Gosto do mar em fúria. É bonito, não
chegando a ser lindo, como é quando é de almirante. É a mesma natureza, apenas
a se manifestar de outro jeito. Aquelas vagas enormes, espumando bem longe da areia.
Navios balançam e não viram, o homem reconhecendo sua inferioridade perante
ela, sua mãe. Uns, se preocupam mais com os containers, do que com a própria
vida. Do alto do passadiço, visão de luta onde o adversário é o próprio ringue. Corações na boca, a morte está
muito próxima, beijando o casco da embarcação. É a Física ganhando de lavada de
qualquer outra ciência. O movimento vertical, entre cristas e vales, deixando
cada vez mais próximo do céu, e na sequência, perto da terra. Mar, panela
imensa, cozinhando o bicho-homem em banho-joão. Fúria, cólera, inúmeras
proparoxítonas servem para ajudar a descrevê-lo assim. E se a natureza às vezes é assim, eu também poderia. Mas não consigo. Meu temperamento é equilibrado, não
se vale de rampantes, ímpetos, iras. Sei que é bom, alivia, mas não dá. Não quero
respingar em ninguém, nem afogar alguém. Passei um carnaval à beira-mar nessa base. Ele, o oceano, me
avisava sobre o futuro; jovem, não compreendi tal anunciação. No continente, as
quatro ilhas na frente na baía, e entre nós a revolução. Precisamos, todos,
descobrir a diferença entre atenção e desconfiança. A primeira, é aviso que não
vem de nós. A outra, é tarde demais. Por aqui, em terra um pouco mais firme, um novo ano de invenções. O ‘medalope’
a seis mãos foi a primeira. Nem medalhão, nem escalope. Um meio termo de mignon
ao molho madeira, show de paladar, temperos diferentes e secretos, a turba
adorou, foi o que disseram. Eu queria montar um restaurante litorâneo para elas, as duas crias. Mas elas
não apreciam a beleza do mar revolto, preferem o cartesianismo e a calmaria da falta de correntezas na
tradição planaltina. Meu futuro, é um eco do sinuoso presente: sozinho... sozinho... sozinho...
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