Ele não gosta de muita coisa. De
quadros tortos, por exemplo. Não pelo quadro em si, a pintura ou a moldura, mas
seu alinhamento quando errado, o mínimo que seja, assim como na barra das
calças. Sua pior chatice é o cheiro de fósforos, soa como alho diante de um
vampiro. De alho também ele detesta, apesar de colocar um pouquinho junto com
cebola no preparo do arroz. Ele passa longe, até corre se preciso quando toca
RAP ou seus derivados alienados, aculturação demais para o gosto dele, pois vê
a globalização com muitas ressalvas. Com homens, inimaginável o contacto
(exceto no extinto futebol), dá ânsia de vômito só de pensar encostar, mas não
é por machismo não, pois sempre beijou no rosto seus parentes próximos mais
velhos. Manias? Um ou dois exemplos para cada sentido, tem mais, mas não cabe
aqui. Caprichos, frescuras, simples besteiras? Provavelmente não, cada qual com
seu jeito. Temos direito de nos repelir ao que não gostamos. Há outros campos
também, não só na percepção sensorial. O chato odeia chats e sites de
relacionamento. Mas o mais indigno deles, é mentirem sobre ele, acusando-lhe do que não fez, do que não falou
ou do que deixou de fazer ou falar. Isso, o ejeta fora da casinha, que ele
quase se perde no espaço. Sem violência, porque suas armas são as palavras. Por
outro lado, os mentirosos são seres tão rastejantes, que nem merecem tais
palavras, ou seja, saber da verdade. Ele veio ao mundo para repelir, com
educação. Longe da perfeição, reconhece que poderia ter sido mais suave, mais passivo, mais
tolerante, mais idiota pelo bem da convivência social. Justamente por não ser
perfeito, é que ele escolheu agir assim. Tem pessoas que não merecem saber da
verdade, embora ele a diga. Sua dúvida, é saber se passou por ele, alguém que
merecia ter sabido. Não necessariamente a verdade segundo ele, mas conhecê-lo um pouco
melhor para ter acesso ao seu mundo real. São as mentiras dos outros, que afastam, essa aproximação. A coisa é tão
bizarra, que no fim ele agradece, pois quem dá ouvidos à gente má, não tem voz
para transmitir o bem. Mais um gole de água mineral com gás, antes que chegue o
carnaval sem graça. O chato, é chato à sua maneira. Os outros também são. O
chato não chora quando a chuva chega. Cheio de chaves, o chato chama e chaveia seus
cachorros, pega uns sanduíches, põe na mochila e tchau. Este chato, não
incomoda ninguém. Vez, em quando, ele choraminga escondido em seu chateau. O
chato é sozinho. Porque o chato tem consciência de que ele é apenas um dígrafo, jamais seria considerado
um encontro consonantal...
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