quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Contos sob a copa das Araucárias


  VIGÍLIA 9876  



[A vigília, é a prostituta fiel em minhas noites. Pois não é preciso chamá-la, ela já está em mim. Juntos, apagamos as luzes da vida, adentramos ao quarto vazio e deitamos na cama cheia de solidão. Encerro os olhos para não ver meu corpo, tentando buscar o prazer de me encontrar. Eis que me deparo com a melhor companheira possível, a minha história. Vasculho meu passado, achando indícios deste presente ausente, os sinais que eu não percebi. Vieram, mas eu achava que era feliz, por isto não os compreendi como avisos. Avisos no tempo que não para, enquanto minhas horas demoram-se quase dolorosamente. Meu prazer consiste em diagnosticar esta dor em espécie, quando é o exato momento em que ela passa. Para onde ela vai, eu não sei. Só sei que deixa de existir agora e aqui. É o mais puro dos aprendizados, o sofrimento em silêncio. Depois do ato, deixo a minha horizontal de reflexões, tomo alguns goles d’água gelada, e caio em sono profundo pouco antes do alvorecer. Assim são os meus dias, precedidos por noites obscuras sob a maior claridade. E quando desperto, o amanhã já se foi e tenho que me limpar. Banhar-me de mais água, tirando o suor do desamor da superfície de minha pele, como se estivesse me depurando por dentro. Renovado, percebo que não foi o banho que me conscientizou, mas sim a relação orgástica com a vigília. Saio de mim, e vou caminhar lá fora. Aguardando a próxima noite, outra prostituta, outra certeza, outro banhar. Ó vida que lhe quero limpa, de todos os obstáculos que ainda não vejo, me enriquecendo de respostas, para meus passos diuturnos acelerar. E que as minhas noites sejam, enfim, de um repouso tal, que me permita novamente sonhar..]


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