Noite de verão quase equatorial. Não
basta dormir seminu, a madrugada pede por goles d’água. O pesadelo é a forma
mais sutil do corpo avisar que está com sede. Seja de água ou de vida. Recebido
o sinal, levanto em direção ao oásis gelado na casinha quente. Sempre,
sempre, sempre. Olhando pela janela da cozinha, uma luz amarelo-ouro, no alto e
à esquerda, treme ao vento descrente. Não é reflexo, é fonte própria, não
artificial. Move-se, questão de centímetros. Enquanto a água queda do copo para
seguir feito o curso de um São Francisco não anunciado dentro de meu organismo nordeste,
a luz aumenta e enfraquece, intermitentemente. Um barulho, vou até a janela
oposta e era nada além de uma poesia incidental, para não dizer ingerência perdida. A morte não existe, erudita
donzela. Repito que a mato e aparece ainda maior. De volta ao vitral, passo
alguns minutos em contemplação da luz. Até que ela some, para o sempre daquela
noite. Saciado, ou não, retorno ao mundo horizontal do repouso obrigatório. Não sei se haverá sede
no próximo luar. Nem se vou levantar às custas de um sonho ou de outro pesadelo. Mas sei que todas as noites ela estará lá. Aquela luz externa projetando-se no
canto esquerdo da janela da minha cozinha no breu de todas as estações. Eu não a chamo. Mas ela não quer saber por que
ainda brilha, ela ignora que ainda vem e jamais reconheceria que ainda chega. Lamento que somente eu, sei por que motivo ela vai embora...
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