domingo, 27 de dezembro de 2015

Contos Depois da História



A Última Brincadeira 

Em fim. Trinta e cinco anos se passaram desde os quinze. Tantas mudanças, transformações, caminhos, mas tem algo que continuou sempre do mesmo jeito. Mudava o próximo, não o modo de estar da coisa. Tanto que nem sei a diferença entre uma relação e um relacionamento, no estranho mundo da afetividade. Talvez eu tenha tido apenas relações, os relacionamentos são envolveres mais profundos, desses que as novelas e os filmes abriram mão, ainda constam nos livros. Relações, deveras estáticas; relacionamentos, dinâmicos, movimento. Não tive este prazer, tudo se evanescia, uma gangorra de oscilações em que nada se definia, encaminhava ou apaziguava. A surpresa, o espanto, surgidos em imediato desprazer frente a situações cotidianas, as tais condutas, comportamentos e atitudes delas. Pensamentos e valores não tardavam em vir à tona, sempre opostos aos meus. Até já me disseram que eu espero algo feito eucaristia, dó, perdão, caridade, esses negócios que as religiões inventaram para agregar sustentabilidade. Como se eu tivesse crença, seguisse dogmas, e vivesse de fé. Outras, me disseram que sem amor eu nada seria, teve até música cantando isso, doutrina. Também, aquelas que me rotularam como um ser sexual ao extremo. Lamentaram meu insucesso, não fiz fortuna nem fui celebridade, alegaram. Umas justificaram assim, outras foram embora pelo vento do silêncio. No reino das indiferenças, fui desgarrado habitante, também indo embora antes, durante e depois dos fins. Um saldo cômico de conclusão: ninguém me conheceu ao certo. Porque mais do que sorrir, mais do que dar prazer, eu só queria paz. Mas paz, é aquilo que se adquire quando se está livre. A liberdade, por sua vez, só se tem quando se está leve. Infelizmente, as belas mulheres que cruzaram meu caminho, trouxeram muita carga do seu passado. Não houve chance, não tivemos tempo, não se formou espaço. Todas, sem exceção, me interpretaram mal. Quando a gente está ao lado de alguém que nos concebe erradamente, não há mais o que fazer: já estamos do lado de fora da vida dessa pessoa. Gargalhar seria exagero, mas eu movimento meus lábios neste sentido. Descobri que a religião, é a diáspora das uniões. E que os valores, são as trilhas no deserto de cada um. A tal reciprocidade, eu jamais saberei o que significa. Hoje bem sei o que faltava aprender na minha última brincadeira: o amor, é uma diversão feita de plástico... 


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