A ROSA DOS MEUS VENTOS
Há
muito que reconheço, minha não naturalidade em relação ao óbvio, ao comum, ao
costumeiro. Todos são diferentes, é sabido, mas eu beiro a excentricidade das
existências. Não faço questão de ser assim, é apenas o meu jeito de viver, de
amar ou não as coisas, de (não) me relacionar com as pessoas. Tenho uma visão
ímpar do mundo, um mundo doutrinado a ser par. Pelo dogma de ter polos, rito de
ser simples, simbologia de ter que amar alguém. Um mundo ocidental demais para
meu norte visionário, para o meu sul de profundidades, reflexões e comportamentos.
Sou um anarquista social das relações humanas, só pelo fato de buscar nelas a
essência dos seres, longe da superficialidade dos cotidianos banais, de suas etiquetas
e dos bons modos, das cartilhas da normalidade. De tão distinto cavalheiro,
minha catarse é a escrita. Por isso eu não gosto de me ater aos textos, desejo
encontrar sua inspiração. É porque eu não quero apenas ver as flores, desejo
sentir o seu perfume. Eu não admito somente ouvir notícias, tenho que
contextualizá-las. Não me sacio em beijar bocas, quero sorver salivas. Não me satisfaço
em tatear corpos, objetivo trazer à tona seus carinhos, alegrias, cócegas, calores e orgasmos. Tudo isso e muito mais
do meu universo, afasta estelarmente outros mundos deste mesmo cosmo. Sempre foi
assim, e há aprendizado meu consolidado nesse sentido. Meus valores nem são tão
desiguais dos outros, mas meus interesses em cultivá-los sim. Minha luta pela
sua prevalência, meu respeito pela sua manutenção, meu cuidado em praticá-los. Digo
por aí que é a minha verdade, aquilo que eu deveria chamar de meu jeito. Em razão
disso, sou interpretado como felino, como albino, como menino. Há um choque quase
anafilático em cada nova relação, matando o elo e sobrevivendo as partes, espacialmente divergentes. A falta de empatia é soberana, em terra de crise de identidades
conflitantes. Eu só queria que as amizades florescessem, sem as sombras das palavras
tímidas, sem a aridez dos gestos envergonhados, sem a frieza das omissões, dos
silêncios e da não reciprocidade. Eu só queria música, conversa e cafuné. Mas as pessoas concluem dança, sentimento e compromisso. Então me chamam de ansioso, complicado,
ininteligível, pela conexão que não conseguem estabelecer entre minhas palavras
e meus atos com a interpretação que elas fazem da vida em geral, como se eu tivesse culpa de não ser e estar feito a maioria, quando diante de algo importante, como um momento ou um lugar.
Um urso branco na floresta, um pinguim no equador, tubarão do asfalto, pássaro
em cavernas, quaisquer analogias cabem para demonstrar minha ectópica sobrevivência.
Levo não comigo os estigmas do exagero e do radicalismo, que sempre terminam em
silêncio e desprezo. Eu só pensava em sorrir, em reação à beleza. Só porque eu queria investigar a
causa humana, não apenas restar nas consequências da espécie. Coisa toda que
não me abala, apesar da indignação. Que não me cala apesar da desesperança e
que não me cega apesar do nada. Parei de ter fé no amor, por ter aprendido que
não combino com ninguém, e vice-versa, (cons)ciência. Quanto mais descrente fico nas coisas da
sociedade, mais eu creio na minha poesia, ao som de minha música, vivenciados no cantinho do
meu ser, onde mora minha emoção. E é justamente esta sensibilidade estrangeira
que me torna um apátrida social, no meio ambiente em que todos sobrevivemos. Não me
preocupa a solidão, nem me entristece a ausência de uma companheira. Porque não
são estas coisas que me fazem acreditar nos dias melhores. Continuarei sem ser compreendido,
sem ter chances de me explicar, sem ser ouvido, querido ou amado pelos cruzadores do meu caminho. E não sinto
vergonha em repetir a mesma música, nem de ler mais vezes o mesmo livro, se eles me são fundamentais. A minha felicidade está
bem longe da concepção alheia do quorum tradicional de felicidades: ela simplesmente se
encontra no exercício desta minha essência. Tenho duas filhas. Tenho dois cães, três
projetos, quatro hobbies, cinco amigos, seis sentidos, ene colegas, nenhum amor e
um só destino: o mar. Nessa imensidão de navegar assim, essa é a rota que
escolhi para mim. Não emprestei de ninguém alguma outra forma de ver a vida: dou-lhe
cores e direções que concebo, porque é mesmo minha, a rosa dos meus ventos...
"SÓ"
- OSWALDO MONTENEGRO -
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