Companhia? Um corpo novo. Por um. Mas
não precisa ser novo, basta ser outro. E não pode ser dois ou mais, apenas um.
Então, por um outro corpo que, para alguém, sempre será novo, não importa a
idade. É isso que os maridos, uns maridos, querem. Umas esposas, idem. Que não
fale muito, que aja pouco, que também não peça e nem traga coisas. Quase uma
máquina, mas de carne e osso, o tal do corpo novo que ambos querem. Vê-se isso
tranquilamente, nos mercados, nos parques, nas praias. Basta olhar nos olhos
das pessoas, seus movimentos capitais. Nem os óculos escuros disfarçam. Claro que,
se viesse junto algo mais, até a ponto de poder se trocar (isso mesmo, as pessoas
trocam umas pelas outras), seria melhor, eles pensam assim. Mas eles e elas
estão acostumados com o antigo. Já sabem das dores e dos ais, dos prazeres e
dos uis. Têm a fórmula da briga, a da birra e a da volta, tudo anotado. De tanto
praticarem isso, já não é preciso recorrer aos manuais, os memorex da relação,
é automático, coisa de gente experiente, semiprofissional só porque isso não é
profissão.
Os outros corpos, que para os nossos
protagonistas são novos corpos, são velhos para o mundo. Conclui-se que depende
do tempo de vista. Interessante nisso tudo, é a questão do conhecimento. O
outro corpo que de tão sonhado e querido apareceu dentro de uma chance, que
poderia ser apenas um acaso, mas transformado foi, e aí está: há de se
conhecê-lo primeiro, ou pode-se encará-lo sem necessidade alguma de pré-requisito? Mas aproveite
enquanto é tempo, vai que ele desaparece... então, é mergulhar de corpo e alma
no outro corpo, para você, novíssimo em alma e corpo. Corpos velhos para o
mundo se colidem mutuamente, só para ver no que vai dar. Não chega a ser um
túnel de prótons, mas vai no mesmo sentido, experimental.
Mundo dividido, entre os que insistem
com os velhos corpos e os que trocam para novos velhos corpos. E apostam neles
todas as suas fichas (isso mesmo, as pessoas apostam em outras pessoas, como no turfe se aposta em cavalos, ou seja, relacionamentos também são "jogos de azar"), sem reserva alguma. Se não der certo, faz-se o mesmo para corpo ciclano. Se todos andassem nus, não haveria tanta superficialidade depositada no próximo. A nudez é fundamental. Nela, cabe o erotismo, mas não o sexo. Infelizmente,
um dia o sexo torna-se velho, é quando aqueles corpos já se envelheceram um
para o outro, repito, sem levar a idade em conta, mas a quantidade de colisões.
De corpo e alma, todo mundo já sabe. O problema, é que nem todos reconhecem o
que significa o envelhecer. Por isso a rotina, entre os velhos casais. Por isso
os conflitos, entre novos casais. Parece uma garagem, depositária temporal de
coisas e adereços.
Por que o bicho-homem se limita a
tais desejos? Porque é incapaz de renovar-se a si mesmo, portanto não deve se
esperar que renove relações envelhecidas. Outros, buscam a novidade, saciam
parcialmente seus desejos, e depois voltam para o continuísmo. Estes, se julgam
novos e partem em procura de semelhantes buscadores, é aquela gente que vive na caça, na floresta, sempre armada. E se acham, e se namoram, e
se prometem e se acabam na mesmice do sempre. Trocar ou não trocar, eis a
questão. Esse troço de ser, é para os filósofos, seres antigos que destoam da
modernidade. Viva o mercado dos organismos ambulantes, cujo escambo é o negócio
que mantém circulante o capital humano.
Essa é a minha mulher. Esse, é o meu
namorado. Aquela, é a noiva dele. Aquele, é o amante dela. Proprietários em
ação. Donos de corpos alheios. Inventaram papéis e chamaram de contratos civis
para garantir legalmente a posse da mercadoria. E tem os casos da posse verbal.
Cuidado, não se aproxime de ninguém. Os possuídos, às vezes não têm sinais da
marca do dono. O ciúme, é o artifício sentimental como mediador dessas relações
possessórias. O ciúme, é a insegurança nua que se veste de ciúme para que não
vejam seu corpo feio, esquálido, ressecado, febril, caquético, o corpo nu da insegurança.
Pensar num mundo sem posse. Sem ciúme.
É impossível. imaginar uma relação sem posse, sem ciúme, é plenamente possível!
Quem sabe se não houvesse procura. Se o desejo fosse pelas almas e não pelos corpos. O que
seria das relações de companhia? Nós estamos casados, estamos namorando, estão
noivos, estão se encontrando. O que é mais difícil, mudar o verbo na cultura ou
mudar a cultura do comportamento?
Eu nada sei. Tenho comigo a serenidade de não procurar pessoas. Tenho comigo o absurdo de não sentir ciúme. Tenho comigo a utopia de sentir liberdade. E não tenho ninguém comigo. Nem por isso mudaria. Estou bem assim. Longe de todos, perto de mim. Não me bate saudade alguma, não sou refém de nenhum passado. Não me bate arrependimento algum, não sou algoz de nenhum presente. Não me bate solidão qualquer, não sou esperançoso de todo futuro...
Eu nada sei. Tenho comigo a serenidade de não procurar pessoas. Tenho comigo o absurdo de não sentir ciúme. Tenho comigo a utopia de sentir liberdade. E não tenho ninguém comigo. Nem por isso mudaria. Estou bem assim. Longe de todos, perto de mim. Não me bate saudade alguma, não sou refém de nenhum passado. Não me bate arrependimento algum, não sou algoz de nenhum presente. Não me bate solidão qualquer, não sou esperançoso de todo futuro...
Moral da estória:
“Escrever sobre a solidão alheia, me
deixa cada vez mais convencido sobre a importância da paz mundial...”
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