quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Trítico 1




Ela disse bem assim, “o ser amado que está fora, já mergulhou mar adentro”. Então ela passeia na beira-mar cantarolando em sua espera. Algumas frases têm me enlouquecido ultimamente, pena que perco a maioria delas no vento. Não posso questionar os fatos que a inspiraram, apenas me pergunto por que razão ele se foi mergulhando no mar. Teria seu amado ido atrás de alimento? Ou ela ainda não o conhece e tem a certeza que ele vem do mar? A poesia quando vem a parir uma música, deixa interrogações para o pensador, contemplação para o observador e êxtase para o ouvinte. Não precisamos saber ao certo a sua história, basta a beleza da canção. Minha teimosia em refletir as coisas da vida ainda vai me matar numa curva da 277. Se ela ao compor aguarda o retorno de alguém do passado, ou ela se guarda para a chegada de outro alguém no futuro. Eu queria que não fosse nenhum dos dois, porque ambos indicam sofrimento. No primeiro caso, a falta de perspectiva quanto as novidades; no segundo, o excesso de expectativa quanto a elas. Peguei a letra nas mãos, fui passear pela casa do pensamento meu, até concluir que é sim algo futurista. Essa coisa chamada esperança, que algumas pessoas criam em seus quintais dos fundos, de encontrar um amor verdadeiro. Admiro tal capacidade, habilidade em jardinagem afetiva. Não é para mim. se eu chagasse na casa azulada e visse um turbilhão de rosas, avencas e jasmins, teria a certeza que não foram por mim. E eu não tolero essa coisa de se encaixar no molde sentimental do próximo. Sei que elas, as jardineiras, plantam inadvertidamente. E se houver visita, por que não mostrar tal beleza? É um jeito de se dispor a amar. Compreendo. Mas permaneço sentado no alto da pedra onde batem as ondas. Não mergulhei, penso que não. Não a vejo daqui. Em minha paisagem, mar, musgos, mariscos e areia...  

Vejo Você Aqui
(Badi Assad / Zélia Duncan, 3:29)

Pele, pérola
Flores, pétalas
Vinhos, velas
Algo em mim te espera
Silêncio, sílaba
Palavras, mímica
Solidão cíclica
Algo em mim te avista
Âncoras, cânforas, rosas
Tudo vibrando por você
Dentro da casa azulada
No fim da rua comprida, cacheada
Longas notas, músicas novas
Portas e mais portas
Caminhos sem fim
Passeiam por mim
As coisas falam por si
Vejo você aqui.


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