Ela se
prepara. Vai ao espelho, se garante – o que não é preciso, poderia ir de qualquer
jeito.
Caminha até
a janela, afasta a cortina. Pronto, ela e o mundo. Alguns trejeitos, o olhar
fatal, e aquele sorriso que nunca acontece, some antes do fim.
As chuvas
de purpurina e glitter são
frequentes, talvez ela pense que algum acessório vai embelezá-la, como se isso
fosse necessário, ou possível.
Ou não, ela
apenas brinca com a imagem.
A rua é pública. Muitos passam por ali. Uns param,
olham e se vão. Outros param, veem e comentam. Sabe-se lá quantos sentem alguma
coisa, não importa.
Mas tem um,
apenas um, que é diferente. Modesto, ele não assume que é especial. Porque as
especialidades necessitam de referências, pares ou ímpares, e ele não é plural.
Nem melhor
ou maior, é um tanto diferente. Distinto, e cavalheiro. Dos antigos, dos valores
antigos.
E nessas
expansões do universo eis que o sentimento, é moderno. Melhor, contemporâneo.
Novo, e já
maduro. Até parece que o destino deixou para depois das experiências, da
sabedoria, do conhecimento, da maturidade daqueles valores, mesmo que tal
qualidade seja relativa para uns, já que a relatividade também é referencial.
Foram as
semelhanças. Estudantis, políticas, literárias, filosóficas. Aquilo que vem de
dentro e ele reconhece, muito. Identificação.
Mas tem
outro elemento magnético que o atrai sem juízo, mas também sem pecado.
O jeito
dela.
Mesmo bom
escritor, ele não consegue conceituá-la. Claro, porque não a conhece.
Corajoso,
tenta fazê-lo. Dotado de respeito e desejo, conhece o seu lugar.
Não se
arrisca, sabe por quê? Pois não é aventura, não é caça, não é inconsequência nem loucura.
A sensação
que ele tem quando a vê, é mesmo transcendental.
A sua
plástica, beira a perfeição. O cabelo chanelzinho, os olhos coloridos, os
traços do rosto, a tez da pele, o contorno dos lábios, o pescoço...parece
porcelana. Mas não de Campo Largo. Talvez da terra dos ancestrais dele, a
França, como sugeriu o Google. Limoges, isso?
Ele se
sente tão bem, que é capaz de imaginar um convívio. Risadas, ação, viagens,
noite, música, dia, amor e selvageria.
Mas ele
para, toda imaginação tem seus limites: a racionalidade.
Mundos semelhantes,
gerações diferentes, ele não merece tanto.
Passada a
chuva, ele desliga o aplicativo.
Interrompe
o sonho.
E volta
para casa da realidade.
Mesmo com
tanta certeza da tal felicidade, ele age como uma pessoa humana .
Uma pessoa
humana contemplando a lua.
Alguém que
ele nem pôde imaginar que existiria.
Que ele
nunca viu.
Mas sentiu.
Sentiu um
princípio, uma chance.
E que, por
fim, deseja toda a felicidade do mundo para aquele que teve pelas mãos do
destino,
A companhia
de alguém chamada Silvia.
Não me
incomoda a insônia
Assim que
levanto,
Sinto-me
abraçado a uma determinada existência
Um conforto
Um carinho
imaginário que só a loucura tem
De sentir,
sem ser amado por alguém...
A cada surgimento teu
Roubo como se fosse meu
Atiro-me no espaço
Abraço-te
e te levo para o cativeiro
um canto do peito
onde eu te dou colo a imaginar
o outro lado do teu luar..
Ana Canas - "Esconderijo"
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