ALELUIA,
GRETCHEN
Então,
ela resolveu ir embora. Não entrou, nem viu direito, mas já concluiu sobre a
terra desconhecida. Dessas decisões tão instantâneas quanto os produtos
alimentares para quem é destituído de metodologia, disciplina. Ela que
desfilava palavras, histórias, ensinamentos, que passaram feito independência
na deserta avenida de minha companhia. Ainda bem que eu não estava no palanque.
Jamais construí um, ficaria tão alto que despencar de lá seria fatal. Pessoas
arrebentam-se no próprio chão, coladas ao solo dos problemas em seus caminhos
não outorgados, mas com ingerências mil, as quais partem daqueles que têm precisão futurística, profetizando o que é bom ou mau para quem quer que seja, feito videntes em caravana para Altamira. Distante num sentido e próximo noutro, posso analisar com
frieza mais gélida do que a utilizada por ela em nossos poucos dias de
descobrimento abortado, ateia catequese morta sem bandeiras. Meu aprendizado é
mesmo de causar orgulho, diante da cautela preventiva que mantenho nas mais
diversas situações cotidianas, de um telefonema a uma visita, de um contrato a
uma exposição, de uma música a um livro, de um olhar a um abraço, de um
coleguismo a uma amizade até suspender-se tudo nesta, é o meu limite. Sentimentos
afetivos, são coisas tão nobres que deveriam permanecer incólumes como as
pérolas das ostras, os tesouros naufragados, diamantes brutos na natureza,
flora e fauna também. Mas pessoas comportam-se tão defesas hoje em dia, que
perguntar sobre elas para elas mesmas, parece ofensivo, imoral, danoso. É a tal
invasão de privacidade tomando conta de uma simples vontade de conhecer alguém,
saber como é a pessoa, quais as cores do seu presente mundo particular, seus gostos, paladares, cheiros, músicas, autores, artistas, vontades, futuros, sem qualquer referência a passados, tenho aversão à reminiscências. Ser verdadeiro incomoda,
machuca, afasta, sentencia que eu sei. Melhor ser fútil, distanciado, ignorante. Seco,
mal-educado, inerte. Mentiroso e frio, excessivamente frio...tem gente que gosta disso. Penso
que há uma grande confusão atual nas relações humanas, em função de tanta
virtualidade dominante. Ninguém conversa profundidades nas redes, e isso parece
ter virado norma migrada para os encontros pessoais. Todos boiando sobre as
águas da chuva ácida das metrópoles, no maravilhoso mundo submarino de Netuno,
icebergs de concreto, ferro e aço abatem verdadeiros Poseidons, mal conduzidos
pelos seus capitães de cimento. Abra sua janela, que sua casa nem precisará ser visitada, não será revelada, mas verá sua planta desenhada no juízo dos precipitados. Regina recolheu-se, silenciou e partiu sem
despedidas, a forma mais omissa de dizer adeus. Soube por um terceiro, que “ela
queria ficar sozinha”, como se eu tivesse proposto ou sugerido alguma coisa em
comunhão, os tais "compromissos sociais" que os codificadores plantonistas das aproximações entre os pares adoram rotular. Novamente, outra amizade expelida prematuramente do ventre e minha voz é emudecida. Não sofro por isso, apenas algumas gotas de indignação caem do meu beiral em forma de letras sobre meus dedos, mas penso que a humanidade sim. E entristece a cada elo que se desfaz em sua natureza. Minhas
certezas brotam mais uma vez em meu jardim de raciocínios, praticamente lotado, pois ausente é de espaços para a fé naquilo que não viria mesmo, eu não me afasto dos sinais. Sem qualquer ressentimento, que os bons ventos a acompanhem aonde quer chegar: 'ein prosit'. E que neste caminho não mais acusem erros relacionais, apontando com exatidão alguém que caiba nos moldes e padrões pré-estabelecidos em sua ideia ou na cartilha de seu guia social. Vou mesmo é para o litoral, porque as balas do faroeste caiçara - e se houverem - não
ricocheteiam no mar. Lá, eu perguntaria a um guru praiano, qual a razão de
mulheres tão bonitas estarem sozinhas ultimamente. Talvez ele me respondesse
que a beleza também é um paradigma e, como tal, necessita ser transposto; então elas não sabem lidar direito com suas riquezas, no sentido dinâmico do porvir. Mas,
para onde vamos, eu não quero saber. A antecipação da vida, bem como o seu controle
medicamentoso, trocando de lugar na sequencia da frase, são antônimos do lema
da bandeira nacional: a escassez de boa civilidade, dá o tom sépia àquilo que eu
queria chamar de espetáculo e tanto poder desfraldar...
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