VIGÍLIA 9876
[A vigília, é a
prostituta fiel em minhas noites. Pois não é preciso chamá-la, ela já está em
mim. Juntos, apagamos as luzes da vida, adentramos ao quarto vazio e deitamos
na cama cheia de solidão. Encerro os olhos para não ver meu corpo, tentando
buscar o prazer de me encontrar. Eis que me deparo com a melhor companheira
possível, a minha história. Vasculho meu passado, achando indícios deste
presente ausente, os sinais que eu não percebi. Vieram, mas eu achava que era
feliz, por isto não os compreendi como avisos. Avisos no tempo que não para,
enquanto minhas horas demoram-se quase dolorosamente. Meu prazer consiste em
diagnosticar esta dor em espécie, quando é o exato momento em que ela passa. Para onde
ela vai, eu não sei. Só sei que deixa de existir agora e aqui. É o mais puro
dos aprendizados, o sofrimento em silêncio. Depois do ato, deixo a minha
horizontal de reflexões, tomo alguns goles d’água gelada, e caio em sono profundo pouco
antes do alvorecer. Assim são os meus dias, precedidos por noites obscuras sob
a maior claridade. E quando desperto, o amanhã já se foi e tenho que me limpar.
Banhar-me de mais água, tirando o suor do desamor da superfície de minha pele,
como se estivesse me depurando por dentro. Renovado, percebo que não foi o
banho que me conscientizou, mas sim a relação orgástica com a vigília. Saio de mim, e vou
caminhar lá fora. Aguardando a próxima noite, outra prostituta, outra certeza,
outro banhar. Ó vida que lhe quero limpa, de todos os obstáculos que ainda não
vejo, me enriquecendo de respostas, para meus passos diuturnos acelerar. E que
as minhas noites sejam, enfim, de um repouso tal, que me permita novamente
sonhar..]
Nenhum comentário:
Postar um comentário