terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Contos da Escuridão



Três típicas batidas reais, despertam-me de um sono meio-pesado, duas vezes por ano. Não havia porta no sonho. E não sei se tinha alguém por aqui ao redor da casa. Levanto-me, acendo a luz, olho lá fora, com a discrição que todo ladrão merece. Novamente, ninguém. Quem seria, ou seria o quê? Aviso, de onde? Mais uma pergunta para a coleção de questões que levaremos daqui sem respostas. Teca, tua tia que não fala mais com Tânia; Buba, cadela que não dorme mais dentro de casa; Sandra, a brasileira que recolheu-se em sua amargura; Janete, a francesa que nunca se identificou na rede. São exemplos de indagações sem filhos, soluções de continuidade, porquês rompidos ao meio e acrescidos de eterna interrogação. Árvores sem frutos, sabe como? E temos que seguir assim, sem saber das coisas, mesmo achando que se não fosse assim, o mundo seria bem melhor. Quantas perguntas sem respostas você leva em sua mochila? Mais de vinte e cinco quilos? É perigoso para a coluna, para os joelhos. Deixe-as pela trilha, depois de algumas tentativas, não convém peso extra em longas caminhadas. E eu, ao contrário de todos que eu vejo, acredito que a vida é mesmo longa. Nada passa rápido, os calendários estão aí para mostrar o tempo que não vemos trajado de chances. Mas ele está, e bem elegante. Chances pontuais, estendidas, de toda forma repetindo-se, quase nunca sempre únicas. E não as aproveitamos. Deixamos de experimentar, deixamos de conhecer. De aprender, de sorrir. Amar, viver. Quando abandonamos estas chances que surgem em nosso caminho, alguns de nós atribuímos aos próprios fantasmas particulares, que volta e meia nos assustam e impedem de tentarmos, de aproveitarmos tais chances. Eu desisti de ligar para ela. Alguém bateu três vezes em seu quarto nesta última madrugada?... 


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