terça-feira, 15 de dezembro de 2015

P A S T (I N) T E N S E



Olho para trás 
Mas já lavei os lençóis 
Não há marcas 
O que havia, 
    era um jeito de dobradura 
Mais nada... 


Meu pequeno ontem 
Era grande quando era 
Pequeno é hoje 
Tão, 
Que não se mede 
Falo no sentido cortês 
Uma metáfora para toda aquela brevidade... 


Mala vazia 
Nas costas do meu tempo 
Não adianta parar no espaço 
Não há o que tirar de dentro... 


Certo alívio, me causa 
Ter deixado o passado por terra 
Penso nos coitados 
Que não fizeram isso 
Ainda se arrastam pelo seu futuro 
De tão vazio é o seu presente... 


Sim, 
Trago histórias 
Sem protagonismo algum 
Enredos ‘noir’.. 
Intimista, 
Esqueci-me de ver a vida lá fora... 


Não há flores no jardim 
Eu afastava sementes 
Enquanto o sol insistia.. 


Repare 
Já não há mais fogo 
E por ter sido amor 
As cinzas são azuis 
Só para não serem vistas 
Dispersando-se no céu que não contemplamos.. 


A leveza do homem 
Que se liberta do seu tempo ido 
É diretamente proporcional, 
Ao peso do seu hoje, 
Ou seja, 
Do vácuo presente.. 


As hortênsias na casa da vó.. 
Eu não sabia seu nome 
Mas ficava horas olhando.. 
Hoje eu sei como se chamam 
Mas sequer me permito 
Colocá-las em minha imaginação 
As mulheres fora de minha casa.. 


Faço do que se foi 
Feito caixas de ossos em capela 
Aglutinação, 
Organização de espaço 
Não para que chegue mais 
Apenas para não trazer poeira... 


Fotos, 
Que bela consideração tenho por elas 
São minhas janelas 
Na casa hipotecada de um tempo 
Em que eu não tinha cortinas... 


Há um grande cemitério, por onde passei 
À frente, 
Desvio das maternidades 
Não é preciso que morra mais alguém para mim 
A natureza se encarrega daquele lugar.. 


Quatro cães na minha história 
Blau, 
Sissi, 
Kong e Buba 
Todos criados por um lobo 
Sem garras pra viver na selva 
Sem sonhos pra morrer na relva 
Em minha estepe, 
Não fui capaz de matilha... 


Vendo a imagem, meu peito se enche de não sei quê. Um menino loiro, bonitinho, na ingenuidade dos seus três poucos anos a colocar talvez pela vez primeira, o pé na rua. Mal sabia o que a vida lhe reservava, os caminhos que cruzaria. Uma infância cheia de estórias, mistérios, heróis e personagens, seria o prefácio de uma vida cheia de histórias, verdades, ausências e solidão. Viver, é transformar a infância em algo real. Tenho pena dos que, como eu, conseguiram fazer isso... 



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