domingo, 17 de fevereiro de 2013

AUTORALLIA << Bendegós / por Neruda Paulífero




BENDEGÓS
Seu corpo celeste, vaga em desatino por um universo indefinido. Queria romper alguma atmosfera, para incandescer aos olhos de alguém. Um alguém que concebesse sua chegada, como muito mais do que um simples fenômeno da natureza. Mas, destituído de magnitude suficiente para ser reconhecido, passava longe das angulares de qualquer observatório. Por isto, durante toda a existência, sua trajetória apenas tocava a tangente das órbitas alheias, seguindo adiante sem a oportunidade da visita. Esta vontade de ser cadente, só se manifestava quando diante das raras e involuntárias aproximações astrais. Superadas, sempre foi hora de partir, nunca permanecer. Então, o céu para ele era a estrada, sob um árido deserto cheio de estrelas. Cada planeta possível, uma sentença contrária. Guardava como consolo, a infinitude da via láctea. Ou seja, uma escuridão que não mostrava os horizontes, porque eles não existiam. Um quasar forasteiro, só fazia desviar dos satélites, artifícios dos homens, num caminho sem destino. Isto significava vagar pela vida, e ele nunca soube que tinha por dever, ir em sua própria direção. Dizia que possuía energia, mas não houve alguém que a identificasse, como se fosse luz. Esta é a razão pela qual ele não passa de um mero corpo celeste, que vaga em desatino por um universo indefinido. Seu espaço, habitat eternamente espacial. Mas a utopia de se chegar ao solo, jamais deixará de fazer parte da história de quem ousa sonhar..



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