Nem
todo texto tem inspiração.
Às vezes, não é fruto de retorno daquilo que circula
dentro do autor, retorno de uma emoção que veio de fora, e ali dentro se
instalou.
Talvez a maioria dos textos da cidade seja órfã.
Talvez a maioria dos textos da cidade seja órfã.
São palavras
reunidas como numa quermesse, numa pastelaria, num shopping.
E o bom é que
reunir palavras, todo mundo pode. Mas nem todo mundo consegue acomodá-las no
sofá de papel.
São poucos os que conseguem fazer isso. Mas então... motivo... tradução...
capacidade de trazer aos olhos alheios determinadas sensações, reproduzi-las...
parece que a coisa vai se afunilando.
À medida que se aprofunda na busca razão
de um texto, vão se eliminando as chances de ser uma representação real, que é
aquela dotada de emoção. A dobradinha, a dupla, o binômio razão/emoção, sempre
presente no cotidiano humano. Ou não.
Venho, por meio desta e das próximas, tentar descobrir como é a vida de quem escreve sem inspiração.
Venho, por meio desta e das próximas, tentar descobrir como é a vida de quem escreve sem inspiração.
Sem ela, penso
que não há o que dizer, transmitir, deixar na memória dos teclados, passar pela
ótica dos curiosos, gravar na mente dos leitores ou fluir do interior dos
próprios escritores. Um desafio à criatividade, nesta cidade.
É outro caminho. Um vazio como quando se entra num túnel
extenso, caminhando por intuição em plena escuridão.
Esbarro nas paredes, corto
as mãos nas pedras laterais, tropeço nos dormentes dos trilhos, e nada vejo que
pudesse me fazer escrever. Compreender que a vida é assim mesmo,
movimentando-se em ciclos, ora expansão, ora contração.
Coisa universal.
Período de baixa, entressafra.
Mas bato a cabeça num tronco suspenso no túnel, e
imediatamente me corrijo: não há entressafra.
Porque não haverá depois.
Porque não haverá depois.
Não há inspiração.
Não há sobre o
que dizer.
Nada vejo pela frente.
Porque nada quero pela frente...
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