segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

A Quinta Ilha




Gosto do mar em fúria. É bonito, não chegando a ser lindo, como é quando é de almirante. É a mesma natureza, apenas a se manifestar de outro jeito. Aquelas vagas enormes, espumando bem longe da areia. Navios balançam e não viram, o homem reconhecendo sua inferioridade perante ela, sua mãe. Uns, se preocupam mais com os containers, do que com a própria vida. Do alto do passadiço, visão de luta onde o adversário é o próprio ringue. Corações na boca, a morte está muito próxima, beijando o casco da embarcação. É a Física ganhando de lavada de qualquer outra ciência. O movimento vertical, entre cristas e vales, deixando cada vez mais próximo do céu, e na sequência, perto da terra. Mar, panela imensa, cozinhando o bicho-homem em banho-joão. Fúria, cólera, inúmeras proparoxítonas servem para ajudar a descrevê-lo assim. E se a natureza às vezes é assim, eu também poderia. Mas não consigo. Meu temperamento é equilibrado, não se vale de rampantes, ímpetos, iras. Sei que é bom, alivia, mas não dá. Não quero respingar em ninguém, nem afogar alguém. Passei um carnaval à beira-mar nessa base. Ele, o oceano, me avisava sobre o futuro; jovem, não compreendi tal anunciação. No continente, as quatro ilhas na frente na baía, e entre nós a revolução. Precisamos, todos, descobrir a diferença entre atenção e desconfiança. A primeira, é aviso que não vem de nós. A outra, é tarde demais. Por aqui, em terra um pouco mais firme, um novo ano de invenções. O ‘medalope’ a seis mãos foi a primeira. Nem medalhão, nem escalope. Um meio termo de mignon ao molho madeira, show de paladar, temperos diferentes e secretos, a turba adorou, foi o que disseram. Eu queria montar um restaurante litorâneo para elas, as duas crias. Mas elas não apreciam a beleza do mar revolto, preferem o cartesianismo e a calmaria da falta de correntezas na tradição planaltina. Meu futuro, é um eco do sinuoso presente: sozinho... sozinho... sozinho...


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