Mercuriais
A constrição dos vasos a zero grau. Os sorrisos da cidade estão sob os cachecóis do medo. O frio vem de algum lugar distante para invadir nosso segredo. Ele rodeia na forma de vento, agarra feito marginal e deita ao lado como se fosse bem-vindo. Quase imobilizados, somos impedidos de agir, falar e quase de sentir. Tento escrever, mas as letras estão tão quebradiças quanto as hortaliças no campo. As palavras não se juntam, as frases não se formam, um texto em estado de hipotermia. Sem poderem sair de casa, as sensações circulam aqui dentro tais quais as crianças hiperativas, buscando o que se fazer na impossibilidade do costume. Um lar sem luz. Mesmo assim, percebo que ninguém virá no galope da baixa temperatura. O inverno funciona como agente isolante, separando pessoas, resfriando pensamentos, enrijecendo diálogos e congelando brotos de amor. Mas o pior dos invernos, é aquele que ocorre nas outras estações. Aquela fábula do outono, por exemplo. Na frente do bule de café sobre o fogão esmaltado, ele tomou-a nos braços, deu um demorado beijo em sua boca. O termômetro moral explodiu, o sol tomou conta da cozinha, dos corpos, dos sexos. Um entreolhar, a carícia vestida de afago, o toque de carinho, mais beijos. A água ferveu, junto com o ambiente. Muito mais pela morte do proibido, do que pelo surgimento do possível. Conversaram como se nada tivesse havido. Não foram sábios o suficiente para driblar a timidez, a vergonha. Não foram corajosos o bastante para criar aquele amor, a companhia. A manteiga estava muito dura para passar no pão. Não tinha pão naquele dia. Um bicho de pelúcia caído no chão do quarto. Poesia perdida em casa de prosa. Um adeus na porta do elevador desuniu os lábios, pela segunda e última vez. Entre quedas e mordaças, relação esfriada. Restariam apenas conhecidos. Nunca seriam amigos. Nem amantes ou colegas. Havia muito gelo durante o ano inteiro naquela capital...
A constrição dos vasos a zero grau. Os sorrisos da cidade estão sob os cachecóis do medo. O frio vem de algum lugar distante para invadir nosso segredo. Ele rodeia na forma de vento, agarra feito marginal e deita ao lado como se fosse bem-vindo. Quase imobilizados, somos impedidos de agir, falar e quase de sentir. Tento escrever, mas as letras estão tão quebradiças quanto as hortaliças no campo. As palavras não se juntam, as frases não se formam, um texto em estado de hipotermia. Sem poderem sair de casa, as sensações circulam aqui dentro tais quais as crianças hiperativas, buscando o que se fazer na impossibilidade do costume. Um lar sem luz. Mesmo assim, percebo que ninguém virá no galope da baixa temperatura. O inverno funciona como agente isolante, separando pessoas, resfriando pensamentos, enrijecendo diálogos e congelando brotos de amor. Mas o pior dos invernos, é aquele que ocorre nas outras estações. Aquela fábula do outono, por exemplo. Na frente do bule de café sobre o fogão esmaltado, ele tomou-a nos braços, deu um demorado beijo em sua boca. O termômetro moral explodiu, o sol tomou conta da cozinha, dos corpos, dos sexos. Um entreolhar, a carícia vestida de afago, o toque de carinho, mais beijos. A água ferveu, junto com o ambiente. Muito mais pela morte do proibido, do que pelo surgimento do possível. Conversaram como se nada tivesse havido. Não foram sábios o suficiente para driblar a timidez, a vergonha. Não foram corajosos o bastante para criar aquele amor, a companhia. A manteiga estava muito dura para passar no pão. Não tinha pão naquele dia. Um bicho de pelúcia caído no chão do quarto. Poesia perdida em casa de prosa. Um adeus na porta do elevador desuniu os lábios, pela segunda e última vez. Entre quedas e mordaças, relação esfriada. Restariam apenas conhecidos. Nunca seriam amigos. Nem amantes ou colegas. Havia muito gelo durante o ano inteiro naquela capital...
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