segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Contos sob a copa das Araucárias

A  CHUVA  e  o  ÊXTASE



E ela apressadamente saiu de vestido fresco na iminência da chuva. Mas na verdade, desejava ardentemente uma tempestade. Um motivo qualquer se transformou em argumento para ela lançar-se no seu mundo, apenas com uma porção de tecido sobre seu corpo teso. Sem peças íntimas, o vento precedente já eriçava seus mamilos deixando-os plasticamente visíveis. E ela caminhava, lentamente, aguardando o temporal. Entrou na farmácia, comprou algo insignificante e voltou à calçada, o chão certo sob as nuvens queridas. Diminuiu ainda mais o passo, e começou a sentir os primeiros pingos, que começaram a trazer excitantes sensações ao tocarem seu organismo. Não veio o temporal, e sim o suficiente para que ela se encharcasse a gosto de Deus. Abriu o sorriso, certa de que abriria seus pequenos lábios em questão de segundos. Um suspiro, ela começava a regozijar. Sentia-se fiel integrante da natureza animal, com toda a racionalidade que o prazer lhe proporcionava. As mãos livres, abraçou a si mesma, encostando os antebraços nos seios duros. Um arrepio fulminante percorreu a sua coluna vertebral, como um raio saindo da terra em poças. Suas coxas, já molhadas, roçavam uma na outra pelo caminhar delicado. A água que a banhava parecia um festival de línguas lambendo todos os seus poros. E o êxtase se aproximava, à medida em que a chuva penetrava sua pele, tocando na superfície coberta de sua alma. A rua deserta, para ela, mas cidadãos passavam nos automóveis, ônibus e a pé. Sozinha em seu universo, não resistiu e encostou-se numa árvore central de uma pequena praça. Pela primeira vez olhou em volta, certificando-se de que não havia ninguém. Tirou os sapatos, seus pés sobre a grama entrelaçavam os dedos. Colocou sua mão direita por cima do ventre aberto, debaixo do vestido, enfiou seus dedos indicador e médio na vagina, já umedecida pelo seu líquido. Com o polegar, esfregava o clitóris saliente no púbis nu. Aumentou a velocidade dos movimentos, suas pernas começaram a tremer, roçava as nádegas na árvore sem dor. Sua mão esquerda apertava o seio direito. Lambendo os seus próprios lábios da boca, dedilhando o mamilo, até que veio sua redenção: o gozo. Nunca o clímax tinha sido tão livre. O grito conteve-se na garganta, mas o gemido foi maravilhoso até para aquele que não escutou. Momento sublime, ela botou os dedos na boca e provou de seu próprio gosto. Pronto, havia feito amor com a chuva. Recompôs-se, procurou onde havia largado a sacola da farmácia com aquele produto insignificante. Passou a mão pelo rosto, pelos cabelos, ajeitou os seios ainda atiçados. Foi para casa realizada. Porque ela fazia parte de uma maioria entre as mulheres, as que adoram banhos de chuva. E ao mesmo tempo de uma minoria entre elas: a de não ter medo de amar. Porque o amor parte de atos solitários em direção à felicidade, sendo complementado pela natureza humana. Isso não suporta o medo de ser livre. Ela, tinha coragem de liberdade. O fato narrado não foi o determinante, e sim apenas um dentre tantos exemplos. Exemplo de que ela não tinha medo de amar. Então pode viver outros tipos de êxtase, diferentes de orgasmos. Mas o que ela ainda não sabia, é que ela estava pronta para ser amada. Também nos dias de sol...

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