terça-feira, 28 de abril de 2015

Contos Sem Fronteiras



MEU QUARTO 
feriado  nacional. pessoas reunidas, almoços, passeios e atividades mil, alguns descansos, eu não. eu permaneço em meu quarto. meu quarto, que não é um lugar no espaço. meu quarto é um estado, um modo e também um aglomerado de instantes que se infinita acabando com os limites do tempo. ele é a minha dimensão particular, com a característica de ser indeterminado, não cabendo qualquer coisa que se individualize. tudo que há em mim, ou no meu quarto, está relacionado com tudo o que eu sou, o que eu fui e o que pretendo ser, somando-se a isto todos os nãos, os nuncas e os jamais. é um portal imaginário a partir de onde eu realisticamente cultivo meus valores, rego meus princípios, podo minhas condutas. são coisas que não se confinam, nem se demarcam, muito menos se restringem. ao contrário, ele é volante, móvel, itinerante, nômade como eu. lá, ou aqui, tanto faz, é minha garagem de palavras, minha estação de sensações e ainda meus trilhos de expressão. tudo isso sem comportar sentimentos. só porque nossos sentimentos não dependem da gente. por isso não há cadeiras em meu quarto. não há chão, predomina o céu. não há paredes, predomina o cosmo. não há portas, predominam os caminhos. mas tem um sem número de janelas que são placas indicando estes caminhos. meu quarto me acompanha onde eu for. meu quarto foi de onde parti para o mundo, que fica dentro dele. plano de escrever, que é desenhar a vida que eu não vivo. pintar com as cores mais vibrantes o elegante black-tie de todos os meus mais queridos silêncios. meu quarto não é a minha vida, mas sim aquilo que eu considero que ela seja. por isso, eu nunca estou só. pela natureza da ideia, há sempre alguém indeterminado me acompanhando. pode ser que seja a solidão. pode ser que seja deus. pode ser que seja alguém... 


domingo, 26 de abril de 2015

Contos Urbanoides



UM PULO NO CENTRO 
- E a contramão da história 

Há tempos, eu não ia ao centro. Só o cortava, rodando sobre o asfalto frio e opostamente congestionado do coração de uma metrópole. Às vezes, precisamos ir ao centro da cidade. Mas eu não sei se o centro da cidade é o centro das pessoas, parece não ser. Pessoas no centro, não significa que elas estejam centradas, reflexão difícil essa. E é preciso ir ao centro, porque lá existe inspiração. Uma fonte inesgotável de inspiração, para quem tem sede da sua. Eu vinha do deserto. É, eu vim de ônibus. Depois do ofício, ia desviando das fumaças secundárias de fumantes nas calçadas do câncer anunciado, que bom que eu faço apneia terrestre. Comecei pela praça do mártir. Atravessando-a na diagonal de sempre, sinais de sintomas doentios da grande capital. Duas prostitutas gordas lotavam um banco de quatro lugares. Cafetões, michês aos montes. A banalização do sexo espalha-se pelas tardes, desde manhã. À noite, provavelmente algo que não sei ao certo o nome, daquilo que se perde num submundo de sinônimos. Todos eles, são feridas do tecido social, dentro de um Estado policialesco que é mais juiz indiferente do que operador da saúde física, mental e principalmente social dos seus habitantes. Ao lado do elevado histórico envidraçado, uns tirando fotos sem se importar o que era aquilo, muitos turistas com poucos equipamentos. Outra gordinha, vendedora das lojas ponto com, tentava me seduzir com um aparador de barba que segundo ela “cortava qualquer coisa”: educadamente deixei-a corada para tentar ensiná-la a não viver em duplo sentido, arriscar-se assim não compensa. Na livraria do lado da Boca, ausência preocupante de livros de Odontologia. Dentro da brasileira pastelaria mais bonita da cidade, alguém pagava em alta voz uma aposta de futebol ao funcionário, deu vinte e pegou dezesseis reais de volta, no mínimo suspeito, mas também insignificante. Então, o retorno para casa, sessenta minutos corajosamente a pé, para observar em caminhada algo que pudesse trazer e deitar em papéis, a partir da extinta pharmácia com nome de deusa, tentando seguir a simbólica linha vermelha do descobrimento sem sair dela. Abriram as portas dos hospícios, dos armários, ex homens desfilam sua libertada feminilidade no calçadão, entre loucos e preconceituosos. Meninas novas erotizando-se dentro de roupas mínimas em detrimento de sua adolescência. Velhos babando abandono e fracassos relacionais por entre os quiosques. Uma trupe de punks se achando na moda. Bela morena decotada arrumava seu salto sentada no banco provocando desejo em outra mulher provavelmente desconhecida ao seu lado que fingia estar conversando no celular. Na frente da mais antiga universidade do país, um playboy démodé correndo em seu PT Cruiser, com adesivo de um tucano fantasiado de Brasil no vidro lateral, acelero para economizar atropelamento. Passei por um conhecido, que de tão magro talvez não fosse ele, hoje em recuperação química: ainda cursa Psicologia. Sinais para pedestres não oferecem tempo suficiente para se atravessar nos sinaleiros, trânsito caquético, ausência de doutores no tráfego político municipal. Cabelo negro e lindo voava na tarde numa bicicleta, pensei que era a bela, infelizmente não, foi um japonês...devia levar muitas encoxadas no ônibus, por isso mudou seu meio de transporte. Na Reitoria, uma bailarina balzaquiana ostentava seu exagerado silicone como se fosse um troféu permanente. Seu Chaim me cumprimentou na livraria, lugar modesto demais que traz uma deliciosa sensação de estar na casa da vó: tem café e histórias, tem livros, e caminhos. Eu subo a ladeira sulista sem paralelepípedos, mais bicicletas se arriscam na faixa exclusiva dos coletivos, os quais não têm piedade de nós. Um meliante saiu do meu caminho, frustrando sua provável má intenção, repelido pela minha barba vermelha-e-preta-e-branca. Acho que Vanessa da Mata passou por mim, mas devia ser Vanessa da Pinha. Os frentistas não me reconheceram longe do automóvel, vida de associação. Num Café ectópico, pessoas happy comendo a hora. Uma lembrança, outra saudade, nenhuma lágrima no caminho. O corpo agradecendo pelo exercício, a mente pelas reflexões. Não foram tiranas estas léguas, houve relaxamento no final. Por ter-me inspirado novamente. Inspirar é pairar no ar no céu do nosso mundo, e dali contar o que se vê, o que desapareceu, o que jamais voltará e o que se sente, até mesmo em relação a tudo isso, quem sabe um expirar. Porque inspirar-se, é respirar o centro e depois ir à periferia das pessoas, equilibrando as andanças existenciais. Tenho em mim, o centro e a periferia. Não possuo instrumentos, meios que liguem estes dois polos. Sou livre para transitar: eu não amo ninguém. Nem ela, que um dia me fez movimentar. Meu erro, foi fazer isso em sua direção, por ver sentido em seu centro. Por isso, quando penso nela, me sinto ao longe, pairando no ar. Na mirante periferia do céu do meu mundo...




quarta-feira, 15 de abril de 2015

SIMpLoema - quando o estado mínimo prevalece...


 Quando a gente se volta pra dentro 
 E fecha todas as janelas da casa 
 É como se ninguém passasse lá fora 
 Muito diferente de viver, 
 Com a vida enseada... 
     Quem sabe agora 
     Sem os raros olhares do mundo 
     Eu possa finalmente saber a cor de minha luz... 





Certas canções que eu Amo - Bailèro


 Sarah Brightman - Bailèro 



INSTRU#MENTALIS 'plus' >> Danilo Oliveira



 'transformar 
 e direcionar minha voz para dentro 
 é deixar o frio lá fora 
 afastar o silêncio do mundo pra longe 
 e ouvir o que eu mais gosto: 
 o meu sentimento.' 


 "A Voz" - Vander Lee 
 cover instrumental por Danilo Oliveira 
 



quinta-feira, 9 de abril de 2015

Post Scriptum

 O bóson de Higgs modificado: a partícula do Amor 


No maior laboratório experimental subatômico do hemisfério sul, localizado em ponto estratégico sobre o aquífero Guarani, em Piraquara/PR, cientistas tentavam a mais de 50 anos desvendar um dos mais intrigantes mistérios da humanidade: identificar e isolar a “partícula do amor”. Após uma infinidade de testes, envolvendo um sem número de acelerações e colisões de moléculas entre si, oriundas de secções quânticas cardíacas e cerebrais de cadáveres de pessoas apaixonadas e não apaixonadas, chegou-se à conclusão da inexistência de tal partícula, posto que sua massa atômica foi definida como zero, ou seja, incompatível com a vida e a morte. O mais perto que o valor atribuído a este número chegou foi da partícula da invenção, denotando-se que aquela, está apenas aproximada desta, e ainda por uma pequena fração de tempo. Portanto, concluíram os cientistas: O AMOR NÃO EXISTE. O comandante-em-chefe do laboratório, Dr Pedo Tomás Hawk, concedeu entrevista à repórter Fabi Luson: 

// - Dr, boa tarde. O que significa para a humanidade esta descoberta sobre a inexistência da partícula do amor? 
- Infelizmente, para alguns, é uma má notícia. Mas para a humanidade, é um salto tão grande quanto o de Neil Armstrong, em 1969. 
- Por que o Sr considera “má noticia”? 
- Porque muita gente nesse mundo, acredita que o amor tem consistência, massa, matéria, essência até, como se fosse um grão de areia por exemplo. 
- Mas se ele não é nada disso, como é que as pessoas amam? 
- Boa pergunta, garota. Como o amor tem número de massa atômica igual a zero, está próximo do número de massa atômica da invenção, já identificado como ínfimo, irrisório, mas existente. Essa proximidade nos leva a crer que eles têm a mesma significância, sentido, razão de ser, entende? Já conhecemos e catalogamos a invenção, portanto... 
- Não seria mais certo dizer “ilusão” ao invés de “invenção”? 
- Não. Porque a ilusão, é a criação espontânea a partir de algo existente. Na invenção, cria-se forçadamente a partir de algo pré-existente. 
- Um tanto confuso, Dr. 
- Lhe explico. Iludir-se, é fantasiar em cima do que já existe: ir um dia morar numa determinada praia, por exemplo. Já inventar, é elucubrar em cima dos seus sonhos com uma praia que você nunca viu antes, então inexistente para você, pois vem antes do que eventualmente exista. Os dois, diferem da vontade: esta, é ir mesmo morar lá, só não se sabe quando. 
- Mas como uma praia que eu nunca vi pode ser considerado algo pré-existente? 
- Fácil. A nova praia existe, mas você ainda não a conhece certo? O que existe são os seus apetrechos praianos: a sua cadeira, o seu guarda-sol, a sua esteira, o protetor solar, a canga, o biquíni, o chapéu de sol, etc... 
- Sim, mas e daí? 
- Daí que você fica passeando pela vida abarrotada de tralhas procurando uma praia pra se encostar. Quando encontra, descarrega feito estivador. O problema, é que as pessoas não devem andar por aí abarrotadas de quinquilharias marítimas, pois a relação ser humano/praia, só pode se iniciar a partir do encontro, e não estar pré-existente a ele. 
- E o que isso tem a ver como o amor? 
- Isso chama-se invenção. Você tem todo seu material e atribui a uma praia qualquer uma emoção e uma sensação, sem considerar respectivamente razão e sentido: amar antes do amado...amar antes de sentir...não pode isso. E junto com isso traz expectativas, sem considerar perspectivas. Traz ainda sonhos, deixando de lado a consciência. Desejos, sem se importar com as direções. Salivas, suores e hormônios, sem se preocupar com saúde. Você cria uma relação fantasiosa sobre um material que você já leva consigo. 
- Mas o que seria amar alguém então? 
- Talvez fosse melhor não carregar nada consigo em sua caminhada. Seguir leve, sem emoções, sensações, expectativas, sonhos, desejos, salivas, suores nem hormônios, deixando pra brotar tudo isso quando e se você encontrasse uma praia. Mas, cientificamente... 
- Não consigo estabelecer nexo com o caso das partículas. 
- Vamos lá. Tudo na natureza que é dúplice, deve surgir ou nascer conjuntamente, ao mesmo tempo. Veja nosso experimento: pegamos o coração de um apaixonado, seccionamos em diversas partes até encontrar o nó sinoatrial. Este, foi esquartejado e bombardeado à nível nuclear de sua última célula pulsante, até se esvair em gás: nada restou, tudo se dizimou, nada ficou, por conclusão o amor não existe. 
- Mas o que é que existe então, Dr? 
- Existe um cabedal de coisas que as pessoas ditas apaixonadas ou amadas ou algo que o valha, inventam e lançam no espaço, coisas que eu já disse. Pois nossa capacidade criativa é deslocada do mundo profissional e arrastada para o relacional, onde inventamos a tal emoção, acusando o outro como causa dela. 
- Seria como uma nuvem em torno de um sentimento, então? 
- Isso, você está quase entendendo, mas esqueça da palavra sentimento, fique só com a nuvem. 
- Mas as nuvens fazem chover, Dr! 
- Vá até uma nuvem, e veja o que há dentro dela. Tente trazer algo de lá. 
- Mas eu me emociono quando estou ao lado do meu namorado Paulão. O que é isso para o Sr? 
- Isso é a consequência da sua invenção. Você trouxe para o Paulão, tudo aquilo que você já viveu, e tudo o que ainda não viveu também. Ou seja, ele é para você uma consequência das suas experimentações, ora sucessos, ora frustrações. Paulão serve como seu depósito, você acha que precisa ser fiel em nele depositar. 
- Muito materialista isso, me desculpe, Dr. 
- Sim, isso mesmo: tratamos aqui de materializar o que não existe! Por isso os relacionamentos não dão certo. 
- Mas e aqueles que dão? 
- São pura convenção. São as invenções mais elaboradas, mais adornadas, mais enfeitadas, mais cheias de penduricalhos e balangandãs e outras coisas mais que o casal inventa para se sustentar no ar, pois não isolamos a molécula do amor. Identificamos apenas os integrantes das nuvens que os amantes desenham ao redor do nada. São líquidos, que ressecam no tempo e no espaço. 
- Mas como nada Dr, se Paulão me vira a cabeça? Fico molhadinha em sua presença? 
- Paulão vira, revolve, mexe é nos seus objetos de praia. Ele arma o guarda-sol, abre a cadeira, estende a esteira, tira a sua canga, amarra e desamarra o biquíni, passa protetor em você e por aí vai. Vocês não adquiriram nada juntos, não se conheceram na praia, compartilham a rede social, mas não a realidade. Ele trouxe a prancha dele, a bola de futebol, o bermudão, o chinelo... 
- Eu queria entender, mas não consigo, confesso. Acho que o Sr nunca foi amado. 
- Ahahaha. Você está num laboratório científico, não num consultório psicológico, minha querida. Mas eu lhe respondo: eu penas gostei de alguém. Ela, não sei se ainda gosta de mim. Vivemos juntos mas não nos amamos, porque O AMOR NÃO EXISTE: hoje eu posso dizer isso com base científica! Eureca! Uhull, como vocês escrevem por aí! 
- Arrá! Então significa dizer que o gostar é uma partícula que foi isolada? 
- Claro, há mais de 20 anos. Cuja massa atômica é infimamente superior a da invenção, entende? Podemos calcular o gostar, como aquele sentimento que eu pedi para você deixar em reservado agora pouco. 
- Algo mais vocês descobriram desta vez, digno de destaque? 
- Sim, nossa equipe B fez pesquisas intensas e conseguimos isolar o silêncio. Conclusão: O SILÊNCIO É A VOZ MAIS FORTE. Que fala mais alto, que grita mais longe, que diz mais coisas e que toca mais fundo. Iniciamos os trabalhos em maio, demorou alguns meses, mas pudemos reconhecer enfim que o silêncio é capaz de impedir praticamente tudo, até mesmo uma nova amizade, um afeto sem nome, um gostar sem desejo, algo fraterno sem intenções. Seu peso molecular é tão alto, que ainda não conseguimos um cantinho na tabela periódica dos elementos para oficializá-lo regularmente. Em breve, divulgaremos tal descoberta. 
- Puxa...mas então...Paulão...paixão...quer dizer que é tudo invenção? 
- Além disso, é também uma confusão fonética, que atrapalha a semântica da coisa: achamos ser sensação e emoção, aquilo que na verdade não passa de invenção e elucubração. Rica língua portuguesa, onde podemos mas não devíamos roubar palavras chiques para vestirmos realidades mórbidas. 
- Ok, Dr. Obrigada pela entrevista, aguardaremos a publicação oficial de sua tese. – Fabi equilibrava lágrimas nas pálpebras trêmulas de imaginar. 
- Não há de quê, mocinha. Mas não se avexe, tudo na vida que exige reflexão, é mesmo difícil de se compreender. Apareça lá em casa, leve o Paulão que eu explico melhor nossa histórica descoberta pra vocês. 
- Onde o Sr mora? 
- Em Pontal do Paraná. 
- Obrigada, não quero saber de praia. // 



ENTÃO EU ME PEGO PERGUNTANDO: O QUE EU ESTOU FAZENDO AQUI, NESTE BLOG? QUE COMPETÊNCIA, CAPACIDADE OU QUALIFICAÇÃO EU TENHO PARA FALAR DE AMOR? CHEGA DISSO TUDO NÉ? DEU PRA MINHA BOLINHA VIRTUAL. TAMBÉM ROUBO PALAVRAS CHIQUES DA RICA LÍNGUA PORTUGUESA, COMO POESIA, POEMA E CONTO, PARA VESTIR MINHAS DIVAGAÇÕES SENSORIAIS QUE EU LANÇO E LARGO POR AQUI, ELAS NÃO PODEM SAIR DE MIM E CHEGAR NUAS, O BLOGGER ME CENSURARIA. PENSO QUE DR PEDO ESTÁ CERTO. É O FIM DOS FINS, POIS ATÉ CAZUZA, QUE EU ODEIO, TAMBÉM ESTAVA CERTO: “O NOSSO AMOR A GENTE INVENTA PRA SE DISTRAIR, E QUANDO ACABA A GENTE PENSA QUE ELE NUNCA EXISTIU”. AIAI...PAULÃO E FABI SABEM NADA DA VIDA, INOCENTES. ÀS VEZES EU PENSO QUE SERIA MELHOR VIVER ASSIM, SEM SABER MUITO DA VIDA. POIS QUANTO MAIS A GENTE SABE, MAIS EVITA ACELERAÇÕES E COLISÕES. E SE O CERTO PARA A EVOLUÇÃO DA ESPÉCIE NESTE MOMENTO FOR ISSO MESMO, SOFRER PARA APRENDER? SERIA EU UM BOIADEIRO ERRANTE? SERIAM OS DEUSES ASTRONAUTAS? LÁ SEI, COMO DIRIA KELLEM PATRÍCIA, A PARAENSE TARADA FILHA DO SARGENTO GENTE-FINA. A MAIORIA DAS PESSOAS ESTÁ PRONTA, COM SUA CÔMODA DE AMOR PRA DAR. GAVETAS VAZIAS, NEM CABEM APETRECHOS DE PRAIA, DÃO O QUE NÃO EXISTE, FOI INVENTADO. E EU AQUI, TAMBÉM BOTANDO SAL NESSA SOPA RALA, TAMBÉM DANDO MILHO AOS POMBOS, SEM CANGA PRA TIRAR NEM EM QUEM PASSAR PROTETOR. ACHO QUE EU PRECISO ME REINVENTAR: VOU PRA PONTAL ESSE FIM DE SEMANA, BATER UM PAPO COM DR PEDO À BEIRA-MAR SOB UM GUARDA-SOL QUALQUER, COMER CAMARÃO-AO-BAFO COM CERVEJA ARTESANAL. OU ENTÃO LIGAR PRA FABI, PERGUNTAR SE ELA QUER UMA DEMORADA SESSÃO DE MASSAGEM TARUMÂNTIKA SEM SEXO, BESUNTADA DE ÓLEO RELAXANTE, COISA QUE EU APRENDI COM A MINHA AMIGA SOLIDÃO: DAR PRAZER ÀS OUTRAS, UM BEM-ESTAR ÉTICO E SEM PRECONCEITO. PAULÃO NÃO PRECISA SABER. NÃO HÁ TRAIÇÃO NESTE MUNDÃO: “o amor não existe”. TOMARA QUE, DURANTE A SESSÃO, FABI CONVERSE BASTANTE COMIGO... 




 p.s.: desculpa aí, Cazuza! Mas Poeta, é o Caetano... 
 tó essa homenagenzinha pra você,  
 afinal tudo na vida tem sua exceção: "Poema", versão do Ney, é a tua.  
 Abrazz, Edw: em busca do pote de ouro (sanidade)... 


terça-feira, 7 de abril de 2015

Crônica BBB – Banal, Brega e Besta

 - nova fase do blog: o desafio de escrever sem inspiração - 

EMENTA: RELACIONAMENTOS – PEDAÇOS – PIZZA – MOTOQUEIRO – ESTRADA  DA VIDA 

"Até Quando?" 

Quando ela o xingou, ele devolveu diferente
Quando ele gritou, ela correu
Quando ele a traiu, ela começou a querer retribuir
Quando ela destratou seu parente, ele pôs um pé atrás
Quando ele brigou com a mãe dela, ela não se posicionou
Quando ela implica com seu filho, ele finge que não vê
Quando ele zomba da irmã dela, ela pouco reclama
Quando ela ligou pro amigo dele, ele fez vistas grossas
Quando ele cantou a amiga dela, ela desfez a amizade
Quando ela chegou em casa de madrugada, ele foi dormir
Quando ele chegou em casa com outro perfume, ela gritou
Quando ela sai sem ele, ele vai ler
Quando ele não chama pra saírem, ela vai deitar
Quando ela quer viajar, ele tem futebol
Quando ele quer viajar, ela tem salão
Quando ela tem um chá, ele tem um aniversário
Quando ele tem um churrasco, ela tem um aniversário
Quando um quer, ou outro não
Quando um não quer, o outro tem vontade
Quando ela quer praia, ela quer campo
Quando ele quer mar, ela quer piscina
Quando ela quer estrogonofe, ele quer escalope
Quando ele quer vatapá, ela quer moqueca
Quando ela quer vinho, ele quer cerveja
Quando ela chora, ele emudece
Quando ele entristece, ela cala
Quando ela sonha, ele desperta
Quando ele sonha, ela acorda
Quando ele planeja, ela modifica
Quando ela projeta, ele muda
Quando ela quer transar, ele está cansado
Quando ele quer transar, ela tem dor de cabeça
Quando ele goza, ela mente
Quando ela não goza, ele não sente
Quando um começa a descurtir o outro, o outro também..

E assim inúmeros casais continuam aparentemente juntos em seu meio ambiente. 
Mostram-se opostos para ver se acabam se atraindo mutuamente. 
Ainda dizem por aí que amam, mas sem dizer a quem. 
Discutem, voltam. Brigam, voltam. Separam-se, voltam. 
Voltam por já saberem como é. 
A certeza de conhecer o mesmo, afasta o sentido de uma convivência ruim. 
É ruim, mas já se sabe por quê, há ausência de dúvidas. 
Parece que é melhor do que encerrar. 
É melhor do que ficar sozinho. 
É melhor do que ainda ter que descobrir certezas num outro alguém. 
É quando o pior parece melhor. 
Um absurdo relacional, mas o carimbo da união tem valor social. 
A imagem da união, a marca da união, o símbolo da união. 
União, não importando de que forma ela ocorra. 
E assim em seu meio ambiente inúmeros casais continuam aparentemente juntos. 

- Vamos pedir uma pizza?
- Sim. Pra mim calabresa e aliche.
- Mas eu quero quatro queijos e Califórnia.
- Fazem tantos pedaços assim?
- Claro, é só pedir.

Quando chegou, os sabores estavam todos amontoados num canto da pizza, culpa de uma curva do motoqueiro, coisas da vida, curvas da vida, estrada da vida. 

 - Alô! Pedimos uma pizza aí agora pouco e ela veio toda misturada, revirada, parece um angu! Nem dá pra identificar os pedaços! 

Tal qual o relacionamento deles. Pedaços juntados, sem sabor nenhum... 

 [Moral da estória: tem gente que curte levar a vida em pedaços.] 



Músicas Acidentais: "Pedacinhos" / "O Motoqueiro" / "Estrada da Vida" 




nota do autor: que bosta de postagem! é fase de transição, fazer o quê...fica como homenagem ao Zé Rico. mas está totalmente sujeita à exclusão por motivo de força menor, caso infortuito, falta de inspiração...contagem regressiva: 10-9-8-7... 



segunda-feira, 6 de abril de 2015

Contos Falesianos



PALAVRA SEM FIM 
Ando na beira do precipício. Minhas manifestações me empurram para o abismo. Mas eu resisto equilibrando com maestria a minha loucura de caminhar assim, entre palavras. Elas não estão no solo, elas estão soltas feito móbiles ou dentes de leão suspensos no espaço. Porém, elas bem me sustentam. Atravesso noites e dias, mares e montanhas, dores e alegrias, sóis e tempestades, amores e desamores, tudo suportado sobre as minhas velhas palavras, que sempre formam novas frases: sendo assim, elas não são velhas, são na verdade outras palavras. Uns andam dentro de automóveis, outros movem-se através de relacionamentos e há muitos que se deslocam por intermédio de seus ofícios. Eu, passo longe disso. Porque nada disso me conduz, eu sigo através do que eu sou. Mesmo assim, distante, há gente me pedindo ajuda ultimamente. Ofereço-a com prazer, sou solidário. Decerto, eles têm medo de caminhar à margem de si mesmos, afastando-se do núcleo tradicional e conservador, é o receio de que os limites possam ser rompidos, e eles tenham que abraçar a chance de se transformar. Eu nunca me demorei em meu centro. Lá eu já conheço, o que eu quero é viajar, centrifugamente. Fronteiras, aduanas, alfândegas, cá estou eu, um nômade por excelência, sempre a passear. Aqui o clima é mais intenso, as cores são mais diversas, as perspectivas são mais claras. Não há tanto sonho: estou bem mais perto do amanhecer. Ouço ruídos de toque de alvorada. Lembro-me da Marinha, e do cerimonial à bandeira que eu oficialmente conduzia ao nascer do sol. Hoje não mais o sargento, quem arria sou eu. A cada rajada de vento, a cada voo de pássaro, cada música lenta, cada turbilhão de palavras chegando, sempre faço uma nova saudação à vida. Não preciso de uma vegetação humana, ou de uma fauna mineral. Eu só preciso escrever. Escrever me mantém no beiral. Na iminência de tudo o que eu quero, de tudo o que eu não posso e de tudo o que eu mereço. Já me desprendi de todas as coisas, já me desapeguei de todas as mulheres, hoje eu sou livre para escrever o que quiser, sobre quem quiser, sem razões nem emoções explicativas ou justificantes. Estou além do nada, onde de coisa nenhuma se depende. Livre em demasia, vou até mais uma linha, outro despenhadeiro: não tenho vertigem, não tenho sentimentos, posso cair sem me machucar, falecer sem morrer: transcender. Penso que já sou parte do elemento água. Estou liquefazendo o meu jeito de amar... 


domingo, 5 de abril de 2015

Tribuna Inestóica




LIBERTEM MARIA 

Nem uma. Nem duas, nem três. Tenho visto muitas, mas muitas, mas muitas pessoas presas. Em pleno Estado Democrático de Direito, o qual vale apenas em tese, teoria, papel, manual, discurso no que se refere aos seus relacionamentos. Porque as pessoas estão vivendo presas. Não em celas ou em unidades prisionais, elas estão presas num tipo de cárcere modificado: o seu próprio passado. Parece não haver mais chances. Que não existem possibilidades, novidades, que tudo remete à (falsa) segurança daquilo que já se foi, como se fosse seguro se apoiar no que já não mais está. Se houve solução de continuidade, por que insistir? Até que ponto recordar é viver? Trazer tudo de volta, sentimentos que se foram em tempo e espaço, tentando acomodar num cantinho de nosso hoje. Sei que isso é um pouco de tudo. E também é bastante do nada ou do muito pouco que se vive no presente, pálido de sensações importantes. Mas só por isso temos que voltar de ré ou na contramão até os dias de outrora felicidade (ainda supondo que havia)? Ninguém pode suportar a atual realidade zen sem remeter súplicas ao ontem? Onde está a força, a coragem, o discernimento, as demais virtudes, o amanhã onde está? Por que razão da manhã se faz a tarde, e desta a noite, todos os dias o mesmo recado da natureza, se ninguém vê nem sente? Fico indignado com a falta de credibilidade em si mesmo, no sentido de se pensar e querer dias melhores pra frente, coisa que não suporta dias passados lá atrás. É muito pior voltar, por já se saber o que vai acontecer no meio. Mas parece que o risco do regresso é calculado, o do futuro não. Já se sabe o que houve por lá, ao contrário do surpreendente amanhã. Não basta uma boa memória, uma boa recordação do que já era, há de se ressuscitar forçadamente aquilo que foi bom, sem importar o que juntamente tenha sido ruim, pior ou 'desconstrutivo'. Minha indignação termina, pois não posso perder meu tempo com a perda de tempo que os outros têm por perderem de conhecer o seu próprio futuro. A vizinha voltou com o antigo namorado. Geraldo disse que queria fazer passeios com Nice que há tempos se recusa em assumi-lo. Zé Roberto continua pensando na esposa que o deixou há mais de dez anos. Soraia cultiva sua viuvez como se Pedro tivesse sido o último homem da Terra. Estevão deita-se toda noite sem coragem para se divorciar. Joelma não desiste de alguém que já se foi, mesmo sutilmente dispensado por ela. Rose não larga do amante que nunca a assumirá. Enquanto isso, Rafaela está pedindo o próximo em seu rodízio de gentes. E tantos outros. Muitas, mas muitas, mas muitas pessoas presas. É tanta reminiscência fervendo que eu fui atingido por uns pingos e tive que voltar e copiar o começo desse texto. Penso que a sociedade está se desfazendo da sua ordem. Da sequência de passado-presente-futuro, ignorando que isso é um curso natural das vidas, sendo que voltar atrás é como se o espaço intervisse no tempo: grandezas de dimensões distintas, imiscíveis, impossíveis. Eu não sou assim. Caminho só, mas leve. Não admito levar em minha bagagem, pessoas que não me consideraram na estrada, desistindo da minha companhia e vice-versa, questão de (falta de) empatia: não merecem que eu volte atrás. Precisam, as pessoas, resgatarem sua noção de orgulho, seu senso de justeza, seus critérios de perspectivas, seus sonhos de esperança em algo realmente novo, livre e incomparavelmente melhor e maior: autocuidado, valorização de si próprio. Só porque quanto mais velho a gente fica, mais consciência tem daquilo que é ou pode ser O OUTRO, bem separando do que sempre foi e será O MESMO. O passado, são livros. O presente, são estantes. O futuro, são páginas em branco. Quanta preguiça desse povo ao meu redor escrever a sua própria história...(prefiro chamar de preguiça aquilo que na verdade é medo...é que às vezes eu sou paciente) 


sábado, 4 de abril de 2015

INcompletudes


 Quando a música nos traz algumas lágrimas 
 Não é por tristeza 
 É apenas um jeito cristalino de sorrir 
 Uma técnica apurada de gracejar 
 Um modo liquefeito de gargalhar 
 Maneira refrescante de transparecer, 
 Tal alegria que não domamos por dentro.. 
     Música,
     A cachoeira da alma 
     Banhemo-nos, 
     Não esperemos por dias de sol 
     Pois a música tem natureza de sentimento: 
     Ela sai, para se continuar... 



 André Rieu & Kimmy Skota - Casta Diva 




Espaço de Invernada



 Poema em Reticências Tortas..6x6 

 Eu não queria.. 

 Não quero ninguém 
 Mas eu poderia querer alguém, 
 Se me chamasse em manhã de sol numa varanda para o café com geleias 
 Se me levasse embora pelo campo para um piquenique de uvas numa tarde resplandecente 
 E se fosse comigo a uma peça bandida em noite enluarada num teatro etílico 
 E se me convidasse para ir ao mar a qualquer hora.. 

 Não quero ninguém 
 Mas eu poderia querer alguém, 
 Se ela me contasse sobre a engenharia dos seus pensares 
 Se me ouvisse a respeito do ordenamento de meus valores 
 E se refletisse juntinho a natureza de todos os seres  
 E se compartilhasse comigo a saúde dos nossos desejos.. 

 Não quero ninguém 
 Mas eu poderia querer alguém, 
 Se ela fizesse do meu colo seu travesseiro, 
 Dos meus braços seus lençóis 
 Do meu corpo sua rede, 
 E da minha companhia a sua companhia.. 

 Não quero ninguém 
 Mas eu poderia querer alguém, 
 Se ela quisesse saber da estrada 
 Se ela descobrisse em mim um caminho 
 E se me permitisse reconhecer nela uma direção 
 E se conversasse comigo sobre todos os sentidos de nossas vidas.. 

 Não quero ninguém 
 Mas eu poderia querer alguém, 
 Se ela sorrisse por mim até sem eu conseguir vê-la 
 Se eu chorasse por ela até ela conseguir me reconhecer 
 E se nós fizésssemos da poesia a música 
 E se nós conseguíssemos nos amar entre silêncio e sons.. 

 Tantas condicionantes. 
 Em tantas palavras dormentes. 
 Em tantas frases latentes. 
 Em tantas línguas hesitantes. 
 Sob tanta canção plangente. 
 Por tanto amor cadente. 


 "Everybody Hurts" - R.E.M. 
 cover by Kirstin Frosheiser-Rohrs 



sexta-feira, 3 de abril de 2015

KAMASUTRA



 "Preciso Aprender a Só Ser" - Gilberto Gil 
 por Zizi Possi 


"Estou apaixonado por mim 
 Que vou pedir à minha mão direita, 
 Que ela pare de escrever sobre afetos que eu não faço jus 
 Paixões que eu não vejo, 
 E amores que jamais serei.. 
 Basta-me, sozinho 
 Que não precisarei ter alguém além de mim mesmo 
 Então eu finjo que eu me satisfaço 
 Que sou minha própria paixão e que me amo 
 E assim vou levando a vida, 
 Paralelamente aos horizontes 
 Sem riscos de desencontros 
 Pois sei muito bem sobre aquilo que eu não sou..." 
 - Bertold Brown 




CLIP - KARONA


 "LINHA DO HORIZONTE" - AZYMUTH 
 (por Luis Gavião) 





Dr. CIRO, o Analista de Niterói



 Dr. Ciro – A Tese do Porão 
/A tese do porão. Todo mundo tem o seu porão. Cada porão, é o verdadeiro “asilo inviolável do indivíduo”, onde nunca poderemos entrar e jamais imaginar o que há dentro. Alguns, mantém a porta aberta. Outros, abrem-na de vez em quando, pois é preciso circular oxigênio. Mais perigosos, são os que raramente a abrem, em geral o fazem nos piores momentos, inesperada e irreconhecivelmente. Estes, são os prescindíveis.../ 


 Seu Alípio – A Antítese do Sótão 
/A antítese do sótão. Um erro culturalmente clássico. Confusão semântica por parte de um povo oprimido que ignora conceitos. Na verdade, quando falam em porão (inferior), querem dizer sótão (superior). O sótão, que é mais próximo do pensamento, núcleo de todos os sentimentos jamais toráxicos. As janelas dos sótãos são os olhos, através dos quais podemos observar e muito. Não há perigo para quem tem coragem de olhar nos olhos de outrem, e vice-versa. Imprescindível é quem tem a sua casa arrumada.../ 


 CONTRAPONTO 

[Chamavam de sótão a esse quarto do terceiro piso do casarão, com um banheiro e a sacada. Combinava bem o nome: uma palavra triste e sozinha. A porta rangeu como estas velhas madeiras agora, mas em vez de maresia pairava ali um cheiro forte de alfazema. A mulher de branco, moradora do sótão, voltou para nós um rosto interrogativo. Parecia alegre por nos ver mas também assustada como se não soubesse o que lhe trazíamos: o bem, o mal. Catarina vive naquele sótão e só raras pessoas lá sobem para levar-lhe comida, limpar o quarto ou visitá-la. Até que um dia, não aguentando mais, se joga da sacada, suicidando-se e libertando-se de seu “exílio”.] 
 - trecho de "As Parceiras", de Lya Luft