A FLOR QUE NÃO SABIA SUA COR
Ser
uma flor lhe bastava. Desatacava-se naquele jardim suspenso, vivendo sob costumeiros
elogios. Então ela cultivava opiniões alheias como se fossem o alcance de seus limites. Também
porque a natureza verdadeira não admite espelhos. Coitada, seu referencial
estava deslocado de seu próprio centro. Achava que ela era, podia ser ou representara, apenas aquilo que
vinha das palavras ao seu redor. Mesmo assim, curtiu dessa maneira por toda a
vida. Até que um dia, apareceu subitamente naquele jardim de seu tempo, um determinado passageiro. Veio do nada, nada pediu e nem permaneceu, mas apontou-lhe a direção do
caminho para o tudo. Entretanto, foi o medo diante da eminente felicidade que a
fez retroceder. Reconheceu nele o complemento de seu destino. Pois somente ele lhe
diria, em forma de carinho e companhia, tudo sobre a sua verdadeira cor. Algo
fundamental, dessas coisas que a gente urge, por nós mesmos. Mas do seu silêncio fez-se a chuva, permanecendo a bela flor sob o tênue abrigo dos hábitos, um espaço de olhares e frases sempre comuns, porém distante de sua própria essência, então desprotegida sua beleza. Porque ela escolheu restar ali, e de sua cor prosseguir sem nada saber...
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