O INTERVALO DA NOITE
Com quantos travesseiros você
dorme, oh bestial criatura? Seria um número plural destes que costumam apontar
as direções em sua vida? Ou repousa seu crânio na clássica horizontal, por não
ter um sonho definido? Cobre-se com o manto fino da vergonha, a evitar o vento gélido
que corta suas noites sem luar. Às madrugadas, vive o êxtase solitário em
decorrência dos descaminhos diurnos, ausentes de convivência humana. Abraça carinhosamente suas vestes, por trazerem o calor que não vem de outrem, apenas exalado é pelo
seu inútil suor proveniente da sempre indigestão. Sem percorrer o mundo lá fora, vaga sobre a cama uma
existência tão fútil quanto sua narrativa, pobre ficção para quem lê, surrealidade ante eventuais olhares e dor que ninguém sente. Um corpo suspenso no sereno, cujos
movimentos trôpegos assemelham-se aos marsupiais, seres ilusoriamente protegidos
por um espaço no tempo, que há de vingar. Oh, ente das trevas, amanheça seus dias
antes que o solstício em seu pensamento, transforme em aridez toda e qualquer réstia
de esperança que ainda jaz em seu coração beduíno. Mas só banhe-se em alegria,
depois de fazer do seu ofício moral, um manancial de glórias, merecimentos e justiça.
Assim como todo ser latente, tem você os instrumentos, bastando empunhá-los com
destreza, para ter ao menos a noção daquilo que um dia possa vir a ser, a felicidade por maestria. Age logo, bastardo de sua própria natureza, modificada pelo efeito contuso do vórtice das coisas que ainda não fez...
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