A CHUVA e o ÊXTASE
E ela apressadamente saiu de vestido fresco na iminência da chuva.
Mas na verdade, desejava ardentemente uma tempestade. Um motivo qualquer se
transformou em argumento para ela lançar-se no seu mundo, apenas com uma porção de
tecido sobre seu corpo teso. Sem peças íntimas, o vento precedente já eriçava
seus mamilos deixando-os plasticamente visíveis. E ela caminhava, lentamente,
aguardando o temporal. Entrou na farmácia, comprou algo insignificante e voltou
à calçada, o chão certo sob as nuvens queridas. Diminuiu ainda mais o passo, e começou a sentir
os primeiros pingos, que começaram a trazer excitantes sensações ao tocarem seu organismo.
Não veio o temporal, e sim o suficiente para que ela se encharcasse a gosto de
Deus. Abriu o sorriso, certa de que abriria seus pequenos lábios em questão de
segundos. Um suspiro, ela começava a regozijar. Sentia-se fiel integrante da
natureza animal, com toda a racionalidade que o prazer lhe proporcionava. As mãos
livres, abraçou a si mesma, encostando os antebraços nos seios duros. Um arrepio fulminante percorreu a sua coluna vertebral, como um raio saindo da terra em poças. Suas coxas, já
molhadas, roçavam uma na outra pelo caminhar delicado. A água que a banhava
parecia um festival de línguas lambendo todos os seus poros. E o êxtase se
aproximava, à medida em que a chuva penetrava sua pele, tocando na superfície
coberta de sua alma. A rua deserta, para ela, mas cidadãos passavam nos
automóveis, ônibus e a pé. Sozinha em seu universo, não resistiu e encostou-se
numa árvore central de uma pequena praça. Pela primeira vez olhou em volta,
certificando-se de que não havia ninguém. Tirou os sapatos, seus pés sobre a grama entrelaçavam os dedos. Colocou sua mão direita por cima do ventre aberto, debaixo do vestido,
enfiou seus dedos indicador e médio na vagina, já umedecida pelo seu líquido.
Com o polegar, esfregava o clitóris saliente no púbis nu. Aumentou a velocidade
dos movimentos, suas pernas começaram a tremer, roçava as nádegas na árvore sem
dor. Sua mão esquerda apertava o seio direito. Lambendo os seus próprios lábios
da boca, dedilhando o mamilo, até que veio sua redenção: o gozo. Nunca o clímax
tinha sido tão livre. O grito conteve-se na garganta, mas o gemido foi
maravilhoso até para aquele que não escutou. Momento sublime, ela botou os dedos
na boca e provou de seu próprio gosto. Pronto, havia feito amor com a chuva.
Recompôs-se, procurou onde havia largado a sacola da farmácia com aquele
produto insignificante. Passou a mão pelo rosto, pelos cabelos, ajeitou os
seios ainda atiçados. Foi para casa realizada. Porque ela fazia parte de uma
maioria entre as mulheres, as que adoram banhos de chuva. E ao mesmo tempo de
uma minoria entre elas: a de não ter medo de amar. Porque o amor parte de atos
solitários em direção à felicidade, sendo complementado pela natureza humana.
Isso não suporta o medo de ser livre. Ela, tinha coragem de liberdade. O fato narrado não foi o determinante, e sim apenas um dentre tantos exemplos. Exemplo
de que ela não tinha medo de amar. Então pode viver outros tipos de êxtase, diferentes de orgasmos. Mas o que ela ainda não sabia, é que ela estava
pronta para ser amada. Também nos dias de sol...
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