sexta-feira, 3 de julho de 2015

Crônica Cotidiana 24



Mundo virtual. Verdadeiro submundo. Permeando-se entre os becos, os pântanos e os desfiladeiros desérticos do mundo real. Seres polimorfos coabitam um espaço infinito, lugar de todos e de ninguém. Mosaico, achando que é prisma, portal se julgando transcendência. Não adianta, nossos corpos permanecem aqui. Reféns das impressões, atribuímos sentidos a uma natureza ímpar, tão desconexa da realidade do devir quanto não deveriam ser as anomalias congênitas. Depositário. Guarda-volumes. Mas é na verdade um ‘complicável’ almoxarifado de empresa Simples. Gentes atracando feito navios cargueiros vazios. Cujos porões aquietam as obscuridades mais abissais das almas sofregamente navegantes. De repente, um container despenca das roldanas do comportamento no pátio da urbanidade: um estrondo, a revelação. O cais está manchado, de sangue prateado, com cheiro de passado e aspecto de turvado. O que era doce se salificou, o que era ar caiu na terra e o que era água evaporou-se. Carências? Completudes. Vontades? Desejos. Esperanças? Expectativas. Vazios? Vácuos! Tantos pretéritos arrastados clandestinamente para tais viagens pelo espaço cibernético. Povo famélico de relacionamentos movidos pelo afeto, algo que só pode nascer na maternidade do dia. Dia que é presença. Noites que são ausências. Beatriz precisava de alguém. Leonardo precisava dela. Diferença básica de necessidades, apareceu no horizonte de plástico como fármaco gastrointestinal, abortando logo no ventre tal relação. Ela não viu que ele era porto. Ele não percebeu que ela era nau. Mas não por erro, foi questão de (in)compatibilidade, digamos que problemas de calado. Tão perto chegaram, se descobriram tão longe. Vínculos artificiais, têm natureza de mesmo caráter, não suportando subsunção de realidades. Não houve distância, e sim divergência. Não tinha diálogo, e sim conflito. Não era amor, e sim tentativa. Beatriz seguiu seu curso de busca. Moça culta, bonita, excitante, seduzindo por todas as frentes. Leonardo seguiu seu caminho de solidão. Rapaz inteligente, belo, sedutor, excitando por toda retaguarda. Mas não foi o suficiente para uma história a dois. A WEB é um jardim de fadas tão imenso, que dificilmente se encontra uma semente denominada reconhecimento. Ela permanece numa encruzilhada entre tempo e espaço, acessível apenas aos destinos. Ele não soube que ela poderia amá-lo. Ela não soube que ele poderia também. Descontrole de sensações: ela perdeu-se nas próprias palavras, ele desencontrou-se nas próprias frases. Ambos, por desconhecimento daquela coisa chamada amor, ignoravam o mundo possível... 



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