sábado, 2 de fevereiro de 2013

AUTORALLIA << Taças Falsas / por Bertold Brown




TAÇAS FALSAS
A dor abdominal interrompeu aquela outra noite sem sonhos. Fruto podre de uma alimentação esparsa, novamente serviu-se de ácidas taças do próprio suco a banhar seus terminais sensitivos, depurando aquilo que jamais prestaria. Autofagia moral, naquele mundo sem mesas nem convidados, a festa singular prosseguia pela madrugada como se o breu fosse o avesso do organismo. Para que toalhas, se já não há nada a servir, sobre pratos e talheres inúteis e trancafiados como seu sentimento. É a transformação em sinais, a qual todo ser mutante deve sofrer, um estágio terreno a ser transposto, assumindo em breve outra forma de viver. Sem arrependimentos, a normalidade em ora mal digerir, ora regurgitar aquilo que vem à boca da alma. Findo o encontro noturno, é hora de nova chance despertar o dia, para todo homem que abraça o seu destino, sem fazer de qualquer substância, um instrumento de fuga para longe dali, ou seja, para lugar nenhum. Os segundos ardem, os minutos queimam, as horas ferem, mas o tempo não deixa de formar a cicatriz. A cura, é tão próxima quanto o rubor. Basta ter a consciência de que todo alimento espiritualmente impróprio, pereceu nos dias antes do ontem.


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