terça-feira, 18 de novembro de 2014

FORMATO in FINITO




Havia pouca gente naquela vila. Quase ninguém. Uma vila adjacente à cidade dos homens, campos das mulheres, montanhas de pessoas. E por ser assim, praticamente um deserto de concreto e neon, é que já não fazia mais sentido permanecer por ali. Era preciso um fato novo, uma experiência, um desafio. Algo que transcendesse, que libertasse. Mas os sujeitos hesitam muito em abandonar o passado, chamando-o equivocadamente de presente, coisa tradicionalmente hereditária, cultural, costumeira, de resistir bravamente até o fim, como se houvessem outros inimigos num front cujo oponente é uma outra parte de si mesmo. Um conservadorismo motor correndo nas veias latinas de ser usurpado pelo destino mais forte. Um protocolo, talvez. Então há momentos na vida em que se faz necessário quebrá-lo, em mil pedacinhos acrescentados ao pó da estrada, rompendo laços físicos sem mexer na emoção, bomba de hidrogênio. De porte de uma habilidade manual precisamente cirúrgica, fez as malas, poucas malas. Nas malas da alma, não cabe quase nada além de algumas mudas de consideração, trouxas de moral, sacos de virtudes, pastas de aprendizado e pilhas de esperança. Pronto, a bagagem está completa, é hora de partir. O espírito vai na frente, bem adiante, abrindo o caminho e mandando notícias, dos dois mundos temporais, tentando alcançar um verdadeiro presente. Para quando o corpo chegar, não mais se surpreender com solidões ao lado, silêncios ao fundo e perspectivas em lugar nenhum... 


 "Home" / Daughtry 



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