Gabão Sem Fronteiras
Eu digo, mesmo que para todo
mundo que não me ouve, que a vida se demora. E o mundo sem me contestar, diz
que não, que ela é muito breve, que o tempo não para, emprestando letra de
música, não fosse jargão popular.
Parece que foi ontem. Uma
gravidez de risco, nefrolitíase conjunto com antibioticoterapia, tu haverias de
nascer em estado melhor possível. Não bastou, foram necessários os
antimicrobianos, tarjas-pretas, com bulas tão amedrontadoras quanto uma ficção
apocalíptica.
Até que, naquele princípio
de feriado nacional, nasceu este rebento via cesariana: um grito às margens do
Brígida, a independência, a emancipação e o alívio, pois viestes em perfeito
estado, sem importar se a nação é imperfeita.
Morena e de cabelos
(posteriormente) lisos, antônimo da irmã Flávia, Gabriela veio ao mundo para
ser rara Gabriela, e não mais uma. Uma bolinha que foi crescendo e nos
absorvendo, sempre em calmaria, parecendo a todo momento navegar em mar de
Almirante. Raríssimos rampantes, como a rejeição à areia da praia em São
Francisco do Sul, onde permaneceu enfurecida dentro de uma canoa fundeada na
beira.
O aniversário de um ano,
comemorado na tranquila pousadinha na Vila da Glória, hoje se interpreta como
anunciação sobre teu sereno e altivo espírito, no sentido de modo e futuro.
Mas eis que tu viraste
cobra, como pode? Pois pôde, em razão do teu destaque dentre tantos na educação
de massa. Troféus que te traziam vergonha no sentido de timidez, preferias o
anonimato. Mas o palco é o teu lugar, inolvidavelmente.
Sim, parece que isto, ou tua
conduta e comportamento, têm a ver com o significado do teu nome, “mulher forte
de Deus”, enfrentando a vida com equilíbrio e maestria.
Recebestes tão cedo, aos
nove anos, um desafio com formato de obstáculo e jeito de transposição
impossível: qual o quê, teu tamanho não era aquele que a idade sugeria. Aos
poucos, iniciastes a compreensão da vida, criando linha de raciocínio que
desenvolveu dimensionalmente tuas interpretações do fenômeno existência humana.
Quem fala contigo hoje,
quando soltas a voz, imagina uns 30 anos dentro de 17. Tentei iniciar-te na
música, tu saberás um dia se vale a pena. Agora, ocupou-se de algo fundamental,
a profissão.
Aquilo que era dúvida, de
repente se transformou em certeza, não demorando a se consolidar o início do
caminho. E que caminho... a busca da cura dos males humanos, coisa para poucos.
Pois são poucos aqueles que veem na saúde, a base de tudo, para o devir. O
resto, a maturidade se encarregará, trazendo-te o aprendizado com as
experiências do enfrentamento, algo que tu sabes fazer bem, com dignidade,
reflexão e precisão.
Ora zen, ora tagarela, é
assim que tu atravessas a passarela do teu tempo. Nem a fama nem as pompas, o
que te vale é tua essência, anônima e modesta. Terreno para uma boa construção
de teus valores, quiçá sempre atualizados, reciclados, reforçados e defendidos
perante eventuais obstáculos, até os que pareçam intransponíveis.
Meu orgulho se repete, dando
vazão à minha vertente de lágrimas cativas, num rio que só eu vejo, só eu
sinto, só eu reconheço, é coisa particular. Mas ele corre, tem seu curso,
direção e trajetos definidos, quem sabe desemboque no mar. Na contramão da
minha glória, eu reconheço e valorizo a conquista alheia, principalmente quando
de minhas filhas.
E se as lágrimas e os
abraços misturados à soluços e lama com tinta não se demonstram suficientes,
recorro a esta correnteza de palavras que formam frases, as quais, tentam,
minimamente, traduzir a emoção que há no leito, do meu peito. É o que sei fazer
direito.
Falando nisso, repito que:
“A Odontologia me trouxe a
noção de espaço. O Direito, de tempo. Das grandezas dimensionais, só
o amor não é precedido pela ciência.”
Então, querida filha, que a
Medicina possa te trazer os instrumentos através dos quais tu poderás não só
prevenir e curar doenças do nosso povo, mas também realizar-te
profissionalmente.
Copiei e colei da homenagem
que fiz para a tua irmã, em momento similar:
"Em momento de festa,
pensa que essa manifestação é um grande bolo de parabéns, e os docinhos vêm a
seguir, em forma de conselhos.
- Não esperes reconhecimento
de ninguém, atribuir valor ao teu trabalho é competência exclusivamente
tua.
- Não esperes ajuda de
ninguém, o teu dever será reflexo somente de tua capacidade.
- Escolhe a critério justo
tuas companhias, pois nem todas estarão lá pelos mesmos motivos (sonho) e
objetivos (realização) teus.
- Dedica-te ao máximo que
puderes à faculdade, para que depois, no exercício da profissão, trabalhes com
sabedoria, segurança e retidão.
- Desenvolve sobretudo
aquilo que chamam de consciência social, pois tua preparação/formação também
será voltada para diagnóstico, tratamento e cura dos menos favorecidos, ou
seja, dos que mais precisam de ti, os cidadãos do mundo.
- Mantém como tua conduta, o
equilíbrio, a serenidade, a humildade e a verdade para com o próximo, sempre
considerando o binômio tempo e espaço, inclusive no tocante ao sigilo
profissional.
- Não desanimes, diante das
novas formas de obstáculos que surgirão em tua estrada: teu conteúdo, congênito
e adquirido, será o instrumento para ultrapassá-los com maestria.
- Lembra que a Medicina é
uma Arte. E como disse Nietzsche, “Temos a Arte para não morrer da
verdade.”
- Estuda a fundo a Ética.
Ela é a maior e melhor condutora dos profissionais no sentido de superação de
todas e quaisquer fronteiras...
Um beijo, saúde, felicidades
e continuidade em teu sucesso.
Eduardo, seu Papão Lixa.
Ps: há mais
valores nestas poucas linhas, do que a nossa vã racionalidade possa
desconfiar...
(o restante, também tens no
sangue)"
Curitiba, 01 a 04 de
novembro de 2019.