Três típicas batidas reais, despertam-me de um sono
meio-pesado, duas vezes por ano. Não havia porta no sonho. E não sei se tinha
alguém por aqui ao redor da casa. Levanto-me, acendo a luz, olho lá fora, com a
discrição que todo ladrão merece. Novamente, ninguém. Quem seria, ou seria o
quê? Aviso, de onde? Mais uma pergunta para a coleção de questões que levaremos
daqui sem respostas. Teca, tua tia que não fala mais com Tânia; Buba, cadela
que não dorme mais dentro de casa; Sandra, a brasileira que recolheu-se em sua
amargura; Janete, a francesa que nunca se identificou na rede. São exemplos de
indagações sem filhos, soluções de continuidade, porquês rompidos ao meio e
acrescidos de eterna interrogação. Árvores sem frutos, sabe como? E temos que
seguir assim, sem saber das coisas, mesmo achando que se não fosse assim, o
mundo seria bem melhor. Quantas perguntas sem respostas você leva em sua
mochila? Mais de vinte e cinco quilos? É perigoso para a coluna, para os
joelhos. Deixe-as pela trilha, depois de algumas tentativas, não convém peso
extra em longas caminhadas. E eu, ao contrário de todos que eu vejo, acredito
que a vida é mesmo longa. Nada passa rápido, os calendários estão aí para mostrar o
tempo que não vemos trajado de chances. Mas ele está, e bem elegante. Chances
pontuais, estendidas, de toda forma repetindo-se, quase nunca sempre únicas. E não
as aproveitamos. Deixamos de experimentar, deixamos de conhecer. De aprender, de
sorrir. Amar, viver. Quando abandonamos estas chances que surgem em nosso
caminho, alguns de nós atribuímos aos próprios fantasmas particulares, que
volta e meia nos assustam e impedem de tentarmos, de aproveitarmos tais chances. Eu desisti
de ligar para ela. Alguém bateu três vezes em seu quarto nesta última madrugada?...
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