DESAMOR
Peço
desculpas aos apaixonados. Peço desculpas aos amantes passionais. Desculpas
extensivas a todos aqueles que sucumbem às agruras do não amor: todos eles, não
sabem nada! Pois só quem viveu a rejeição, o desprezo e a violência muda em
função de um imensurável sentimento não correspondido, é que sabe o que é o
desamor. Este, é a forma de amor que vai, mas não volta. Então, o pior dos
sentimentos. Porque ele não vem de ilusão. Nem de utopia ou de elucubração do
imaginário da solidão. O desamor, é diferenciadamente único. Porque ele existe
livremente em nós, mas no outro ele é contido, preso, amordaçado. De nós,
partiu para o mundo, mas nela, não se permite nascer. É semente sem terra, raiz
sem chuva, broto sem sol, folha sem ar. É filho que chegou sem pais, tal
qual um sonho sem lua, ou pais que foram sem filho. Reconhecemos o infinito
do lado de cá, ao mesmo tempo em que lá, não há distância alguma a percorrer. Até
que um dia, tudo se acaba. Mas como somos parte da natureza, esse dia é quando
tudo se transforma, pois isto nunca se acaba. É quando chegam no vento as
perguntas que jamais terão respostas. É o único momento em que erramos,
atribuindo verdades a algo que não existiu reciprocamente, na vã tentativa de explicar o que não teve nexo. Poderia ser por ela
não ter dado nenhuma chance, por ela não ter se aproximado, por ela não ter
conhecido, por ela não ter convivido. A dúvida, é corpo nefasto que sepultamos
em nós em morada permanente. Vamos embora com uma única certeza: a de que
transformamos aquele sentimento, mas jamais saberemos em quê. Sim, o desamor, neutra alcunha para aquilo que um dia foi o mais belo sentido de nossa vida.
Finados, um dia hei de não lembrar...