segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Eu, por mim mesmo



A ROSA DOS MEUS VENTOS 
Há muito que reconheço, minha não naturalidade em relação ao óbvio, ao comum, ao costumeiro. Todos são diferentes, é sabido, mas eu beiro a excentricidade das existências. Não faço questão de ser assim, é apenas o meu jeito de viver, de amar ou não as coisas, de (não) me relacionar com as pessoas. Tenho uma visão ímpar do mundo, um mundo doutrinado a ser par. Pelo dogma de ter polos, rito de ser simples, simbologia de ter que amar alguém. Um mundo ocidental demais para meu norte visionário, para o meu sul de profundidades, reflexões e comportamentos. Sou um anarquista social das relações humanas, só pelo fato de buscar nelas a essência dos seres, longe da superficialidade dos cotidianos banais, de suas etiquetas e dos bons modos, das cartilhas da normalidade. De tão distinto cavalheiro, minha catarse é a escrita. Por isso eu não gosto de me ater aos textos, desejo encontrar sua inspiração. É porque eu não quero apenas ver as flores, desejo sentir o seu perfume. Eu não admito somente ouvir notícias, tenho que contextualizá-las. Não me sacio em beijar bocas, quero sorver salivas. Não me satisfaço em tatear corpos, objetivo trazer à tona seus carinhos, alegrias, cócegas, calores e orgasmos. Tudo isso e muito mais do meu universo, afasta estelarmente outros mundos deste mesmo cosmo. Sempre foi assim, e há aprendizado meu consolidado nesse sentido. Meus valores nem são tão desiguais dos outros, mas meus interesses em cultivá-los sim. Minha luta pela sua prevalência, meu respeito pela sua manutenção, meu cuidado em praticá-los. Digo por aí que é a minha verdade, aquilo que eu deveria chamar de meu jeito. Em razão disso, sou interpretado como felino, como albino, como menino. Há um choque quase anafilático em cada nova relação, matando o elo e sobrevivendo as partes, espacialmente divergentes. A falta de empatia é soberana, em terra de crise de identidades conflitantes. Eu só queria que as amizades florescessem, sem as sombras das palavras tímidas, sem a aridez dos gestos envergonhados, sem a frieza das omissões, dos silêncios e da não reciprocidade. Eu só queria música, conversa e cafuné. Mas as pessoas concluem dança, sentimento e compromisso. Então me chamam de ansioso, complicado, ininteligível, pela conexão que não conseguem estabelecer entre minhas palavras e meus atos com a interpretação que elas fazem da vida em geral, como se eu tivesse culpa de não ser e estar feito a maioria, quando diante de algo importante, como um momento ou um lugar. Um urso branco na floresta, um pinguim no equador, tubarão do asfalto, pássaro em cavernas, quaisquer analogias cabem para demonstrar minha ectópica sobrevivência. Levo não comigo os estigmas do exagero e do radicalismo, que sempre terminam em silêncio e desprezo. Eu só pensava em sorrir, em reação à beleza. Só porque eu queria investigar a causa humana, não apenas restar nas consequências da espécie. Coisa toda que não me abala, apesar da indignação. Que não me cala apesar da desesperança e que não me cega apesar do nada. Parei de ter fé no amor, por ter aprendido que não combino com ninguém, e vice-versa, (cons)ciência. Quanto mais descrente fico nas coisas da sociedade, mais eu creio na minha poesia, ao som de minha música, vivenciados no cantinho do meu ser, onde mora minha emoção. E é justamente esta sensibilidade estrangeira que me torna um apátrida social, no meio ambiente em que todos sobrevivemos. Não me preocupa a solidão, nem me entristece a ausência de uma companheira. Porque não são estas coisas que me fazem acreditar nos dias melhores. Continuarei sem ser compreendido, sem ter chances de me explicar, sem ser ouvido, querido ou amado pelos cruzadores do meu caminho. E não sinto vergonha em repetir a mesma música, nem de ler mais vezes o mesmo livro, se eles me são fundamentais. A minha felicidade está bem longe da concepção alheia do quorum tradicional de felicidades: ela simplesmente se encontra no exercício desta minha essência. Tenho duas filhas. Tenho dois cães, três projetos, quatro hobbies, cinco amigos, seis sentidos, ene colegas, nenhum amor e um só destino: o mar. Nessa imensidão de navegar assim, essa é a rota que escolhi para mim. Não emprestei de ninguém alguma outra forma de ver a vida: dou-lhe cores e direções que concebo, porque é mesmo minha, a rosa dos meus ventos... 



 "SÓ" 
 - OSWALDO MONTENEGRO - 




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