem. São o máximo em experiência, paladinos da modernidade. Vivem retrucando, dizendo “não é isso”, “não é assim”, “não tem nada a ver”, distorcendo assuntos sob a luz de sua lanterna sem pilhas. E como enchem o saco, esses idiotas. Bilhões de pessoas no mundo e a razão mora no ego do peito e jorra da boca dessa gente imediatista, calculista, mas que nunca vai ao dentista. Mas tem jeito de lidar com esse povo. Basta jogar na sala o silêncio, seguido de uma troca brutal de assunto: eles ficam possessos, pois aí são obrigados a catar novos motivos ou explicações pelo caminho do papo... e não vem, não tem... demora e eles perdem-se na finitude do próprio ego. É uma delícia fazer isso, vê-los no desespero da busca. Por isso são caçadores, outra espécie de bicho que vive nas selvas, porção animal aflorada em quase estado de natureza. Sim, eu me afasto dessa gente. Tenho outra concepção de sociedade, de convivência. Tenho dúvidas, sobre as coisas que eu não sei, não vi, não li, nem experimentei. Algumas, formei opinião ao longe, mas sem catar materiais e transformá-los em respostas; respeito o desconhecido, não me atrevo sobre ele. O fiz, à maneira do observador quase científico. Sim, eu mudo minhas convicções, nem eu sou eterno. Não permaneço em cima do muro, aquilo que desconheço, sem domínio fico de fora. Desconfie destas pessoas, as “pessoas prontas” que sabem de tudo. Seu lema é a definição, passam longe do que necessitar conceito, reflexão ou contexto. O que elas fazem, é tentar se aproveitar de nossa bondade, pois só querem estar por cima da carne seca, com a mão na cereja, no topo da razão, o cume da sabedoria. O povo do cume, onde brota tanta coisa que não presta. Tive paciência, não ofendi ninguém, aprendi a trocar de tema e deixar-lhes perplexos, só isso. às vezes, vou embora; também aconteceu com algumas mulheres, saí à francesa. Minha defesa não foi ataque, apenas mudança de território, em todos os sentidos. Quando vejo alguém assim, percebo carências, inseguranças, necessidades de auto-afirmação, fraquezas. Coitados, desses indivíduos que possuem o mundo na ponta da língua. Que vida ácida que eles levam, sem provar as doçuras da existência. Eles nunca poderão beijar, lamber, nem chupar direito... 


sexta-feira, 18 de novembro de 2016

J. Trivial, falando sobre ESTRADA




Numa estrada
No meio do deserto
Norte e sul,
    são iguais
Direção ou outra,
    tanto faz... 


A carona,
Que nunca virá
Afasta a pessoa de sua viagem
Jamais de sua estrada..


O que era uma reta
Fez-se um grande círculo
De tanto que se repetem
Os desvios no caminhar..


Ora poeira
Piso de areia
Descalça ferida
No chão da sobrevida..


Mulher só
Não caminha sozinha
Leva na bagagem
Até o que ela tinha..


O silêncio da cidade
E o deserto da estrada
Têm em comum
A veneração do nada..


E no asfalto aqui ao lado,
    direito do peito
Passeio a vida
A contemplar a beleza
Da paz de tudo o que não aconteceu..


Neste meu caminho
A mão é única
E a paisagem
Uma mentira para voltar..


Reconhecer um deserto
Aonde quer que se esteja
É prova da experiência
Daquele que aprendeu
Os limites de uma esperança..


Poesia
São pedras pelo caminho
Que uma vez limpas,
    separadas e preparadas
Vão sendo transformadas em palavras
Deixando para trás
Uma história um pouco mais livre...


Minhas paradas,
Pernoites ou pousadas
Nunca foram hospedaria
Permaneci atento,
Em abrigos de poesia..


Eu queria
Que minha estrada fosse natural
Não construída pelos homens,
    e sua pretensâo de conduzir destinos
Natural,
Como o curso de um rio
Um fluir vadio
Sobre o leito que ninguém vê...


Não há beira num caminho
Espaço para acostamento
Quando não há amor
Se houvesse
Não precisaria estrada...