Dr. Ciro – A Tese do
Porão
/A tese do porão. Todo mundo tem
o seu porão. Cada porão, é o verdadeiro “asilo inviolável do indivíduo”, onde
nunca poderemos entrar e jamais imaginar o que há dentro. Alguns, mantém a
porta aberta. Outros, abrem-na de vez em quando, pois é preciso circular oxigênio.
Mais perigosos, são os que raramente a abrem, em geral o fazem nos piores
momentos, inesperada e irreconhecivelmente. Estes, são os prescindíveis.../
Seu Alípio – A Antítese
do Sótão
/A antítese do sótão. Um erro culturalmente
clássico. Confusão semântica por parte de um povo oprimido que ignora conceitos.
Na verdade, quando falam em porão (inferior), querem dizer sótão (superior). O sótão, que é mais próximo do pensamento, núcleo de todos os sentimentos jamais toráxicos. As janelas dos
sótãos são os olhos, através dos quais podemos observar e muito. Não há perigo para
quem tem coragem de olhar nos olhos de outrem, e vice-versa. Imprescindível é quem tem a sua casa
arrumada.../
CONTRAPONTO
[Chamavam de sótão a esse quarto
do terceiro piso do casarão, com um banheiro e a sacada. Combinava bem o nome:
uma palavra triste e sozinha. A porta rangeu como estas velhas madeiras agora,
mas em vez de maresia pairava ali um cheiro forte de alfazema. A mulher de
branco, moradora do sótão, voltou para nós um rosto interrogativo. Parecia
alegre por nos ver mas também assustada como se não soubesse o que lhe
trazíamos: o bem, o mal. Catarina vive naquele sótão e só raras pessoas lá
sobem para levar-lhe comida, limpar o quarto ou visitá-la. Até que um dia, não
aguentando mais, se joga da sacada, suicidando-se e libertando-se de seu
“exílio”.]
- trecho de "As Parceiras", de Lya Luft
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