quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

AUTORALLIA << O Intervalo da Noite / por B. Azeredo



O INTERVALO DA NOITE  
Com quantos travesseiros você dorme, oh bestial criatura? Seria um número plural destes que costumam apontar as direções em sua vida? Ou repousa seu crânio na clássica horizontal, por não ter um sonho definido? Cobre-se com o manto fino da vergonha, a evitar o vento gélido que corta suas noites sem luar. Às madrugadas, vive o êxtase solitário em decorrência dos descaminhos diurnos, ausentes de convivência humana. Abraça carinhosamente suas vestes, por trazerem o calor que não vem de outrem, apenas exalado é pelo seu inútil suor proveniente da sempre indigestão. Sem percorrer o mundo lá fora, vaga sobre a cama uma existência tão fútil quanto sua narrativa, pobre ficção para quem lê, surrealidade ante eventuais olhares e dor que ninguém sente. Um corpo suspenso no sereno, cujos movimentos trôpegos assemelham-se aos marsupiais, seres ilusoriamente protegidos por um espaço no tempo, que há de vingar. Oh, ente das trevas, amanheça seus dias antes que o solstício em seu pensamento, transforme em aridez toda e qualquer réstia de esperança que ainda jaz em seu coração beduíno. Mas só banhe-se em alegria, depois de fazer do seu ofício moral, um manancial de glórias, merecimentos e justiça. Assim como todo ser latente, tem você os instrumentos, bastando empunhá-los com destreza, para ter ao menos a noção daquilo que um dia possa vir a ser, a felicidade por maestria. Age logo, bastardo de sua própria natureza, modificada pelo efeito contuso do vórtice das coisas que ainda não fez... 


Nenhum comentário:

Postar um comentário