TERRA do AMANHÃ
Diz a lenda que, num lugar bem distante
daqui, em época indefinida, havia um reino chamado Terra do Amanhã. Lá, a vida
corria de modo agitado, mas sonoramente normal, o dias sendo levados por harpas e cravos em modernas cameratas, e as noites no embalo das serestas pelas cítaras e pífanos do futuro. Seu povo
achava-se sempre à frente do próprio tempo, fazendo da modernidade o impulso
que os movia ao trabalho e ao respectivo desenvolvimento. Tudo aquilo que fosse
antigo, era prontamente descartado, posto que a substituição das coisas era a principal
característica imanente do comportamento da população, ávida pela superação do
presente. Comunicavam-se por sinais, através de aparelhos estranhos, suficientes
para ignorar o espaço em prol do ganho de tempo, tornando as relações humanas
substancialmente impessoais. Acreditavam que o progresso da civilização não
suportava encontros presenciais, pois sua cartilha preconizava a vida virtual,
suficientemente capaz de gerar dias melhores. Cega, aquela sociedade não
percebia que, quanto mais desenvolvida, mais valores perdia pelo caminho mal
trilhado, como virtudes que, não cultivadas, sucumbiam diante das intempéries decorrentes
da inversão desses próprios valores. Mas um dia tudo mudou, porque todo
descaminho, por mais alienante que possa tornar, não consegue esconder a existência e a consequente soberania de uma flor. Esta flor, naquele país, estava
representada na pessoa de uma mulher. Uma linda mulher que distribuía cores por
onde passava, as cores da vida de verdade, uma espécie de resgate. Tão distinta
do resto do povo, que eles começaram a venerá-la, em função do contraste entre aquilo que ela relevava e o que os costumes vigentes determinavam
como certo. A grande maioria não sabia por que, mas sabia que ela era
importante. Estes, sentiam algo que dela emanava, mas não eram capazes de
reconhecer o que seria, pois foram antes convertidos para outros pensamentos, outras
formas de viver, conviver e existir. Foi então que ela se destacou, por trazer a atenção, o questionamento e a reflexão. De tal modo
que, absorvendo a luz fluente de sua natureza, pelo contacto à sua maneira através de
palavras, pensamentos, gestos e sugestões, aquele povo, enfim desperto, a
elegeu Rainha.
Uma Rainha sem reinado, porque não havia
monarquia. Uma Rainha sem príncipe, porque sua missão era coletiva. Mas uma
Rainha com diamantes, figurados na forma de mensagens. Uma Rainha com uma coroa, esplendorosamente
ornada em sua aura azul. E uma Rainha com amor, revelado no sorriso de seu
olhar. Muitos se tornaram seus súditos, mas poucos entraram em seu castelo. Seu
castelo era feito de sonhos, e localizava-se no fim de uma estrada chamada
Caminho da Fé. Todo aquele que se pôs a caminhar até lá, deu-se por feliz. Pôde
observar, no trajeto, plantas ornamentais e árvores estrondosas, rios sinuosos
e cachoeiras refrescantes, pradarias, montanhas, vales, lagos e tantas outras
belezas de fauna e flora, característicos de um verdadeiro paraíso. Mas ao chegarem no fim da estrada,
descobriram que não havia castelo. Assim
como vieram a saber que, por terem caminhado, já tinham realizado cada um o seu sonho. A
Rainha, apenas havia lhes sugerido o caminho ou a atitude, fazendo as pessoas (re)começarem,
distribuindo para isto o instrumento da esperança, disfarçada naquelas lindas cores trazidas por ela, em flor.
E a lenda termina contando que, a cada lágrima rolada no rosto de um cidadão
daquele povo, despontava feito reflexo, uma réstia da luz emanada da Rainha. Porque uma
lágrima, mesmo quando vem de alegria, representa o momento em que a consciência
é banhada pelas águas do coração. O coração, manancial de emoções que devem orientar as
nossas razões. A Rainha, deixou-lhes este ensinamento como legado: “para o
amor, falta pouco: acredite.” Eu, o narrador desta fábula, visitei o castelo.
Nunca vi a Rainha, mas sou absoluto em afirmar que ela realmente existe. Não
fosse ela, não haveria o que contar. Não saberíamos que estar no caminho,
significa amar. Ou então desconheceríamos a beleza da vida e suas respectivas sensações. Sem ela, não haveria estrada. Nem mesmo esperança. Tão pouco a
missão. Muito menos o sonhar...
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