quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Coletivo Solidão



Coletivo Solidão 
A necessidade de aparecer em público se mostrando 'atualizado' com a moda comunicativa. Some-se à intenção de se portar em público permanentemente 'compartilhado' ao mundo, mesmo que virtual. Compensações, que se observadas um pouco além da superfície, revelam profundezas obscuras e até abissais destes seres pseudocontemporâneos e suas condutas. Nos espaços sociais oferecidos pelo destino, como escola, trabalho, eventos, esportes, praças, ônibus, metrôs, aeroportos, lazeres ou onde quer que se junte mais de um, as pessoas plugadas, ligadas e conectadas em seus smartphones estão liquefazendo suas oportunidades de adquirir experiências autênticas, oriundas das relações reais entre os seres, através de sua intersubjetividade, interpessoalidade. Relações presenciais, substrato para o desenvolvimento de vínculos de várias naturezas, seja coleguismo, amizade, namoro, profissional, social, cultural. Hoje, vale mais enviar mensagens com códigos, palavras sem vogais, emojis e postagens sem comentários, todos reproduzidos feito eco alheio, substituindo a voz, do que dirigir um olhar e propor um assunto. Há quem só se preste a digitar, falar seria um absurdo, coisa ultrapassada, démodé. De repente, a quebrar o silêncio que acompanha este tipo nocivo e falso de comunicação, surge um espanto, uma interjeição, uma risada alta, um grito como resposta ou justificativa para tal comportamento vazio, querendo dizer na verdade, “estou em sintonia, on line, atualizado”. Fora a morte, não há nenhuma notícia que mereça ocupar o binômio tempo/espaço das pessoas, que não possa ser vista em casa, à noite. Então os cafés foram invadidos, os almoços, os jantares, as noites, os aniversários, as festas, os fins de semana, passeios, viagens, ambientes, tudo. Por consequência, o mau uso da tecnologia, a torna outro antônimo da educação. Nada mais se cria, tudo se envia. Uma extensão do organismo, este HD externo que cabe na palma da mão e substitui o cérebro humano, parece tê-lo invadido como um pen drive acoplado ao pavilhão auditivo dos indivíduos. Aquela coisa de responder a um estímulo externo, já não precisa mais de codificação cerebral, pois tudo já vem pronto e mastigado para você responder no mesmo formato, ante a velocidade do transmitirr, que atropelou a reflexão, o pensamento, o raciocínio. Tudo é tão supérfluo, que não se faz necessário refletir, pensar, raciocinar, para depois então agir. Tarde demais. Mas tarde para quê, se o tempo é prescindível? Aliás, o tempo não existe, pois todo minuto é hora para se conectar e ver o que acontece neste plano virtual. As pessoas assassinam o próprio tempo. Ferem o próprio espaço e o tempo/espaço dos que estão em sua volta. Não é crime. Jamais seria. É sim dependência psíquica. E só há um remédio para isso, que não se encontra nas farmácias, está nas livrarias. Se os aplicativos substituíram os olhares, as pessoas encontram seus partners na ponta dos dedos, para quê sair de casa? Tinder, Happn, Hot or Not, são as ferramentas modernas de approach. Instrumentos para, sob a benção dos deuses Iphone & Android, unir cabeças e corações. Os filhos destas relações – que já começaram artificiais – tendem a serem fieis à sua superficialidade. Aí, quando precisarem mergulhar na vida real, o afogamento se tornará pesada estatística. Uma gostava de trocar digitações existenciais de madrugada. Outra, de fazer sexo via internet. Teve até aquela que queria anunciar relacionamento sério mesmo sem ter visto o sujeito. Não houve uma quarta, seria além do demais. Rasguei a minha rede social. Pois descobri que existe uma solidão pior que a minha: a solidão coletiva, celular, que busca virtualmente on line a presença que não tem. Minha solidão é real, integral. É criativa, espontânea, minha agradável experiência autêntica... 



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